As lágrimas escorriam-lhe pela cara quando milhares de espetadores começaram a entoar o seu nome num dos maiores courts do mundo. E não era para menos: Daniel Altmaier, alemão de 24 anos que ocupa o 79.º lugar no ranking, tinha acabado de vencer o melhor encontro dos primeiros cinco dias de Roland-Garros. Os números não dizem tudo, mas ajudam. Jannik Sinner era o adversário, 6-7(0), 7-6(7), 1-6, 7-6(4) e 7-5 foram os parciais, 5h26 a duração desta batalha que levou o Court Suzanne-Lenglen à loucura.
Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros
O duelo titânico entre o alemão e o italiano transformou-se num recital em que a esquerda a uma mão de Altmaier — em muito a fazer lembrar a do seu ídolo Stan Wawrinka — tantas vezes assumiu o papel de solista.
Com muito peso de bola, mas também variação capaz de tirar ritmo e abrir os ângulos, o germânico resistiu, resistiu e resistiu perante um adversário que já tinha ameaçado derrotar no US Open (perdeu em cinco sets).
E com ajuda divina escapou entre a espada e a parede ao salvar o primeiro de dois match points de que Sinner dispôs a 5-4 da quarta partida: o italiano optou mal por um smash para o meio do campo, mas já estava posicionado para executar um volley amortie quando a direita de Altmaier, vários metros atrás da rede, bateu na tela da rede e alterou a trajetória, escapando à raqueta do adversário.
Foi a mais pequena das margens a fazer a diferença, mas de muito mais se fez este encontro extraordinário. Com um total de 122 winners entre os dois, Sinner até foi o jogador que mais pontos ganhantes somou (62 contra 60), mas esteve muito aquem numa estatísitca ainda mais importante: converteu apenas 6 dos 21 pontos de break que criou, deixando escapar três deles no último jogo, em que procurava o contra-break do contra-break.
Entre os aplausos de um público frenético e as lágrimas de quem acabara de assinar a maior vitória da carreira, este encontro entrou para a história de Roland-Garros.
E também abriu ainda mais uma secção do quadro que há dois dias tinha ficado sem o grande favorito, Daniil Medvedev.
Para Altmaier, segue-se um entusiasmante duelo com Grigor Dimitrov, que está em boa forma e no sábado jogou a final do ATP 250 de Genebra.
Mas, primeiro, o alemão tem uma vitória épica a digerir. Tal como quem o viu triunfar.