“Por amor ao ténis”, Tamira Paszek voltou para fazer o que já foi feito

Rui Costa Freire

Muitas têm sido as histórias evidentes de amor ao ténis. Ainda nesta presente edição de Wimbledon vimos Venus Williams, aos 43 anos, jogar o quadro principal e a ser bastante competitiva, garantindo que a gloriosa carreira está para durar. Menos sonante, mas não menos impressionante, é o caso de Tamira Paszek. Ainda uma jovem de 32 primaveras, a austríaca já foi 26.ª do ranking WTA, atingiu dois quartos de final em Wimbledon e três títulos no circuito principal. Cinco anos depois de várias lesões voltou para pisar novamente os grandes palcos da modalidade.

Tamira Paszek admite: os pensamentos em abandonar o ténis foram inevitáveis. Depois de cirurgias para tratar de amigdalectomia e de sinusites persistentes, uma inflação dos nervos da cara levou quase um ano a ser curada. E, pior, as duas operações surgiram “uma a seguir à outra”. “Foi mentalmente muito duro. Houve muitos momentos de depressão e foi complicado parar, recomeçar, treinar, parar”, lembrou há uns dias em pleno Cantanhede Ladies Open, no qual foi um dos grandes destaques.

De 2016 a 2020, contam-se pelos dedos das mãos os encontros disputados por Tamira Paszek, constantemente num pára-arranca nesses cinco anos. No regresso, o circuito profissional estava a meio gás devido à pandemia e o ranking tinha desparecido por inteiro. Tudo obstáculos só possíveis de superar graças a um “grande amor pelo ténis”.

“Não queria retirar-me com lesões, quero sair nos meus termos. Ainda adoro jogar ténis. Agora, pelo menos, tenho um ranking num nível que me permite jogar alguns torneios maiores. Passo a passo quero voltar aos Grand Slams. É a razão pela qual ainda jogo. Quero voltar para os locais onde estive em toda a minha carreira”, apontou a quatro vezes finalista de provas WTA – troféus em Portoroz (2006, hard court), Québec City (2010, carpet indoor) e Eastbourne (2012, relva), além da decisão perdida em Bali (2008, hard court).

“Às vezes é bom agarrar-me às memórias antigas. Mas noutras ocasiões pode ser uma maldição. Todos me falam do meu melhor ranking e obviamente os tempos mudaram. É preciso muito tempo e trabalho para o ténis regressar para o nível necessário para competir diariamente e semanalmente”. É esse trabalho que diz estar agora a levar dia após dia, sempre a testar o corpo para ver até onde pode chegar.

Para já, Paszek refere estar a “desfrutar do “processo” e aponta a mais anos de competição. “Os 32 são os novos 22. No meu tempo as jogadoras retiravam-se aos 24, 25 anos. Agora podemos jogar até aos 36, 37, 38. Não coloco qualquer pressão em mim própria relativamente ao meu fim”.

A ponte para os palcos maiores tem passado, também, por torneios em solo nacional. “Adoro Portugal, sinto-me confortável aqui. Cheguei a ter um treinador brasileiro [o famoso Larri Passos, antigo técnico do ex-número um mundial Gustavo Kuerten e também, mais recentemente, de João Domingues] e, por isso estou familiarizada com a língua. Adoro as pessoas, a comida, o país…tudo! E tenho boas memórias do antigo WTA do Estoril. É bom regressar”.

Nesta segunda fase da carreira, a austríaca passou pela Quinta do Lago em outubro (cedeu na segunda ronda para a futura campeã Jessica Bouzas Maneiro) e já este ano logrou dois dos três melhores resultados da temporada por cá: em Guimarães ficou pelos quartos de final e no Cantanhede Ladies Open cedeu um passo mais à frente para a eventual vencedora do torneio, a australiana Kimberly Birrell (primeira cabeça de série e 117.ª WTA), num duelo no qual apresentou evidentes dificuldades físicas (indisposição).

O nível de jogo na segunda meia-final de 2023 não foi o desejado nem o adequado para a ocasião, mas o regresso ao top 400 pela primeira vez em cinco anos será uma realidade na próxima segunda-feira – jogou em Cantanhede no posto 422, a anos-luz da posição de outrora. 

A pouca oposição frente a Birrell (6-0 e 6-4) foi apenas um revés no ambicionado retorno de Tamira Paszek, que faz sempre questão de encarar a vida a sorrir mesmo nos momentos mais sombrios. E a maior prova do processo estar no caminho certo surge agora, sensivelmente uma semana depois, novamente em relva sintética, ao ir um passo mais longe e atingir a final em Don Benito. O objetivo imediato passa por levantar o primeiro troféu em quase dois anos, mas o que já foi alcançado anteriormente fica mais perto de se repetir.

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Total
0
Share