João Sousa não vencia em quadros principais de singulares de torneios do Grand Slam há quase três anos, em Roland-Garros há cinco e vinha de uma dolorosa derrota na final do ATP 250 de Genebra, mas esta terça-feira tudo foi atirado para trás das costas pelo vimaranense, que superou um braço de ferro de 4h23 para carimbar o apuramento para a segunda ronda do torneio francês.
Por Gaspar Ribeiro Lança, em Paris
Em ação no quadro principal de Roland-Garros pela 10.ª vez na carreira, um registo sem igual na história do ténis português, o número um nacional (que esta semana subiu a 63.º no ranking ATP) resistiu a uma batalha com o ex-número um mundial de juniores Chun-hsin Tseng (109.º), finalista do Maia Open I e campeão do Maia Open II em dezembro de 2021, e triunfou em cinco partidas, por 6-7(5), 6-1, 4-6, 6-1 e 6-4.
O encontro aconteceu no Court 10, um dos mais pequenos do complexo e que por isso desde muito cedo encheu e sobrelotou graças às dezenas de portugueses que, tal como no domingo para o encontro de Nuno Borges, pintaram o desenrolar da ação com cântigos de apoio ao melhor tenista luso da história.
Com condições pesadas (a chuva visitou por algumas vezes o recinto e as núvens nunca se afastaram por completo), perante um adversário mais jovem e mais fresco e depois de uma semana emocional e fisicamente desgastante, João Sousa teve de lutar.
Como é sua imagem, o vimaranense puxou pela garra e agarrou-se à pancada de direita para lutar pela vitória, cujo segredo passou, em grande parte, por explorar a esquerda mais débil de Tseng, que enquanto júnior foi um dos melhores jogadores das últimas décadas — jogou a final do Australian Open, venceu Roland-Garros e Wimbledon e chegou às meias-finais do US Open numa época de 2018 que terminou como número um mundial de sub 18.
Habituado a longos duelos, Sousa sobressaiu-se no plano físico apesar do desgaste que evidenciou (ainda no sábado estava a jogar a final de Genebra, que só perdeu para Casper Ruud depois de 3h02). Tal como o treinador, Frederico Marques, lhe disse a determinada altura do quinto set, “quando tu estás cansado, os outros estão a morrer” e pouco depois o rival acusou, pela primeira vez, o desgaste a que tentou fugir ao levantar o pé do acelerador nas segunda e quarta partidas, quando percebeu que os breaks conseguidos pelo português seriam difíceis de devolver.
A vitória desta terça-feira foi a primeira de João Sousa em quadros principais de singulares de torneios do Grand Slam desde Wimbledon 2019, quando fez história ao chegar à quarta ronda, e a primeira em Roland-Garros desde 2017. Esta é a quinta vez na carreira que o tenista de Guimarães ultrapassa o primeiro obstáculo em Paris, naquele que é o único torneio do Grand Slam onde nunca alcançou a terceira ronda.
Para o conseguir desta vez terá de superar o vencedor do encontro entre o alemão Peter Gojowczyk (94.º) e o italiano Lorenzo Sonego (35.º e último dos cabeças de série), que se defrontam ainda esta terça-feira.