Houve um momento em 2020 em que tudo indicava que Gael Monfils estava pronto a descolar para novos voos, mas a pandemia surgiu, trocou-lhe as voltas e atirou-o para um lugar negro, em que a confiança desceu, a motivação caiu e os resultados desapareceram. Mas dois anos depois o regresso de “La Monf” ao mais alto nível já se tornou uma realidade e se em Adelaide conquistou o primeiro título dos últimos dois anos, em Melbourne, no Australian Open, está a desenhar uma campanha como há muito não se via.
Novamente de sorriso no rosto, o carismático tenista francês de 35 anos carimbou a quarta vitória da semana e oitava do ano ao impôr os parciais de 7-5, 7-6(4) e 6-3 a Miomir Kecmanovic, sérvio que aproveitou a deportação de Novak Djokovic (seria o seu adversário na primeira ronda) para registar o melhor resultado da carreira em torneios do Grand Slam.
No primeiro dia marcado pelas elevadas temperaturas (28 graus às 20 horas) que são características da Austrália nesta altura do ano, Monfils acusou o desgaste, mas não escorregou: o gaulês sentiu na pele o ténis possante de Kecmanovic — ex-número um mundial de juniores e finalista do US Open (perdeu a final de 2016 para Félix Auger-Aliassime) — e esteve por várias vezes em dificuldades, todavia desenvencilhou-se sempre das diferentes situações a tempo de resolver o encontro em três sets.
O primeiro grande sinal de alerta surgiu na reta final da primeira partida, quando um apagão psicológico por pouco não lhe custou o set: depois de desperdiçar três set points consecutivos no serviço de Kecmanovic (a 5-4), Monfils começou o jogo de serviço (5-5) a perder três pontos e teve de aplicar-se para anular a desvantagem, dar a volta ao jogo e atacar o break (o primeiro do encontro) no jogo seguinte, graças a um winner de esquerda ao longo da linha.
O segundo set começou com más notícias para o antigo top 10, que acusou o desgaste emocional do anterior e foi quebrado logo ao terceiro jogo (teve um ponto de break no jogo anterior). No entanto Kecmanovic não soube aproveitar a vantagem, voltou a cometer demasiados erros não forçados em momentos decisivos e com uma esquerda ao cruzada demasiado aberta permitiu o contra-break que deu a Monfils o fôlego necessário para aguentar até ao tie-break. Visivelmente desgastado, o francês precisava de vencer o tira-teimas para se manter confortável e assim foi, com cinco pontos consecutivos a transformarem um 2-4 no 7-4.
Até que chegou o parcial de afirmação: Monfils anulou dois pontos de break ao quarto jogo, fez o 2-2 e começou a pressionar de imediato o serviço de Kecmanovic, que cedeu pouco depois e não por uma (ao 3-3), mas duas vezes (ao 5-3) para lhe dar a vitória, a quarta da semana em três sets — é o único a chegar aos quartos de final nesta condição.
O Australian Open 2022 marca o regresso de Monfils aos quartos de final de um torneio do Grand Slam mais de dois anos depois, sendo esta apenas a segunda vez que tal acontece desde o arranque da temporada de 2017.
Já com a melhor campanha em Melbourne (2016) igualada, o francês está a um passo de disputar as terceiras meias-finais a este nível. Para o fazer, terá de ultrapassar o vencedor do último encontro da jornada, que opõe o espanhol Pablo Carreño Busta ao italiano Matteo Berrettini.