OEIRAS — Meias-finais no torneio de 60.000 dólares do Jamor, título no 25.000 dólares no CETO. Pode dizer-se que a estadia de Anhelina Kalinina em Portugal foi bastante boa, mas a própria não embandeira em arco e considera que o que produziu em Oeiras não é suficiente para o que ambiciona alcançar. E nem um troféu quase dois anos depois a fazem mudar de ideias.
“Estive com 6-4, 2-0 e 30-0 no meu serviço. Porque não fechei aí? comecei a jogar horrível, a falhar. Ela é sólida, mas não me estava a matar em court. Quando damos à adversária uma chance de jogar, ela vai jogar. Após a desvantagem no terceiro set, passei a mover as pernas, a dar mais energia à bola, deixei de estar passiva. Quando dou à minha bola energia, começo a jogar mais agressiva e a ganhar pontos. Só que para ganhar pontos tenho de criar algo em court e colocar a adversária numa posição onde possa falhar, foi o que fiz quando estive a 0-3 e a 2-4″, analisou a campeã do Oeiras Magnesium-K Active Ladies Open momentos após a conquista do 11º título da carreira, primeiro desde Junho de 2019. “Por isso é que não estou muito feliz, porque o meu nível não está onde quero. Não é suficiente”, apontou.
Visto de fora, a ucraniana de 24 anos parceria exausta, o que não seria de supor face ao menor desgaste que apresentou até ao embate decisivo (ontem apenas disputou um encontro, e rápido, ao passo que a adversária, Su Jeong Jang, necessitou de vencer tanto os quartos de final como as meias-finais e passou praticamente cinco horas em jogo). Mas a explicação é simples. “Estava cansada porque não tenho jogado muitos torneios, sobretudo por causa de toda a situação, além de que jogar em terra também significa que os jogos são mais físicos. Mas estou muito feliz por finalmente ter estes jogos onde posso passar mal e espero nos próximos não fazer os mesmos erros e não criar problemas a mim própria. Quando comecei a jogar o meu jogo, comecei a ganhar”. E finalmente bateu a sul-coreana, depois de desaires nos dois anteriores compromissos entre ambas.
Antiga finalista do Open dos Estados Unidos no escalão júnior, em 2014, e campeã de pares na Austrália no mesmo ano, Anhelina Kalinina não confirmou ainda o potencial apontado em tenra idade, apesar de já ter estado perto do top 100 mundial, quando foi 107 em 2018. “Sou de 1997 e muitas da minha geração, como a Ostapenko, a Osaka e a Kasatkina já ganharam Grand Slams ou grandes eventos”, lembrou quando questionada sobre até onde pode chegar e porque a transição para os profissionais não foi fácil. “Joguei muito bem nos juniores, mas depois falhei um ano com uma operação ao ombro direito. E passei mais um ano para estar confortável depois da operação. Quando dei por mim já tinha 20 anos”.
Até por isso não é surpreendente que as suas metas sejam bastante prudentes. “Falta consistência, não só em no meu nível de jogo, mas sobretudo em estar saudável de forma consecutiva. O meu objetivo é jogar sólido. Ser top 100 significa ganhar pontos e jogos ou grandes torneios. Não quero colocar pressão e pensar no ranking. Esta semana só venci um encontro com alguma facilidade [semifinais frente a Simona Waltert por duplo 6-2]. Apenas tenho de trabalhar no duro. Não consigo dizer quando vou lá chegar [ao top 100]. Neste momento estou feliz por estar saudável. Tenho de ser inteligente porque estes jogos mostraram que ainda não sou boa suficiente e com outras jogadoras não tinha a hipótese de voltar ao encontro a partir do 3-0 ou 4-2. Imagina estar a jogar contra a [Aryna] Sabalenka, ela matava-me por 6-0 e 6-0 com este nível”, destacou a atual 164.ª melhor do mundo, patenteando uma vez mais a insatisfação pelo ténis praticado.
“O meu maior objetivo é saltar para o nível maior, para o WTA. ITF e WTA são muito diferentes. Se jogar bem aqui consigo saltar para o patamar acima e participar em torneios grandes como Miami ou Indian Wells. É bom competir aqui, mas o meu objetivo é ganhar pontos para jogar os eventos maiores. Para mim todos os torneios são importantes, seja este ou Roland-Garros. Não vejo os torneios de 25.000 dólares só para aquecer, dou sempre 100% seja onde for. Se jogar bem aqui, jogo bem nos maiores”. Para já, desloca-se para Zagreb para um 60.000 dólares, mas tem o Grand Slam francês à vista, onde vai tentar furar a fase de qualificação.
Orientada pelo seu marido Anton Korchevskyy (antigo jogador, apenas no escalão júnior, que viu a carreira interrompida pelas lesões), Kalinina só vê vantagens na associação profissional com o cônjuge. “É o nosso trabalho. Não temos duas vidas separadas, apenas uma onde fazemos o nosso trabalho. É uma vantagem, pois estamos sempre juntos. Claro que às vezes é duro, mas entendemo-nos bem. Eu tento sempre ser mais paciente e ele hoje estava muito nervoso e não pôde ver este jogo sem valeriana [planta que inserida em chá, por exemplo, combate a ansiedade]“, disse, entre risos. “Ele não ficou contente com algumas coisas que fiz hoje e eu sabia que ele estava certo”. A sintonia entre ambos parece ser evidente em relação ao nível da ucraniana na final do CETO.
Estreante nas visitas ao nosso país, Anhelina Kalinina só tem pontos positivos a destacar destas duas semanas em Oeiras. “Foram dois bons eventos, gostei muito da comida, dos courts e do hotel. A organização deu-nos tudo”, enalteceu, corroborando as bonitas palavras deixadas na cerimónia da entrega de prémios, onde fez questão de realçar que as condições dadas às tenistas foram melhores do que muitos eventos de nível bem superior.
