FIGUEIRA DA FOZ — Não só Novak Djokovic esteve perto do Grand Slam de calendário. Alina Korneeva, de somente 16 anos, competiu em 2023 pela primeira vez nas provas principais do escalão de sub 18 e após vencer no Australian Open e em Roland-Garros ficou-se pelas meias-finais em Wimbledon, na estreia a competir em relva. E se arrecadar os quatro Grand Slams já teria sido inédito nos juniores, mais duas vitórias em Londres também a teriam consagrado como primeira jovem a vencer os três primeiros ‘Majors’ da temporada. Já de feridas saradas, a russa aponta ao circuito profissional, “passo a passo” e sem olhar para o sucesso meteórico da sua amiga Mirra Andreeva.
Pela primeira vez em Portugal, Alina Korneeva disputou o Porto Open na semana passada, no qual cedeu na segunda eliminatória para a eventual finalista e ex-top 10 WTA Kristina Mladenovic, e de seguida fez uma viagem de cerca de hora e meia para jogar o maior torneio profissional da quase inexistente carreira ao mais alto nível. O Figueira da Foz Ladies Open é apenas o 14.º torneio ‘sénior’, isto somente um mês depois de completar as 16 primaveras.
Ainda assim, nas 13 provas anteriores já somou dois troféus: na época passada saiu vencedora num torneio de 15.000 dólares em Casablanca e este ano amealhou a prova de 60.000 dólares em Pretoria, na África do Sul. O recente sucesso ainda não a possibilitou de entrar diretamente no maior torneio feminino português desde 2014 (100.000 dólares), apesar de ocupar o posto 326 WTA, mas ao somar dois triunfos sem perder sets garantiu um dos 10 bilhetes oriundos da fase preliminar, mesmo que para isso tenha tido necessidade de lidar com o “inesperado” vento, talvez o maior desafio até então.
Mesmo sabendo da limitação de provas em que pode competir devido à idade, Alina Korneeva aponta ao mais alto nível. “Não é fácil passar para os torneios profissionais. Nos juniores é mais fácil ganhar pontos. Aqui ninguém dá nada, todas jogam até ao último ponto. E elas estão mais preparadas para os pontos importantes”, observou em conferência de imprensa após derrotar a suíça Nadine Keller.
E se as conquistas juniores criaram muitas expetativas para o futuro de Korneeva, a russa rapidamente colocou água na fervura. “Estou muito feliz com os resultados deste ano, mas ganhar os Grand Slams juniores não me ajuda no profissionalismo. Tudo o que quero agora é estar no circuito profissional, é tudo o que penso”.
A ida aos Estados Unidos da América para disputar a derradeira prova maior está descartada, até porque o maior objetivo, ingressar no qualifying profissional, não foi atingido e a prova júnior não passa pelos planos. Quem sabe se a ideia seria outra caso tivesse triunfado no terceiro Grand Slam da temporada e batido o recorde de sub 18, mas Wimbledon são águas passadas. “Queria ganhar, mas fui a Londres apenas para tentar o meu melhor em relva porque nunca tinha jogado antes. Fiquei triste, mas agora está tudo bem”.
Não tão triste como Djokovic, também ele com história em vista na relva londrina, disse em jeito de brincadeira. “Não ganhar o 24.º Grand Slam é um problema maior”. O sérvio que é, precisamente, uma das maiores referências da jovem pelo estilo de jogo, mas são Rafael Nadal, pela mentalidade apesar do jogo totalmente distinto, e sobretudo Serena Williams, “por tudo”, quem tem como grandes ídolos.
Ligeiramente mais nova do que Mirra Andreeva, Alina Korneeva bateu a nova coqueluche do ténis mundial na final do Australian Open, em plena Rod Laver Arena. A partir daí Andreeva arrebatou o circuito profissional com 16 triunfos consecutivos, oitavos de final no WTA 1000 de Madrid, terceira ronda (vinda da qualificação) de Roland-Garros e oitavos de final em Wimbledon, também vinda do qualifying. Um sucesso que a catapultou para o 64.º lugar do ranking. Nada que tire o sono a Korneeva. “Não penso no que ela faz. Sei o que tem conseguido, fico muito feliz, mas não me estou a comparar com ela”.
Sem comparações, mas com ambição de agitar o circuito WTA, Alina Korneeva tem agora um dos obstáculos mais difíceis na primeira ronda do Figueira da Foz Ladies Open: Harriet Dart. A britânica é a segunda cabeça de série, fruto do 134.º posto WTA, mas já foi 84.ª em julho de 2022 e é uma das jogadoras mais credenciadas em prova.