PARIS — O primeiro encontro de Novak Djokovic no ataque a um histórico 23.º título em torneios do Grand Slam esteve próximo de ser meramente protocolar, mas ainda assim o sérvio não ficou livre de polémicas no regresso a Roland-Garros, pois contrariou as regras do torneio do Grand Slam francês e escreveu uma mensagem política a favor da reintegração do Kosovo na Sérvia.
“O Kosovo é o coração da Sérvia! Parem com a violência”, escreveu o tenista natural de Belgrado na lente da câmara depois de derrotar o norte-americano Aleksandar Kovacevic por 6-3, 6-2 e 7-6(2).
A mensagem de teor político foi escrita por Djokovic numa altura em que a Sérvia volta a contestar a independência do Kosovo que foi proclamada em 2008 e é reconhecida por cerca de 100 países, entre os quais Estados Unidos da América, França, Alemanha, Grã-Bretanha e Itália.
O conflito de vários anos entre o Kosovo e a Sérvia recuperou tensão nos últimos dias na sequência de eleições para governos autónomos realizadas em quatro municípios do norte do Kosovo em que a população é maioritariamente sérvia. Um boicote em larga escala por parte desta comunidade fez com que apenas 3,47% dos eleitores — a vasta maioria albaneses — comparecesse nas urnas. O resultado foi favorável ao Kosovo, mas a fraca adesão às eleições levou os sérvios estabelecidos na região a contestarem a credibilidade da votação sem aceitarem a tomada de posse.
A escalada de tensão resultou em conflitos armados em que as patrulhas da missão civil da UE no Kosovo (EULEX) foram vítimas de ataques e, entretanto, o presidente sérvio colocou o seu exército em alerta de combate e ordenou o envio de soldados para a fronteira kosovar.
Depois de escrever a mensagem política a favor da reintegração do Kosovo na Sérvia, Djokovic explicou à imprensa do seu país os motivos da sua ação: “O Kosovo é o nosso berço, a nossa fortaleza, o centro das coisas mais importantes para o nosso país.”
“Não sou um político e não tenho qualquer intenção de entrar em debates políticos porque este é um assunto muito sensível”, acrescentou. “É claro que enquanto sérvio me magoa muito ver o que está a acontecer no Kosovo e a forma como o nosso povo foi praticamente expulso de edifícios municipais, por isso isto era o mínimo que eu podia fazer. Como figura pública, mas também como filho de um homem que nasceu no Kosovo sinto uma responsabilidade adicional em expressar o meu apoio às pessoas da Sérvia como um todo.”
Os regulamentos de Roland-Garros proíbem explicitamente quaisquer mensagens políticas por parte dos jogadores, mas o ex-número um nacional afirmou não estar arrependido: “Não tenho arrependimentos e voltaria a fazê-lo porque a minha posição é clara. Sou contra a guerra, a violência e conflitos de qualquer tipo e sempre demonstrei isso mesmo. É claro que tenho simpatia por todas as pessoas, mas o que está a acontecer no Kosovo cria um precedente nas leis internacionais.”
Apesar de serem raras as ocasiões em que Novak Djokovic se expressa em relação à situação no Kosovo, esta não foi a primeira vez: em 2008, pouco depois de ter vencido o Australian Open pela primeira vez, gravou uma mensagem vídeo para uma manifestação em Belgrado com a mensagem “o Kosovo é da Sérvia”.
Já este ano, numa entrevista ao Corriere Della Sera depois do escalar de tensão entre os dois países, afirmou que pretende voltar ao Kosovo num futuro próximo e batizar lá os seus filhos. A esta mensagem, o Ministro do Desporto do Kosovo respondeu com quatro palavras: “No-vax, no entry.” Ou seja, “não vacinado, não entras.”