Francisco Cabral “assinava logo” para viver este 2022, mas “queria e quero mais”

Sara Falcão/FPT

MAIAFrancisco Cabral foi uma das revelações de 2022, uma temporada que o catapultou para a elite dos pares com a conquista de dois títulos ATP e três títulos Challenger, para além da estreia vitoriosa na Taça Davis e em torneios do Grand Slam. Estes resultados fizeram com que o portuense terminasse o ano satisfeito, mas ainda assim desejoso de mais e melhor — não só para 2023, como para a reta final do primeiro ano em que se dedicou exclusivamente à variante.

“Foi um ano excelente. Se me dissessem que ia acabar assim eu tinha assinado logo no início do ano, mas… Não quero parecer pouco humilde, mas sinto que depois da fase que tive na terra batida queria mais para o final do ano. Os últimos meses acabaram por não me correr bem, mas o ténis é mesmo assim, não posso ganhar sempre. O ano não são dois meses, portanto só tenho de estar contente com o que fiz”, afirmou o portuense de 25 anos na conferência de imprensa após a derrota na final de pares do Maia Open ao lado de Nuno Borges.

Sobre a final, que foi decidido no match tie-break a favor dos britânicos Julian Cash e Henry Patten (6-3, 3-6 e 10-8), Cabral disse ter sido resolvida nos detalhes: “Foi um bom encontro dos dois lados. Somos duas duplas que se conhecem bem, eu e o Nuno fizemos inúmeros jogos sobretudo em 2021, eles tiveram uma segunda metade de 2022 inacreditável, por isso sabíamos mais ou menos o que esperar. Tivemos as nossas oportunidades. Acho que o que correu um bocadinho pior foi o primeiro break do primeiro set, que lhes deu muito à vontade para gerirem o set a um ritmo que não era o que queríamos. Felizmente conseguimos modificar a nossa estratégia principalmente na resposta e isso deu alguns frutos, mas depois o super tie-break foi estranho. Nenhuma das equipas conseguiu confirmar os mini-breaks que teve e acabou por ser uma lotaria em que eles ganharam fruto das vitórias que têm tido nos últimos meses.”

Uma vez dissecado o encontro que colocou um ponto final na sua temporada, Francisco Cabral também se debruçou sobre o fim da parceria com Jamie Murray, britânico ao lado do qual atuou nos torneios ATP de Metz, Sófia, Gijon e Nápoles.

“Aquilo que não correu bem foi o estilo de jogo ser bastante diferente daquilo a que eu estava habituado com o Nuno e também com o bósnio [Tomislav Brkic] com que joguei alguns torneios. Eles são jogadores que servem bem, mas também respondem bem e gostam de bater forte e jogar do fundo do campo, enquanto o Jamie é exatamente o oposto: quanto mais rápido ganhar a rede, melhor para ele. Isso era algo a que eu não estava habituado, mas acho que tivemos quatro ou cinco pontos principalmente em Metz e em Sófia que podiam ter mudado a nossa parceria, porque perdemos vários encontros por um ou dois pontos longos, ou ‘toquezinhos’, situações em que levávamos um break, não fazíamos outro, pequenos pormenores que podiam ter mudado a parceria.”

No entanto, o tenista português retirou muitos aspetos positivos da parceria de cerca de um mês: “Aprendi muito e já lhe agradeci o facto de me ter convidado, porque apesar de não termos conseguido grandes resultados foi uma experiência muito boa para mim. Absorvi essencialmente ensinamentos sobre o posicionamento e como aproveitar uma ou outra debilidade dos adversários.”

Mas o fim de ligação ao britânico, ex-número um mundial, e os objetivos diferentes de Nuno Borges — que tal como já aconteceu em 2022 quer dar prioridade aos singulares — deixaram Francisco Cabral sem um novo e fixo parceiro para os primeiros meses do próximo ano: “O Max Purcell vai deixar de jogar tanto pares e isso deixou um jogador sem parceiro, que neste caso sou eu porque o Jamie recebeu um convite do Michael Venus, depois o parceiro desse ficou com outro, etc, portanto havia sempre um jogador que ia ficar sem parceiro e neste momento sou eu. Mas lido bem com isto e estou completamente tranquilo. Tenho 25 anos e espero ter mais 10 ou 12 de carreira, portanto não hão de ser estes quatro meses sem parceiro que vão mudar alguma coisa.”

“Tranquilo”, “relaxado” e “à espera” do que aconteça nas primeiras semanas da nova época para “receber um convite”, Francisco Cabral planeia iniciar o novo ano a disputar o ATP 250 de Auckland, na Nova Zelândia, e o Australian Open. Em ambos os casos com João Sousa, compatriota e amigo a quem muito agradeceu “por me ajudar a conhecer os torneios e as pessoas nos sítios onde jogámos juntos” e de quem só espera o que dele se conhesse e a que já se habituou: “Compromisso máximo” para atacar uma fase da época totalmente nova para a sua carreira.

Entretanto, continuará atento e à procura de um parceiro que, se pudesse idealizar, seria “alguém da minha idade, ou perto”, também pela experiência que os últimos meses lhe deram: “O Jamie Murray é uma pessoa cinco estrelas, mas eu sentia que havia ali uma grande separação de idades. Parecíamos de duas gerações diferentes, quase pai e filho. Os assuntos que me interessavam não lhe interessavam a ele e vice-versa, mas ainda assim a nossa relação foi excelente. Se pudesse idealizar, idealizava uma pessoa perto da minha idade e com a mesma motivação que eu para treinarmos e melhorarmos. Em termos de estilo de jogo não sou esquisito, é uma questão de hábito.”

E agora é tempo de descansar, porque a época de 2023 começa ainda este mês.

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