PARIS — Esperava-se um Daniil Medvedev cabisbaixo, desapontado por perder à primeira no ano em que chegava mais confiante a Paris, mas aconteceu o oposto: apesar da derrota em cinco sets para o número 172 mundial, Thiago Wild, na primeira ronda de Roland-Garros, o russo respondeu de forma ponderada e paciente às questões de uma conferência de imprensa que teve de ser transferida da segunda, para a primeira e maior sala tal era o interesse mediático. Pode até dizer-se que estava feliz pois, tal como afirmou, “a temporada de terra batida chegou finalmente ao fim”.
O moscovita nunca escondeu a sua opinião em relação ao pó de tijolo, mas a recém conquista — e sobretudo a forma como o fez — no ATP Masters 1000 de Roma, onde superou jogadores como Alexander Zverev, Stefanos Tsitsipas e Holger Rune, enganou tudo e todos.
Não, Medvedev ainda não gosta da terra batida.
Não, Medvedev ainda não se sente confortável na terra batida.
“A minha relação [com a superfície] não mudou. Sempre que termina estou feliz, por isso estou feliz outra vez. Não interessa se chego a uns quartos de final ou não, estou feliz outra vez por ter terminado”, revelou com boa disposição.
“Ao terceiro jogo do encontro já tinha a boca cheia de terra batida. Não percebo como é que as pessoas gostam de comer terra, de ter terra nos sacos, nos sapatos, nas meias. As meias são brancas e depois da época de terra batida têm de ir para o lixo. Algumas pessoas gostam disso, mas eu não. Por isso estou feliz que tenha chegado ao fim“, acrescentou.
Acima de tudo não na de Paris, a catedral da terra batida que, apesar desse estatuto, tantas críticas tem suscitado ao longo dos primeiros dias da 127.ª edição de Roland-Garros.
Em suma, os courts estão mais lentos — muito mais lentos. E às condições da superfície junta-se ainda uma bola (Wilson) que desde o primeiro dia levanta críticas. De acordo com os especialistas, as bolas ‘abrem’ ao fim de poucos pontos e tornam difícil a tarefa de lhes imprimir a velocidade desejada.
Medvedev, que não tem o pulso de Rafael Nadal, Carlos Alcaraz, Stefanos Tsitsipas ou até mesmo de Wild, à vontade na tarefa de imprimir rotações à bola para a bombardear para o lado oposto do court, fica desconfortável. E se a esse desconforto se junta o vento que afetou a jornada de terça-feira com fortes rajadas, a missão fica ainda mais difícil para o russo.
Foi, em suma, um dia não para o número dois mundial, que com uma recuperação quase milagrosa no tie-break da segunda partida (esteve a perder por 4-6 e contou com dois erros imperdoáveis de Wild para vencer quatro pontos consecutivos) evitou uma desvantagem de dois sets a zero. Mas não só a derrota não o deixou totalmente cabisbaixo, como não lhe reduziu a capacidade de analisar a boa exibição do adversário.
Muito pelo contrário, até porque com o seu humor característico teceu rasgados elogios ao brasileiro: “Na minha opinião, se ele jogar assim será top 30 no final do ano. Mas da última vez em que disse isto sobre alguém essa pessoa não o conseguiu fazer. Espero sinceramente que ele o consiga, caso contrário ficarei desiludido e a pensar ‘porquê hoje e não daqui a dois dias, noutro encontro?'”
E acrescentou: “É um grande jogador, se não me engano venceu o US Open enquanto júnior e a vida dele vai tornar-se melhor se jogar todos os encontros como este. Vai ter mais dinheiro, mais patrocinadores e ganhar grandes títulos. Mas tem de jogar sempre assim. Não apenas uma vez no Court Philippe-Chatrier, mas em vários lugares pelo mundo fora. Pela forma como tem jogado este ano, pelo que já fez, talvez seja capaz de o fazer. Vamos ver.“
E agora venha daí a relva, porque para Daniil Medvedev já chega de terra batida.