Ferrero e um diamante por polir chamado Alcaraz: “Não pode pensar que é o próximo Nadal”

Sara Falcão/FPT

OEIRAS — Campeão de Roland-Garros e número um mundial em 2003 e vencedor da Taça Davis em três ocasiões, Juan Carlos Ferrero demorou o seu tempo a abraçar a carreira de treinador, mas quando o fez acertou em cheio: a JC Ferrero-Equelite Sport Academy ganhou rapidamente fama como uma das melhores academias do mundo e atualmente tem nos quadros Carlos Alcaraz, considerado uma das maiores esperanças do ténis mundial dos últimos anos. São, por isso, várias as razões para o futuro ser brilhante, mas “El Mosquito” aborda-o com prudência — muita prudência.

“É normal que as pessoas queiram ter alguém em foco para o futuro depois do Rafa e dos outros bons tenistas espanhóis, mas não podemos cair no erro de comparar o que o Carlos pode ser ao que é o Nadal. Para o Carlos não seria bom, ele tem de fazer o seu caminho e não pensar que pode ser o próximo Nadal, porque comparar-se ao melhor da história é um peso difícil de carregar”, alertou Ferrero depois de recordar com afeto as várias passagens por Portugal enquanto tenista e pelo Complexo Desportivo do Jamor em particular, uma vez que em 2021 se assinalam 20 anos desde a sua conquista no Estoril Open.

Apesar de ser cauteloso em todas as palavras que tece sobre o seu pupilo, o tenista-tornado-treinador não escondeu que tem nas mãos um diamante por polir: “Começámos a trabalhar quando ele tinha 15 anos e sempre se destacou entre os da sua idade. Nessa altura já se via que tinha aptidões especiais para poder ascender rapidamente, como muita aceleração de bola com a direita e uma boa movimentação. Fisicamente desenvolveu-se tarde, mas no último ano e meio apostou forte no desenvolvimento físico.”

Consciente de que Alcaraz está “a evoluir muito e a queimar etapas muito rapidamente”, Ferrero não abriu muito o jogo relativamente a objetivos: “Não há nada garantido na vida a não ser a morte. O Carlos tem de acreditar que as coisas vão correr bem, mas também tem de trabalhar arduamente todos os dias. Neste momento estamos aqui e está a ser uma semana muito positiva. Em vésperas de jogarmos o qualifying de Roland-Garros é muito bom termos boas sensações”, considerou, antes de acrescentar que o seu pupilo estipulou como objetivo para este ano chegar aos 60 primeiros do ranking mundial.

“Ele vai colocando alguns objetivos em termos de ranking. Este ano queria acabar entre os 60 melhores e está a dar os passos certos nessa direção. Até ao final da época terá algumas oportunidades muito boas, com convites sobretudo para torneios ATP 250 e ATP 500, e a única coisa que lhe falta é ganhar experiência a esse nível e fazer encontros contra muitos jogadores para pouco a pouco acreditar que lhes pode ganhar e que pode ganhar torneios”, acrescentou Ferrero.

Entre alguns elogios — discretos e sem direito a comparações com compatriotas, porque não gosta de criar expetativas — houve, também, algumas indicações em relação àquilo que a dupla quer melhorar nos próximos tempos: “O Carlos tem as suas qualidades e não é o típico jogador espanhol que joga tudo com muita altura e fica à espera atrás, é um jogador que gosta de jogar em courts rápidos e ir subindo no court, que se assemelha aos jogadores que passam o tempo todo a atacar e não a defender. O ténis de hoje em dia é mais assim e ele joga assim desde pequenino, por isso não há que o mudar. Mas ainda pode melhorar muitíssimas coisas: o serviço pode melhorar muito, sobretudo na consistência e nas direções, creio que pode acreditar muito mais que tem uma direita como vi poucas no circuito e está a gostar cada vez mais da esquerda e a batê-la com muita confiança, mas também acho que ainda pode evoluir muito ao nível da movimentação.”

Pouco adepto de comparações ou de definir objetivos concretos (pelo menos publicamente), Juan Carlos Ferrero também não quis colocar em Carlos Alcaraz o fardo de favorito, optando pela expressão “tenista com possibilidades de vencer”, atitude semelhante à do 13 vezes campeão Rafael Nadal em relação a Roland-Garros.

E porque como tenista foi um dos melhores da sua geração, acredita que enquanto treinador — carreira pela qual demorou alguns anos a optar, apesar de ser sempre “o mais lógico quando deixas de ser jogador” — tem muito a passar ao seu diamante em bruto: “Ter sido número um ou sete não é assim tão relevante, agora se tiver de lhe explicar o que é estar numa final de um Grand Slam, ou de um Masters 1000, ou da Taça Davis, já vivi essas situações e isso é importante.”

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