Tsurenko: “Não me sinto bem a defrontar russas e bielorrussas e penso sempre em desistir”

A vida de Lesia Tsurenko (119.ª) em Roland-Garros foi curta e não sobreviveu ao avassalador ritmo da líder Iga Swiatek, que com 6-2 e 6-0 ultrapassou a estreia perante a ucraniana. Após o pesado desaire, a jogadora de 32 anos abordou, comovida, a invasão russa ao seu país e partilhou os medos que a têm assombrado desde o início da guerra.

“Quero que as pessoas tenham a noção de que a guerra é terrível e que não há nada no mundo pior que ela. Quando não é no teu país, não te preocupas tanto com isso e as pessoas também não veem as notícias, fotos e vídeos que eu vejo”, começou por lamentar a jogadora de Volodymyrets.

Apreensiva pelo que tem sido veiculado pela imprensa russa, Tsurenko confessa que tudo não passa de uma estratégia para denegrir o seu país: “Odeio o que a propaganda russa tem vindo a dizer sobre a Ucrânia, sinto-me triste com isso porque são só mentiras sobre o meu país e isso magoa-me.”

Responsabiliza os que mais voz têm no circuito pela sua passividade e vinca que nada interessa mais que a vida humana: “Desejo que todo o mundo veja a Ucrânia como um país bonito e com boas pessoas. Acho que os jogadores de topo deviam mostrar mais o seu apoio para todos perceberem o que está a acontecer. A vida das pessoas vale mais que um encontro de ténis e ao fim de três meses de guerra não vejo nada a mudar.”

Lesia Tsurenko admitiu que com o espoletar da guerra o seu primeiro pensamento consistiu em regressar à Ucrânia, mas a incerteza pairou e optou por continuar a competir, sem rumo definido: “Não me sinto feliz a jogar, a minha primeira ideia foi ir para casa quando tudo isto começou. Decidi continuar a jogar, mas depois não sabia para onde ir e enfrentei várias questões sobre o mundo dentro de mim.”

A antiga número 23 mundial aprovou ainda a decisão do All England Club em banir todos os jogadores russos e bielorrussos e confessa o incómodo que sente ao defrontá-los: “Como ucraniana, senti que a decisão de Wimbledon demonstrou muito apoio ao meu país e por isso para mim foi o mais correto. Claro que não gosto de jogar contra atletas da Rússia ou da Bielorrússia porque ao fazê-lo lembro-me de tudo o que se passa no meu país. Não me sinto bem e sempre que jogo contra eles penso se devo desistir ou não.”

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