A padaria de Iga Swiatek não é só uma piada da internet

Os croissants e as baguetes dominam os pedidos matutinos nas boulangeries espalhadas pelas ruas de Paris, mas Iga Swiatek tira do forno bagels e breadsticks (gressinos) para acompanhar uma série de vitórias cada vez mais história, de contornos raríssimos desde a viragem do século.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros

As designações não são oficiais, mas são bem conhecidas na gíria e amplificadas pelas comunidades do Twitter e do Reddit. Ora o termo bagel é utilizado para descrever um set ganho por 6-0, o número zero a fazer lembrar a forma do pão. Já breadstick refere-se a um set ganho por 6-1, o algarismo semelhante à forma do palito de pão estaladiço.

E o domínio de Iga Swiatek ao longo dos últimos 101 dias (a última derrota aconteceu a 16 de fevereiro, no Dubai) tem ganho de tal forma contornos estratosféricos — já lá vamos — que levou um utilizador a criar o website “Iga’s Bakery” (A Padaria da Iga).

Nesta plataforma o humor é o ingrediente principal, mas a receita também inclui informação: na página de “vendas” são apresentados os bagels e breadsticks distribuídos pela polaca ao longo de 2022, acompanhados pela data e a “cliente”, isto é, a adversária.

Na manhã deste sábado contabilizavam-se por lá, e em sintonia com os registos oficiais da WTA, 15 bagels e 12 breadsticks. Os números continuarão assim pelo menos até segunda-feira, depois da montenegrina Danka Kovinic ter evitado a “entrada no estabelecimento” ao conquistar bem mais do que um par de jogos na derrota desta tarde por 6-3 e 7-5 para a número um mundial na terceira ronda de Roland-Garros.

Mas o desfecho nunca pareceu ser posto em causa — mesmo sendo quebrada em três ocasiões (não conseguiu salvar nenhum ponto de break) e perdendo quatro jogos consecutivos quando liderava por 6-3 e 4-1, Swiatek pareceu tão determinada quanto nas exibições anteriores, tão destemida quanto nos últimos meses e uma reação à número um mundial permitiu a conquista do 20.º set consecutivo.

Talvez a calma lhe venha dos livros que gosta e precisa de ler, os mesmos que usa para retirar notas sempre que se depara com uma palavra em inglês que não conhece. Ou talvez a construa dia a dia, apoiada naquela que já é a quarta maior série de vitórias do circuito feminino no século XXI, só superada por Justine Henin com 32, Serena Williams com 34 e Venus Williams com 35 (é notório que o registo cada vez mais expressivo a coloca em vantagem psicológica contra qualquer adversária antes de qualquer encontro).

Certo é que o alvo a abater é um e apenas um, Iga Swiatek, ela que venceu os últimos cinco torneios em que participou (os WTA 1000 de Doha, Indian Wells e Miami, o WTA 500 de Estugarda e o WTA 1000 de Roma, depois de ouvir o corpo e a mente e abdicar da viagem a Madrid) e que aqui procura repetir a proeza de 2020. Desta vez, surpreendente seria vê-la sair de Paris sem o troféu de campeã na bagagem.

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