Era de algo semelhante a um milagre que Arthur Rinderknech (78.º) precisava e o arranque não podia ter sido mais promissor, mas no final a tarefa foi demasiado hercúlea para este francês que carregou no corpo a esperança de uma pátria e no final a deixou sem representantes nos quadros principais de singulares de Roland-Garros. Ao quinto dia, depois de apenas duas rondas.
Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros
No mesmo palco onde dois dias antes venceu um emocionante duelo com o compatriota Richard Gasquet, este francês de nome mais difícil de pronunciar para os não falantes da língua contou, pela primeira vez, com o verdadeiro apoio dos seus compatriotas — que na ronda anterior não esconderam o favoritismo pelo veterano executante da esquerda a uma mão.
Foram muitos os gritos, foram muitos os cânticos e foram muitos os aplausos. Até A Marselhesa se voltou a ouvir no Court Suzanne-Lenglen, mas o ambiente de festa — e hostilidade para o norte-americano — que mascarava o desespero de um povo com fome de cantar por vitórias não foi suficiente.
No final, a teoria impôs-se ao mundo dos sonhos e o norte-americano Taylor Fritz, número oito mundial, assumiu o papel de vilão que despedaça corações ao consumar a reviravolta por 2-6, 6-4, 6-3 e 6-4.
Rinderknech lutou com o que pôde e como pôde por algo que, em teoria, não seria dele. Mas em Roland-Garros, já se sabe, quase tudo é possível quando um francês tem em si a força de uma nação que vive e respira ténis. Só que este não é o ano dos franceses em Roland-Garros, que até nos pares vou cair os seus adorados Pierre-Hughes Herbert e Nicolas Mahut à primeira, e também esta noite lhes escapou, mesmo se até ao fim acreditaram num encore mágico.
No fundo, o primeiro set exigiu de Rinderknech muito do que ele teria para dar nesta noite de quinta-feira. É isso que jogar contra um top 10 significa, a crença a fugir-lhe tao depressa quando surgiu.
Fritz teve, claro, o seu mérito. O norte-americano esteve longe de brilhar, mas depois de um arranque algo apático que permitiu ao jogador da casa inspirar-se foi ele quem carregou no acelerador e, mesmo timidamente, foi agarrando as rédeas do duelo.
O primeiro break do norte-americano só chegou ao 10.º e último jogo da segunda partida, mas cumpriu o seu papel pois nesse timing permitiu-lhe igualar o marcador.
A longa paragem que Rinderknech fez ao recolher aos balneários teve o efeito contrário ao desejado pelo francês e a partir da terceira partida o comando passou a estar nas mãos de Fritz. Com o vento a aumentar e a temperatura a descer (este ano, com um tempo de verão raramente visto de forma tão permanente durante o torneio, é o melhor exemplo de que mesmo nestas condições as sessões noturnas e tudo o que a elas se assemelhe não são uma boa solução em Paris) deixou de haver história.
A consistência de Fritz uma mudança acima da que colocara no arranque encarregou-se de fazer o resto, quase 10.000 espetadores a nada puderem fazer a não ser contribuir para uma saída digna de um compatriota que há muito já sabiam nada ter a fazer para lhes dar outro desfecho.
Os franceses ganham juntos e perdem juntos, por isso Arthur Rinderknech recebeu a ovação que fez por merecer ao despedir-se do Court Suzanne-Lenglen (já Taylor Fritz foi assobiado de forma monumental porque, depois de revelar muita paciência durante o encontro, mandou calar todo o público assim que converteu o match point…).
Mas esta não é uma edição de Roland-Garros que vá ficar na memória dos franceses. E logo em 2023, o ano em que o tema do torneio era a celebração dos 40 anos desde que Yannick Noah se tornou no último francês a sagrar-se campeão em singulares…