Richard Krajicek, o histórico campeão de Wimbledon regressou a Vale do Lobo para acompanhar o filho

Richard Krajicek era um outsider, mas saiu de Wimbledon como surpreendente campeão. Naquele verão de 1996, o holandês, então com 24 anos, conquistou o torneio dos torneios com a campanha mais dourada da carreira, que incluiu uma vitória nos quartos de final sobre o super-favorito Pete Sampras — vencedor das três edições anteriores e das quatro seguintes. Oito anos depois escolheu a Vale do Lobo Tennis Academy para se estrear no ATP Champions Tour e atingiu a final. E agora, 18 anos volvidos, está de regresso ao Algarve a propósito do Vale do Lobo International Open.

Nome histórico do ténis dos Países Baixos, aquele que ainda hoje é o único jogador do país a vencer um torneio do Grand Slam em singulares viajou até à região algarvia para acompanhar o filho, Alec Deckers (que escolhei o nome da mãe, Daphne Deckers, popular modelo, atriz e apresentadora), que aos 21 anos tenta afirmar-se no circuito profissional.

“Ele tem um treinador com quem passa a maior parte do tempo, mas não pôde viajar para Portugal nas primeiras semanas e por isso estou eu aqui com ele. A ideia é acompanhá-lo em 10 ou 12 semanas do ano”, começou por explicar Richard Krajicek ao Raquetc após uma sessão de treinos.

Ser filho de um campeão de Wimbledon não é fácil e o pai reconhece-o, mas também o desvaloriza: “Lidar com as expetativas é algo que tem de ser mais ele a fazer, mas acho que o encara de uma forma bastante relaxada. Claro que há alguma pressão, mas agora já está habituado. Adora ténis e isso é o mais importante. Sempre lhe disse que se quisesse jogar, ótimo, mas se não quisesse também estaria tudo bem.”

Feitas as apresentações, a curiosidade impunha-se: 26 anos depois, como recorda a vitória em Wimbledon e de que forma continua a marcá-lo? “Era um sonho de criança, dos tempos em que via o Bjorn Borg jogar. E a partir do momento em que ganhei senti que independentemente do que acontecesse daí para a frente a minha carreira seria boa. É uma recordação excelente, mas é mais do que isso: quando ganhas Wimbledon tornas-te membro vitalício do All England Club, por isso o que faço praticamente todos os anos é reunir um grupo de amigos e jogar nos courts de relva após o torneio. E todos os anos recebo bilhetes para o torneio e um convite para a Royal Box, por isso mesmo passados tantos anos continuo a ‘saborear’ a minha conquista, é muito especial.”

Pela importância inigualável do título, foi com naturalidade e rapidez que Krajicek apontou a vitória sobre o norte-americano MaliVai Washington na final (6-3, 6-4 e 6-3) como a mais especial da carreira, mas também elegeu outras duas: “Lembro-me que joguei uma final muito boa contra o Boris Becker em Sydney indoor, foi em quatro sets e uma grande luta antes de eu conseguir ganhar, e claro que foi muito especial derrotar o campeão em título, o Pete [Sampras], no ano em que acabei por vencer Wimbledon.”

Mais rápida ainda foi a resposta ao adversário mais difícil que alguma vez teve pela frente, com o nome a sair-lhe entre um enorme sorriso ainda antes da pergunta ser formulada: “Foi o Jim Courier, nem preciso de pensar! [risos] Jogámos oito encontros e ele venceu-me sete vezes. Foi sem dúvida o adversário mais difícil que tive pela frente. Fiquei contente por conseguir ganhar uma vez, mas para ser sincero isso só aconteceu porque ele ficou tão chateado com o árbitro que eu consegui recuperar. Foi uma vitória importante, porque graças a esse torneio [Antuérpia 1992] entrei no top 10 pela primeira vez e consegui jogar o World Tour Finals na semana seguinte.”

“Mas sim, o Jim Courier… [faz uma pausa, ri-se] A forma como ele jogava, o jogo dele… Era estranho, porque o jogo dele era parecido com o do [Andre] Agassi e com ele eu não me dava mal. Ficou 4-3 no frente-a-frente a favor do Agassi, mas eram encontros equilibrados e nunca me dei mal com ele. Já com o Jim havia sempre alguma coisa…”

E foi precisamente o norte-americano Courier quem travou Krajicek na final do Vale do Lobo Grand Champions de 2004, do qual guarda boas memórias: “Até nos veteranos conseguiu ganhar-me, era impressionante! Essa foi a primeira vez que joguei o Champions Tour, por isso tenho muito boas memórias. O meu filho tinha quatro anos e veio comigo, costumávamos passar férias no Algarve, mas nunca tínhamos estado em Vale do Lobo e foi uma semana muito bonita.”

Krajicek descreveu a experiência de partilhar o court com várias glórias do ténis como “única”, mas depois de algumas aparições em torneios deste circuito o corpo já não lhe permite as mesmas aventuras: “Agora, aos 50 anos, já preciso de uma semana para recuperar dos joelhos se jogar pontos num dia, por isso faço treinos mais simples e sobretudo muito ciclismo.”

Mas não só: desde esse mesmo ano de 2004 em que veio a Vale do Lobo que Richard Krajicek é o diretor do ABN AMRO World Tennis Tournament, o ATP 500 de Roterdão que nas últimas duas décadas coroou jogadores como Roger Federer e Andy Murray.

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Total
0
Share