COSTA DA CAPARICA — Quatro anos depois de atravessar o Oceano Atlântico com a Universidade da Flórida como destino, Duarte Vale regressou a Portugal (quase) de canudo na mão e pronto a iniciar-se no circuito profissional a tempo inteiro, mesmo se no horizonte tenha um possível, mas curto regresso a território norte-americano. Na Costa da Caparica, em Almada, alcançou as primeiras meias-finais em torneios ITF — um resultado que, apesar de não o ter deixado totalmente satisfeito, demonstrou o que se pode esperar do jovem de Cascais nas próximas semanas.
“As minhas ambições são sempre muito grandes. Sou assim naturalmente, mas tento concentrar-me no presente, no dia-a-dia e nas coisas que posso controlar, portanto quando comecei estas semanas não o fiz a pensar em resultados, mas mais no nível e em evoluir”, começou por contar Duarte Vale ao Raquetc entre as três vitórias que carimbou nos courts de betão poroso do Parque de Santo António da Costa da Caparica, naquele que foi o segundo torneio (antes jogou o qualifying do Porto Open Challenger) que disputou desde o regresso dos EUA.
Prestes a concluir a licenciatura em economia — falta-lhe apenas uma cadeira, que planeia concluir online até dezembro —, o jovem português de 22 anos despediu-se em pleno do prestigiado circuito universitário norte-americano com a conquista do campeonato nacional universitário por equipas e a chegada a número dois do ranking, dois feitos que superaram todas as expetativas: “Foi melhor do que eu poderia imaginar. Em termos de apoio, dos fãs que tínhamos… Tivemos os estádios cheios e quando ganhámos houve pessoas que choraram e recebi mensagens de pessoas que não conhecia a chamarem-me “D” e a dizerem-me que iam fazer uma road trip para me verem jogar. Esse tipo de mensagens fez-me perceber que estávamos a jogar por uma coisa muito maior do que nós e quando finalmente conseguimos ganhar foi a loucura, porque foi o primeiro título da equipa.”
Mas agora que está de regresso a casa, Duarte Vale quer “perceber o nível em que estou em relação aos outros jogadores e ter melhorias dia após dia e semana após semana para ver o que é que consigo fazer até ao final do ano e depois sim, pensar ‘quero chegar aqui ou ali’ em determinado prazo”. Até porque no início de 2022 terá a possibilidade de voltar aos EUA para fazer uma especialização entre janeiro e maio. “Ainda muito pode acontecer e não há nenhuma mais valia em estar já a fechar portas. Para já quero focar-me em treinar e competir ao máximo e depois, com a ajuda dos meus treinadores e da minha família, tenho a certeza de que vou tomar a decisão certa.”
E porque o profissionalismo é, definitivamente, o caminho a seguir, olha para vários exemplos. Desde os portugueses João Monteiro e Nuno Borges, que conseguiram “transições bastante positivas da universidade para o circuito”, a tenistas como Cameron Norrie, Mackenzie McDonald e Dominik Koepfer, “que estiveram lá três ou quatro anos e depois chegaram ao top 100 relativamente rápido.”
Destacando “o crescimento como pessoa fora do campo e o aspeto mental e tático do jogo, porque deixei de ser tão infantil e passei a olhar para o jogo de uma forma mais racional e menos emotiva” como aspetos chave dos quatro anos já passados na Universidade da Flórida, Duarte Vale ainda abordou a forma como, ao longo das épocas, conciliou a ligação com o treinador português, Emanuel Couto, aos treinadores norte-americanos, Bryan Shelton, Tanner Stump e Scott Perelman. “Vou sempre mantendo contacto com o Emanuel e falando sobre as coisas e quando estou lá estou com os meus três treinadores, que têm todos um grande conhecimento e me ajudaram muito técnica, tática e mentalmente de maneiras que nunca teria achado possíveis. Acho que o Emanuel respeita isso completamente, acho que confia no trabalho que faço lá e isso é muito importante para mim. Tenho sentido sempre que estando ou num sítio, ou no outro consigo fazer melhorias porque confio muito nos dois lados.”