Benoit Paire escolheu Portugal como pequeno “refúgio” e o objetivo é claro: “Quero voltar a ser top 20”

Sara Falcão/FPT

LISBOABenoit Paire já foi número 18 do mundo, participou e venceu nos torneios mais importantes do calendário e arrastou multidões, mas agora quer estar longe dos holofotes. E por isso viajou de França para Portugal quando no seu país havia torneios equivalentes e até mais importantes do que o Braga Open e o Del Monte Lisboa Belém Open, no qual falou sobre as dificuldades que enfrentou nos últimos anos e a mentalidade com que ataca o regresso à elite do ténis mundial.

“Neste momento, jogar em casa é um pouco complicado para mim. Fui número 18 do mundo e as pessoas esperam muito de mim, por isso quando volto a França estão sempre à espera de que eu ganhe. Há sempre muitas pessoas à espera e a torcer por mim e mentalmente não estava pronto para isso, por isso pensei que podia ser melhor vir a Portugal, estar num sítio mais tranquilo, trazer um amigo e aproveitar o meu ténis. Estou muito feliz por estar aqui, longe de França — mas não muito, porque Portugal é muito perto”, explicou numa conferência de imprensa que aconteceu já depois do sol se pôr na quinta-feira, dia marcado pela chuva e de um treino curto para o carismático tenista francês.

“Adoro o ambiente em Portugal e adoro jogar aqui. Há uns 10 anos joguei num clube perto daqui e perdi com o Hanescu [n.d.r.: segunda ronda do Estoril Open em 2013] e depois disso já fiz alguns bons encontros no Estoril Open, incluindo uma meia-final. Sempre que volto a Portugal sinto-me um pouco como em casa. As condições são boas, com algum vento, mas gosto muito de aqui estar e estou feliz por ter ganho alguns encontros. Não tenho ganho muitos nos últimos anos, por isso é muito importante para a minha confiança e para a minha cabeça”, acrescentou Paire, que afirmou estar a sentir-se ainda melhor em Lisboa do que em Braga.

A memória do tenista gaulês de 33 anos é boa e permite-lhe recuar até às primeiras viagens pelo país, em 2008, e aos primeiros títulos, em 2010 (primeiro em Faro e depois em Montechoro). “Tenho boas memórias desses tempos. As pessoas foram sempre muito simpáticas e é muito bom estar de volta e recordar esses tempos, porque foram os primeiros anos da minha carreira e viajei por muitas cidades portuguesas.”

Fast forward para a década seguinte e o rapaz que perseguia o sonho tornou-se num dos melhores tenistas do mundo. Talentoso sempre, polémico às vezes e com o lado humano a sobressair quando a pandemia de covid-19 paralisou o planeta: “Tive covid-19 quatro vezes e fiz uma quarentena de 14 dias quatro vezes. E não foi fácil aproveitar a vida quando estava a jogar em estádios vazios. Não é por isso que jogo ténis, jogo para me divertir com os adeptos. E quando jogas sozinho, sem árbitros, com uma voz robótica… Não conseguia divertir-me e não foi fácil para mim. Para mim é importante não estar sozinho, aproveitar o tempo fora do court e é por isso que esta semana estou a jogar muito melhor.”

Tal como não o é encontrar motivação para voltar a ser um dos melhores jogadores do mundo, mas este parece ser um Benoit Paire determinado: “Não é fácil, mas sei porque é que estou aqui. Não jogo estes torneios pelo dinheiro, mas sim porque quero jogar, ganhar encontros e voltar ao circuito principal. Se sentir que não consigo, então deixo de jogar ténis. Mas acho que, se estiver bem mentalmente e me sentir bem fisicamente, posso voltar ao meu melhor e ser top 20 outra vez. Sei que o meu ténis não está como antes e que não é perfeito, mas vai voltar ao normal quando a minha cabeça estiver bem e a minha confiança voltar.”

O jogador nascido em Avignon diz-se “pronto”, o discurso a encaixar na atitude mais amenizada com que se tem apresentado em court nestas semanas em Portugal, e não tem demasiada pressa.

“É difícil de dizer o que quero fazer ou qual é que vai ser o meu próximo torneio, porque antes desta semana estava a pensar terminar a época depois da primeira ronda. Mas esta semana estou a gostar muito de estar em campo, por isso vamos ver como é que corre: se ganhar mais alguns encontros talvez aproveite ainda mais, mas vamos vendo dia-a-dia. Se conseguir divertir-me, continuo a jogar. Se não, prefiro parar e sei que se voltar 100% motivado na próxima época conseguirei voltar ao circuito de certeza”

Divertir-se foi a condição que Paire mais vezes destacou durante os cerca de 13 minutos de entrevista na sala de conferências de imprensa do Del Monte Lisboa Belém Open. E parte da diversão nasce do apoio que recebe das bancadas e que agradece — “deixa-me muito feliz ver que as pessoas gostam de mim e que vêm apoiar-me, mesmo quando jogo contra jogadores da casa, e tenho recebido muitas mensagens de portugueses” —, mas também dos pontos que faz por tornar entusiasmantes. “Durante dois anos senti-me aborrecido no court e só queria ir para casa, por isso preciso disto. Tornar o ponto divertido é algo natural em mim, mesmo que o perca. E quando era número 18 do mundo fazia o mesmo, por isso porque não fazê-lo também aqui e divertir-me?”, observou a propósito do duplo tweener que executou na primeira ronda frente a Gonçalo Oliveira.

Bem-disposto e interessado em falar, Benoit Paire também destacou que o ténis precisa de “alguns” jogadores como ele e o australiano Nick Kyrgios. “Quando ele joga tem as pessoas à espera dele e o estádio cheio, mesmo se de vez em quando parte algumas raquetas e diz coisas más no court. Mas isso não importa, as pessoas gostam dele e porquê? Porque muitas delas são como ele quando jogam ténis. Mesmo que só jogues ténis uma vez por semana, vais partir uma raqueta, vais chatear-te com o outro jogador, com o court, e acho que é por isso que as pessoas se reconhecem nele e gostam dele.”

Por último, houve tempo para questionar o francês sobre aquele que já em várias ocasiões descreveu como o melhor tenista de todos os tempos e que recentemente o fez agarrar-se à televisão por uma última vez: Roger Federer. “Treinei com ele muitas vezes, defrontei-o muitas vezes e para mim é o ‘GOAT’ [Greatest of All Time]. Fico muito triste por ele não voltar ao circuito, mas sei que vai aproveitar a vida com a mulher e com os filhos. Vou ter saudades, mas espero vê-lo em breve para falar com ele e saber como é que se está a sentir. É um bom tipo, um excelente jogador e para mim será sempre o melhor.

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