Vive la résistance foi uma das expressões que mais se ouviu e talvez seja uma das que melhor define Jo-Wilfried Tsonga, herói do ténis francês que esta terça-feira colocou um ponto final numa carreira histórica e recheada de alegrias. Fê-lo perante um Court Philippe-Chatrier totalmente cheio, que esgotou para o ver jogar pela última vez e se levantou para o aplaudir de pé durante vários minutos. Não só nas bancadas, mas também lá em baixo, entre as linhas, onde todos os treinadores do francês, desde o primeiro ao último, familiares e vários dos seus colegas se reuniram para o homenagear numa cerimónia extensa, digna e recheada de classe.
Por Gaspar Ribeiro Lança, em Paris
Aos 37 anos, um dos pioneiros da geração que prometia ser de ouro pendurou as raquetas. Fê-lo à sua maneira, no seu palco, perante o seu público, familiares e amigos. E ainda deu espetáculo: contra todas as expetativas, “Jo Willy” esteve muito perto de levar o encontro com Casper Ruud (que no sábado derrotou João Sousa na final de Genebra após 3h02) a um quinto set, mas foi traído por uma lesão no ombro quando servia a 6-5 e acabou por perder em quatro partidas, parciais de 6-7(6), 7-6(4), 6-2 e 7-6(0).
Ao 6-0 do tie-break da quarta partida, com seis match points favoráveis ao norueguês, o público levantou-se. Durante mais de um minuto, as 15.000 pessoas que encheram por completo o Court Philippe-Chatrier aplaudiram de pé Jo-Wilfried Tsonga, que disputou o 1.002.º e último encontro de singulares da carreira e segundos depois, após a concretização da derrota, voltou a ser ovacionado. Desta vez, por mais de dois minutos.
Sem saber o que fazer, o francês olhou em redor, aguentou as lágrimas, ajoelhou-se e beijou a terra batida antes de ouvir de Casper Ruud bonitas palavras de agradecimento pelo que fez pela modalidade com a sua alegria contagiante, mensagem que teve eco imediato nas redes sociais, a que inúmeros colegas de profissão recorreram para partilharem a sua admiração por Tsonga.
E depois chegou o momento. Preparada ao pormenor, a cerimónia de homenagem ao gaulês foi longa, cheia de surpresas e recheada de classe. Começou com a entrada em court de todos os treinadores da carreira de Jo-Wilfried Tsonga, seguidos por familiares e por várias estrelas do ténis francês, com destaque para Gael Monfils, Richard Gasquet e Gilles Simon, como ele pilares da seleção francesa que em 2017 conquistou a Taça Davis.
Outrora relutantes, as lágrimas escorreram pela face de Tsonga, que depois olhou para um dos ecrãs gigantes e assistiu a um vídeo com os melhores momentos de uma carreira que fez dele número cinco mundial, finalista do Australian Open e do ATP Finals, campeão dos Masters 1000 de Paris e do Canadá, da Taça Davis e vice-campeão olímpico de pares, mas também a mensagens de quatro jogadores que arrancaram, em crescendo, muitos aplausos das bancadas: Andy Murray, Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer, todos com mensagens de apreço a Tsonga, o jogador, mas sobretudo a Jo-Wilfried, a pessoa.
Jo-Wilfried Tsonga pode não ter ganho o torneio do Grand Slam que em tempos pareceu capaz de conquistar (aos 23 anos foi finalista do Australian Open) e que colocaria um ponto final no jejum para o ténis francês que se prolonga, no circuito masculino, desde a vitória de Yannick Noah em Roland-Garros 1983. Mas não só liderou, como marcou toda uma geração e inspirou muitas outras a pegarem na raqueta, tudo enquanto espalhou sorrisos pelo mundo fora.
Jo-Wilfried Tsonga sentirá falta do ténis. E o ténis sentirá falta dele.
Agora que a despedida nos singulares está consumada, fica por esclarecer apenas uma dúvida: se o francês, lesionado no ombro direito, irá a jogo na variante de pares ao lado de Richard Gasquet, contra o português Francisco Cabral (em estreia absoluta em torneios do Grand Slam) e o dinamarquês Holger Rune.