Nick Kyrgios quer ganhar um título do Grand Slam e faz um statement em Wimbledon

Nick Kyrgios é rebelde, diz que não quer saber e habitualmente dá que falar por mais más do que boas razões, mas há pelo menos dois locais onde lhe cai a máscara: um é a Austrália, onde este ano conquistou o primeiro título do Grand Slam em pares, ao lado do amigo de infância Thanasi Kokkinakis, e o outro é a relva e em particular a de Wimbledon, que esta segunda-feira não teve medo de descrever como a sua maior hipótese de erguer um dos quatro maiores troféus do calendário, mas desta vez em singulares. E será assim tão descabido imaginá-lo de troféu nas mãos?

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Wimbledon

Depois de uma suada vitória na primeira ronda, que relativizou ao descrever como “sempre complicada”, esta quinta-feira o irreverente e sempre polémico australiano fez um statement: arrasou Filip Krajinovic (que há dias jogou a final do ATP 500 do Queen’s Club) por 6-2, 6-3 e 6-1.

Kyrgios é um entertainer. Está-lhe nas veias e precisa da energia do público para ser bem sucedido. Aplausos ou apupos, ambos funcionam para o motivar e desde que não haja uma bancada vazia, como na pandemia, estão reunidas condições para brilhar — desde que o torneio, a superfície e até o adversário o motivem.

Mas Kyrgios também é um competidor. E por trás da máscara que tantas vezes lhe esconde essa veia (um mecanismo de defesa para não deixar cair a rebeldia) tem a ambição de equilibrar a relação entre o seu potencial e o seu palmarés, bem como a consciência de que esta é, de facto, a superfície em que tem mais probabilidades de ser bem sucedido.

Não é raro ouvir-se dele afirmações que misturam arrogância com certeza, mas não é tão habitual ouvi-lo falar, sem pudor, de um título em torneios do Grand Slam.

Talvez a vitória nos pares ao lado de Kokkinakis em Melbourne lhe tenha aberto os olhos. Talvez seja o tempo a passar. Talvez seja porque a concorrência está a aproveitar melhor do que ele a transição geracional.

Independentemente da razão, esta quinta-feira Nick Kyrgios deixou de parte as distrações e deixou clara a ambição que o move, pelo menos nesta quinzena.

Se será capaz de o fazer, só o tempo o dirá. Mas a relva é, indiscutivelmente, a superfície em que mais condições tem para o fazer e não só realizou uma boa preparação a caminho de Wimbledon (meias-finais em Estugarda e Halle), como também o quadro lhe dá razões para sorrir: na terceira ronda terá pela frente Stefanos Tsitsipas, que apesar do recente título em Maiorca — de longe o torneio com a pior relva do circuito — não só não é um às na superfície-mãe do desporto, como já foi derrotado pelo australiano nesta época de relva, como a metade inferior deixou desde cedo de contar com Matteo Berrettini, que por causa de um teste positivo à covid-19 nem chegou a entrar em campo, quando era o favorito a repetir a presença na final (sobretudo depois de ter “varrido” o ATP 250 de Estugarda e ATP 500 do Queen’s Club).

A distância entre a possibilidade e a realidade é grande, mas será assim tão descabido imaginá-lo de troféu nas mãos?

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