A primeira participação de Marin Cilic no Millennium Estoril Open não podia estar a correr melhor. O croata vai jogar as meias-finais de um torneio ATP pela segunda vez em 2021 – semifinalista em Singapura, onde perdeu em dois tiebreaks para Alexei Popyrin – e as primeiras em terra batida desde a edição de 2018 do Masters 1000 de Roma. No final do encontro frente a Kevin Anderson, que terminou mais cedo do que o esperado, Cilic passou pela sala de imprensa do Clube de Ténis do Estoril.
“Foi um set de muita qualidade entre mim e o Kevin”, começou por dizer o croata, em conferência de imprensa. “Mesmo antes do encontro já estávamos à espera que pudesse haver pelo menos um tiebreak. Foi um set muito renhido e tenho que dizer que ele esteve ainda mais perto de vencer. Não servi bem no tiebreak e ele teve algumas chances”, analisou.
No entanto, a vitória no parcial caiu para o número 42 mundial, que ficou satisfeito pela força mental que apresentou: “Foi muito positivo para mim [vencer o set]. Tive uma boa energia, talvez a melhor em toda a semana, uma boa mentalidade. Como já tinha mencionado anteriormente, é muito importante para mim ter esta mentalidade esta semana, esta boa energia, esta força mental no court. É pena pela forma como o encontro terminou, porque até poderia ter três sets ou ser algo muito longo. Estas coisas podem acontecer. Estamos sempre a treinar ao máximo e o Kevin disse ontem que no treino sentiu um pouco o adutor e não se estava a conseguir movimentar bem. Não é a melhor forma de chegar a umas meias-finais, mas para mim é muito bom ter mostrado boa energia e bom ténis”.
A vitória frente a Kevin Anderson coloca Marin Cilic no caminho de Cameron Norrie nas meias-finais. O britânico, que tem vindo a realizar uma bela temporada de terra batida, mereceu elogios do croata: “Nunca treinámos nem jogámos, por isso será a primeira vez que nos vemos. Ele teve boas vitórias hoje contra o Garin e na semana passada contra alguns bons jogadores em Barcelona. Jogou os quartos de final lá e tem sido muito bom. Teve alguns jogos difíceis esta semana e eu estou à espera de um encontro complicado. Quero manter esta energia. Penso que hoje foi muito bom e se conseguir ser um pouco melhor amanhã vou ficar muito feliz. Vamos ver como vai correr o encontro, para que lado vai cair, mas o meu foco é ter esta mentalidade e esperar que também o meu jogo saia bem”.
Cameron Norrie é canhoto. Questionado sobre se gosta de defrontar tenistas canhotos, Cilic confessou que lhe agrada, mas deixou bem claro que o estilo de Norrie na terra batida é diferente do habitual: “Habituei-me a jogar com canhotos porque estive com o Goran Ivanisevic durante três anos [2013-2016]. Treinei com ele quase todos os dias e depois estive com o Ivan Cinkus [2018-2020], que também é canhoto. Joguei com canhotos durante cinco, seis anos e quase todos os dias. Habituei-me e posso dizer que gosto de jogar contra eles, mas o Cameron é um canhoto diferente do que estamos habituados. A esquerda dele é muito chapada, tem um swing muito alto na direita, adora jogar na terra batida e não joga o jogo clássico da terra. Joga chapado e depois com top spin na direita, o que é diferente. Sinto que o meu jogo se pode adaptar à maior parte dos jogadores e penso que pode encaixar bem no do Cameron”.
O momento atual de Cilic foi também abordado em conferência de imprensa, nomeadamente se o croata pensa estar ainda longe do nível de ténis que lhe valeu, entre outros feitos, a conquista do US Open em 2014. O tenista de 32 anos considera estar “no bom caminho”: “Tenho de dizer que esta semana tem sido de muito progresso para mim, passo a passo. No início da temporada estive muito em altos e baixos. Não me sentia bem em court. Tinha alguns grandes jogos, mas a minha mentalidade não estava bem e estava a começar a duvidar de mim mesmo. Jogar este tipo de torneio colocou-me a pensar ‘ok, vamos começar do início e ver o que está a funcionar, o que estou a fazer bem’. Esta semana foi muito positiva e estou muito feliz comigo mesmo. Estou no bom caminho, sinto que o meu jogo ainda pode crescer, mas não estou muito longe do meu melhor nível”.
Aos 32 anos, o que podemos esperar de Marin Cilic daqui em diante? “Sinto que ainda tenho entre três a cinco bons anos no ténis. Sinto-me bem fisicamente. Os últimos anos têm sido muito bons em termos de saúde e penso que se tudo correr bem, consigo jogar por mais três, quatro, cinco anos”, afirmou o tenista croata.
Numa era cada vez mais diferente dos tempos de Boris Becker ou Pete Sampras, que se retiraram relativamente cedo, Cilic falou um pouco sobre o que mudou no mundo do ténis: “Os jogadores têm um pouco mais de cuidado com a recuperação, a nutrição e a fisioterapia. Toda a gente viaja com fisioterapeutas e isso ajuda e prolonga as carreiras. No meu caso, dá-me a oportunidade de tentar regressar ao meu nível mais alto. Sinto que tenho tempo suficiente mas ao mesmo tempo não demasiado, por isso quero aproveitar cada dia”.
Os cuidados para os próximos anos implicam um grande rigor no planeamento, algo que Cilic já vem fazendo ao longo da carreira, muito por influência de Bob Brett, que o treinou entre 2004 e 2013. “Bob Brett foi uma grande influência para mim nessa questão. Raramente joguei mais de três semanas consecutivas e é por isso que decidi não jogar Madrid na próxima semana. Vou jogar Roma e Genebra, para não jogar quatro semanas consecutivas. Estou a poupar o meu corpo e também sinto que durante a minha carreira, quando joguei algumas vezes mais de três semanas consecutivas, alguma coisa começou sempre a doer ou a capacidade física ficou sempre reduzida. É como eu penso, por isso o planeamento vai ser muito importante, mas também o treino árduo”, concluiu.