OEIRAS — Eugenie Bouchard já era uma estrela do circuito mundial feminino quando passou pela última edição do Portugal Open, em 2014, mas foi depois da primeira campanha no Jamor que atingiu o topo da carreira ao ser finalista de Wimbledon — e meses mais tarde o quinto lugar no ranking WTA. Agora com 29 anos, está de regresso ao nosso país com um estatuto diferente (não de rising star, mas o de quem procura dar o passo que faltou) e na conferência de imprensa de antevisão ao Oeiras Ladies Open falou de tudo um pouco: os pensamentos sobre o fim da carreira, a motivação para regressar e o que ainda lhe falta alcançar.
“Estou muito feliz por estar de volta. Não competia na Europa durante o verão há alguns anos por causa da covid-19 e das lesões, por isso já me tinha esquecido do quão agradável é durante esta altura do ano”, contou no início da conversa com os jornalistas.
De regresso ao Complexo de Ténis do Jamor, a canadiana surpreendeu ao admitir que não reconheceu o palco da sua passagem anterior por Portugal: “Ontem falei com o diretor do torneio e ele disse-me que eu já tinha jogado aqui, mas eu respondi-lhe que nunca tinha visto este clube”, contou entre sorrisos. “Ele contou-me que antigamente construíam um estádio e foi isso que me fez pensar que era outro local. Também já se passaram nove anos, por isso não me lembro de muito… Mas lembro-me de que a comida era muito boa e tem sido assim desde que cheguei”.
A pergunta sobre os pastéis de nata que a encantaram aquando da passagem pelo Portugal Open ficou para uma ocasião futura e a conferência de imprensa evoluiu para questões com maior desenvolvimento.
Com o jet lag “superado” e a adaptação transatlântica feita, explicou que a terra batida europeia é “muito diferente da terra batida verde, mas também da terra batida tradicional da Colômbia”, onde competiu este ano, mas desvalorizou a falta de rotinas recentes no pó de tijolo que já se vê entranhado nas sapatilhas. “Viajo para a Europa desde muito nova, por isso estou muito habituada a isto. É uma superfície diferente, muito mais exigente do ponto de vista físico, mas sinto que sempre me dei bem aqui, por isso é algo de que gosto.”
E por isso estabeleceu como primeiro objetivo “jogar vários torneios consecutivos pela primeira vez em algum tempo”, mas não só. Porque sabe o que é estar lá em cima, Bouchard não tem medo de apontar a outros voos: “Quero alcançar o melhor ranking que for possível e regressar ao top 100 para jogar os torneios do Grand Slam e estar onde sinto que pertenço.”
Com um novo treinador — Eric Hechtman, ex-treinador de Venus Williams — depois de períodos com Gil Reyes (do qual se separou por querer trocar Las Vegas por Miami como base de treino) e Rennae Stubbs (dedicada sobretudo aos comentários televisivos, mas de quem continua a ser “boa amiga”), a tenista de Montreal revelou consciência em relação ao caminho que ainda tem a percorrer para lá regressar. E tal como não teve medo de partilhar a sua ambição, também não se inibiu na hora de falar sobre os momentos mais negros dos últimos anos.
“É claro que tem sido muito difícil, não há qualquer segredo em relação a isso e estaria a mentir se dissesse que não me passou pela cabeça retirar-me. Tem sido um processo muito longo e pensei se valia a pena, mas depois decidi que sim porque iria arrepender-me se deixasse que fosse uma lesão a parar-me. Senti falta da competição enquanto estive parada e isso também me motivou”, acrescentou Bouchard, que para compensar as saudades da adrenalina da competição abraçou a carreira de comentadora para canais televisivos enquanto continuava a recuperação longe dos courts — um trabalho que gostou de abraçar e que não descarta no futuro.
Mas, para já, o regresso à elite. E a motivação, essa, ficou ainda mais clara na resposta seguinte: “Não estaria a dedicar tanto tempo e a fazer este esforço se não acreditasse que posso voltar a lutar por grandes títulos. É precisa muita paciência, muito tempo e muita energia para recuperar de lesões como as minhas e a vida é curta, por isso se não acreditasse estaria a ser mãe ou a fazer outra coisa qualquer”, respondeu entre sorrisos — mas com a convicção a marcar-lhe a voz.
E foi mais longe: “Ganhar um torneio do Grand Slam é o meu grande objetivo desde criança e já estive muito perto uma vez. Sempre foi o meu sonho e acho que é o da maior parte das pessoas.”
Finalista de Wimbledon em 2014 e semifinalista do Australian Open e do US Open na mesma época, Bouchard admitiu que recorre ao passado para recuperar a confiança: “Lembrar-me dos resultados que consegui e do que já fiz ajuda-me a recuperar a confiança.”
E nesse sentido também o Jamor poderá ajudá-la, pois apesar de à primeira tentativa não ter encontrado memórias da passagem anterior por este local foi na terra batida lusa que se exibiu pela primeira vez como top 20 mundial perante os europeus. Agora o seu estatuto é outro, mas o motivo da sua vinda volta a ser o maior torneio feminino organizado em solo português — um ITF de 100.000 dólares que “parece pelo menos um WTA 250”, precisamente a categoria do antigo Portugal Open.
“É curioso porque esta manhã eu e o meu treinador estávamos a olhar para a lista de inscritas e eu comentei ‘Oh meu Deus, o que é que se passa?’ porque estão cá muitas jogadoras do top 100 mundial”, acrescentou. “Na generalidade há uma falta de torneios que faz com que estes sejam ainda mais fortes do que costumavam ser, o que é ótimo para este torneio. As jogadoras estão à procura de mais oportunidades e isso faz com que a competição seja ainda mais difícil.”