Da derrota pesada (e sem precedentes) à desilusão, adeus de Federer deixa muitas dúvidas no ar

Foi um autêntico banho de realidade: Hubert Hurkacz venceu Roger Federer em três sets nos quartos de final de Wimbledon e impingiu ao suíço a derrota mais pesada da carreira na relva do All England Club, o palco onde é rei e senhor e no qual procurava — sem o esconder — um heróico ataque ao tão desejado título de campeão, mas do qual saiu de mãos a abanar sob uma enorme standing ovation durante a qual todos pensaram no mesmo: aquela poderá ter sido a última vez do campeoníssimo helvético no Centre Court, embora seja difícil acreditar numa despedida não anunciada.

A um mês de celebrar o 40.º aniversário (será no dia 8 de agosto), Federer apontou desde cedo o torneio de Wimbledon como o grande objetivo depois de mais de um ano de ausência com duas operações ao joelho pelo meio. E se o regresso de 2017, que o viu conquistar o Australian Open e Wimbledon e regressar a número um do ranking, lembrava que dele se tem de esperar sempre o melhor, a realidade impunha-se: cada vez mais perto de virar a quarta década de vida, para o tenista de Basileia o regresso aos courts era uma autêntica corrida contra o tempo.

As primeiras exibições do ano comprovaram-no — o regresso em Doha deixou claro que precisava de mais semanas antes de competir ao mais alto nível, a ida a Genebra foi um desastre (perdeu por 6-4, 4-6 e 6-4 para Pablo Andujar depois de liderar por 4-2 no último set) e só em Roland-Garros conseguiu dar um ar da sua graça ao superar Denis Istomin, Marin Cilic e Dominik Koepfer, mas também aí o corpo lhe aconselhou a parar tendo Wimbledon no horizonte. Por isso, chegou a Halle com menos encontros nas pernas do que os desejados e frente a Félix Auger-Aliassime, na segunda ronda, deixou muito a desejar em termos de atitude, despedindo-se com uma apatia que lhe é raríssima.

O regresso a Wimbledon esteve perto de ser um descalabro, mas um golpe de sorte permitiu-lhe “engatar” e iniciar um processo de metamorfose que dia a dia e encontro a encontro começou a convencer até os mais céticos de que, afinal, talvez houvesse uma remota possibilidade de Federer voltar a protagonizar uma quinzena triunfal.

A derrota para Hubert Hurkacz foi, por isso, um banho de realidade que levantou o pano às claras dificuldades que Federer enfrenta neste regresso, pelas circunstâncias que o obrigaram a praticamente “começar do zero” antes de voltar ao circuito. E a ovação de pé que recebeu ao abandonar o Centre Court deixou claro que os cerca de 15.000 espetadores que o esgotaram sentiram que aquela podia ser a última vez que o aplaudiam, uma possibilidade aumentada pelo discurso do próprio na conferência de imprensa: “Não sei se foi a última vez, não sei se vou voltar. O objetivo é continuar a jogar, mas neste momento não sei. Este ano consegui vir jogar e isso deixou-me muito contente, mas agora tenho de me sentar com a minha equipa.”

No entanto, custa a crer que este tenha sido um adeus. Apesar do passar do tempo jogar contra ele, Roger Federer trabalhou durante quase um ano e meio para regressar ao circuito, um regresso que aconteceu há apenas três meses e no qual foi a jogo em apenas meia dezena de torneios. Com fome de títulos, em particular de troféus em torneios do Grand Slam e na relva, dificilmente o helvético não levará a cabo com mais detalhe aquele que, isso sim, tudo indica será o último regresso. Com os 40 anos a chegar, o fim está perto — mas dificilmente acontecerá já este ano, até porque há muito se conhece a vontade que tem de o anunciar com tempo, a fim de fazer uma despedida anunciada (e aplaudida).

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