WTA anuncia suspensão de torneios na China

Era uma possibilidade e a ameaça passou à realidade: todos os eventos WTA realizados na China, incluindo Hong Kong, estão suspensos desta quarta-feira em diante. A novidade foi dada pelo CEO da WTA, Steve Simon, num comunicado publicado no site oficial da associação.

Esta decisão surge ainda como consequência do caso de Peng Shuai, que há um mês denunciou ter sido vítima de uma agressão sexual por parte de um oficial do Governo chinês. Desde então, a tenista chinesa esteve desaparecida durante algumas semanas e reapareceu recentemente, mas pairou sempre no ar a desconfiança de que a atleta estaria capaz de tomar decisões por si própria e em liberdade, sem qualquer chantagem ou coerção por parte do Governo chinês.

Sem provas de que Peng Shuai esteja efetivamente livre para falar por si mesma, a WTA anunciou então a suspensão de todos os eventos que realizava habitualmente em solo chinês.

Leia o comunicado na íntegra:

“Quando, a 2 de novembro de 2021, Peng Shuai revelou uma alegada agressão sexual por parte de um alto oficial do Governo chinês, a WTA reconheceu que a mensagem de Peng Shuai tinha de ser ouvida e levada a sério. As jogadoras da WTA, para não mencionar as mulheres em todo o mundo, não merecem menos.

Desse momento em diante, Peng Shuai demonstrou a importância da denúncia, particularmente quando está relacionada com assalto sexual, e especialmente quando pessoas de poder estão envolvidas. Como Peng disse na sua publicação, “mesmo que seja um ovo a bater contra uma pedra, ou se sou uma borboleta atraída para o fogo, a convidar à auto-destruição, vou dizer a verdade sobre ti”. Ela sabia dos perigos que ia enfrentar e mesmo assim denunciou. Admiro a força e a coragem.

Desde aí, a mensagem de Peng foi removida da internet e a discussão sobre este assunto sério foi censurada na China. Os oficiais chineses tiveram a oportunidade de terminar com esta censura, de mostrar de forma fiável que Peng está livre e capaz de falar sem interferência ou intimidação, e de investigar a alegação de assalto sexual por inteiro e de forma justa e transparente. Infelizmente, a liderança chinesa não abordou este assunto sério de alguma forma credível. Embora agora saibamos onde Peng se encontra, tenho sérias dúvidas de que ela está livre, segura e não está sujeita a censura, coerção e intimidação. A WTA tem sido clara sobre o que é necessário aqui e repetimos o nosso pedido por uma investigação completa e transparente — sem censura — sobre a acusação de assalto sexual de Peng Shuai.

Nada disto é aceitável nem se pode tornar aceitável. Se pessoas poderosas podem abafar as vozes de mulheres e varrer alegações de assaltos sexuais para debaixo do tapete, então as bases sobre as quais a WTA foi criada — igualdade para as mulheres — sofreriam um enorme retrocesso. Não vou nem posso deixar que isso aconteça à WTA e às suas jogadoras.

Como resultado, e com o total apoio do conselho de diretores da WTA, anuncio a suspensão imediata de todos os torneios WTA na China, incluindo Hong Kong. De consciência tranquila, não vejo como posso pedir às nossas atletas que compitam lá quando Peng Shuai não tem permissão para falar livremente e aparenta ser pressionada a contradizer a sua acusação de assalto sexual. Dado o atual estado das coisas, também estou muito preocupado com os riscos que todas as nossas jogadoras e staff poderiam enfrentar se realizássemos eventos na China em 2022.

Tenho sido grato pelo apoio massivo que a WTA tem recebido pela sua posição neste assunto. Para proteger Peng e muitas mulheres pelo mundo fora, é mais urgente do que nunca que as pessoas denunciem. A WTA vai fazer tudo o que for possível para proteger as suas jogadoras. Como nós fazemos, também espero que os líderes de todo o mundo continuem a pedir justiça para Peng, e todas as mulheres, não importa as ramificações financeiras.

Tenho muita pena que tenha chegado a este ponto. As comunidades de ténis na China e em Hong Kong estão cheias de grandes pessoas com as quais trabalhamos durante anos. Eles devem estar orgulhosos dos seus feitos, hospitalidade e sucesso. No entanto, a menos que a China dê os passos que pedimos, não podemos colocar as nossas jogadoras e staff em risco ao organizar eventos na China. Os líderes chineses não deram à WTA outra escolha. Continuo com esperança de que as nossas preces sejam ouvidas e que as autoridades chinesas dêem passos para abordar este assunto de forma legítima”.

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