Entre Wozniacki e Rune, Clara Tauson “joga em paz” longe dos holofotes

Sara Falcão/FPT

OEIRAS — Depois da bonança não veio a tempestade. Caroline Wozniacki carregou a bandeira da Dinamarca ao mais alto nível do ténis profissional, mas não houve travessia no deserto para os dinamarqueses depois da retirada da “Sweet Caroline”. Primeiro Clara Tauson, depois Holger Rune, dois jovens sensivelmente da mesma idade ascenderam ao trono no ranking de juniores e carregaram o testemunho da antiga número um mundial. Rune está, para já, na pole position na sucessão, e para Tauson está tudo bem por estar mais longe da ribalta mediática.

“Ele está a roubar o palco todo para ele. Estou bem com isso, assim posso jogar em paz”, disse Clara Tauson, entre sorrisos, com um humor muito apurado quando questionada sobre o facto de poder ser mais fácil sacudir a pressão com alguém também tão jovem no seu país.

Conhecidos desde os oito anos – e futuros companheiros de equipa na nova Hopman Cup no verão -, a jovem de 20 tem noção que os problemas nas costas de 2022, bem como a ascensão meteórica do compatriota, atual número sete ATP, fazem-na estar uns patamares abaixo neste momento. “Acho que nem ele próprio esperava uma ascensão tão rápida. Ele tem grandes objetivos para a sua carreira. É difícil para mim neste momento acompanhá-lo nesses objetivos. Sempre soube que ele ia ser bom. Diria que top 10 aos 19 anos é bastante bom”.

Num país no qual o ténis está bem longe do topo mediático, Tauson espera que os dois pródigos dinamarqueses “inspirem” os mais jovens a envergar pelo ténis. O raio não só caiu duas vezes como caiu mesmo três no mesmo local, algo que a já vencedora de dois títulos no WTA Tour tem noção de ser diferente e especial.

Algo que os velhos conhecidos têm em comum é o sucesso em solo português. Se Holger Rune atingiu, aos 18 anos, a final do Oeiras Open 4 de 2021 (perdeu esse duelo decisivo para Gastão Elias), Clara Tauson foi um passo mais longe e arrecadou um troféu de 15.000 dólares em 2020 (no primeiro torneio internacional pós-pandemia) no Clube Escola de Ténis de Oeiras. A mais velha dos dois afirma ter boa memória e tinha perfeita noção de ambos os acontecimentos. “Não ganhava um torneio em terra batida há algum tempo e não ganho um desde esse”, recordou.

A confiança de voltar a uma cidade na qual já foi feliz pode catapultá-la para uma semana em grande. A melhorar os níveis físicos e a cavalgar na recuperação na hierarquia feminina depois de um 2022 marcado por graves problemas nas costas – atualmente está no posto 132 WTA após o 33.º lugar há pouco mais de um ano -, Tauson está, para já, a desfrutar de cada vitória e cada batalha para regressar a um ranking mais próximo do seu nível. “Já o fiz uma vez, sei que posso fazer de novo. Sou nova, tenho tempo. Não estou preocupada”.

No Oeiras Ladies Open, a tenista nórdica pode reaproximar-se do top 100 e o percurso está a ser tudo menos fácil. Na primeira ronda ganhou uma vida extra ao salvar um match point para derrotar Elina Svitolina. Na segunda necessitou de mais de três horas para superar a qualifier francesa Margaux Rouvroy. “As minhas expetativas não eram muito altas. Tinha um quadro duro, um dos mais duros que já tive”.

Este sábado Clara Tauson pode ter de disputar uma jornada dupla. Às 10 horas enfrenta a espanhola Rebeka Masarova (93.ª) num encontro adiado da véspera devido à chuva. Caso some novo sucesso discutirá um lugar na final ou frente a Mayar Sherif (61.ª) ou face a Moyuka Uchijima (144.ª). “Queria ver como estava em terra batida e agora estou nos quartos de final. Estou feliz, mas vou por mais” (risos)

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