Dediquei a tarde a tentar explicar o que, concluí, não se explica. Afinal, que explicação poderia ser feita a propósito de alguém que transcende a história que é feita de vitórias, de títulos e de números? Porque Roger Federer foi isto e muito mais, ao ponto de haver uma era antes e outra após a sua carreira.
Federer foi número um mundial durante 310 semanas, das quais 237 consecutivas, e 20 dos 103 títulos de singulares que ergueu foram em torneios do Grand Slam. Disputou 1526 encontros de singulares e registou 1251 vitórias.
Estas são algumas das muitas estatísticas que saltam à vista — todas demasiado efémeras.
Porque o impacto de Federer em competição foi histórico, mas o tempo encarregar-se-á de o superar.
O que transformou um jovem apanha-bolas de Basileia num fenómeno global com um legado que impactou e continuará a impactar o próprio desporto vai muito para além dos resultados que registou ano após ano durante duas décadas, apesar de estes terem, invariavelmente, um peso importantíssimo no seu estatuto.
Falar sobre Federer é falar sobre graciosidade. Sobre elegência, sobre arte. É falar de uma desconcertante simplicidade aparante e de uma procura incessante pela perfeição. A estética, a geometria, a classe, o talento e a disciplina reunidos numa só figura. Figura essa que se tornou num exemplo de cavalheirismo, de saber ganhar e, sobretudo, de saber perder — mas também de mudar, porque o soube fazer a tempo de deixar para trás a fase (sim, ele teve-a) de miúdo rebelde que perdia o temperamento e partia raquetas com frequência.
É sinónimo de um desporto que revolucionou para sempre e que em séculos de história não conheceu igual embaixador.
A aura associada ao suíço é unânime entre fãs e adversários, todos cientes de que a sua carreira definiu não só um período, como a história do ténis. E do desporto, porque as lendas superam os limites das modalidades que as catapultam para o estrelato.
Roger Federer é isto e muito mais. E mesmo assim continua sem ser explicado.