Rui Machado sobre o Oeiras Open: “Não estava nada à espera que corresse tão bem a tantos jogadores”

Sara Falcão/FPT

OEIRAS — Depois de duas semanas que marcaram o regresso do ATP Challenger Tour a Portugal, o Coordenador Técnico Nacional, Rui Machado, fez um balanço da participação portuguesa nos dois Oeiras Open — não escondendo que superou as expetativas.

“Ficou claro aos olhos de todos que estas duas semanas foram excelentes para o ténis nacional. São sempre, a todos os níveis, mas os resultados também foram. Tivemos jogadores em fases completamente diferentes das [respetivas] carreiras e cada um deles soube aproveitar à sua maneira e de acordo com o seu nível a oportunidade que teve. Alguns deles quebraram barreiras pessoais, o que fará com que saiam daqui certamente mais confiantes em relação ao futuro”, começou por referir o ex-jogador na conferência de imprensa que encerrou a segunda semana de Oeiras Open.

Antes de falar ao detalhe sobre os tenistas que mais se destacaram, Rui Machado reconheceu que “não estava nada à espera que corresse tão bem a tantos jogadores” e reforçou que se trataram de “duas semanas extraordinárias em termos de resultados para os portugueses.”   

Nuno Borges, que nestas duas semanas foi acompanhado pela equipa do Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis, liderada por Rui Machado, foi o primeiro a merecer comentários detalhados do treinador algarvio — precisamente por ter sido a grande figura da segunda semana, ao chegar pela primeira vez à final de um torneio Challenger.

“Foi uma semana super positiva para ele. Teve uma derrota difícil na semana passada, num encontro em que teve as suas oportunidades e não as conseguiu concretizar, e depois trabalhou muito bem durante a semana. Quando assim é, quando se está focado e se trabalha com confiança naquilo que se está a fazer e se tem ambição, ou ‘ilusión’ como se costuma dizer em espanhol, uma mistura de sonho e querer, quando se tem isso muito presente os resultados aparecem e esta semana foi excelente para o Nuno”, começou por afirmar Rui Machado, que não quis ser tão preciso quanto Gastão Elias, mas reconheceu o potencial do jovem maiato de 24 anos.

“O ténis já me deu tantas surpresas que não gosto muito de prever até onde é que um jogador pode ou não chegar. Gosto muito mais de me focar naquilo que há para melhorar e em explorar o potencial de cada atleta. E o Nuno é um competidor nato e tem potencial para fazer grandes resultados e grandes coisas no ténis”, acrescentou, já depois de ter lamentado as oportunidades desperdiçadas por Nuno Borges na final frente a Pedro Cachin: “O que aconteceu hoje não vai acontecer muitas vezes na carreira dele. É esquisito ter acontecido o que aconteceu, mas é uma final e as coisas estranhas acontecem nas finais, porque há muito mais tensão e há muito mais em jogo. Foi a primeira vez que jogou a final de um Challenger e isso faz toda a diferença, mas vai sair daqui com várias lições e espero que saia motivado, porque tem todas as razões para sair motivado.”

As duas semanas de Oeiras Open terminaram com Nuno Borges a chegar à primeira final a este nível, mas oito dias antes também Gastão Elias discutiu um título. Foi o primeiro encontro decisivo para o ex-top 60 ATP em torneios do ATP Challenger Tour em mais de três anos e na opinião de Rui Machado tratou-se de “um confirmar do que eu já tinha visto antes.”

“O Gastão é um excelente jogador, que todos conhecemos e sabemos do que é capaz. Não tinha grandes dúvidas de que ele o poderia fazer [regressar a finais Challenger] porque nos últimos tempos já o tinha visto com um foco completamente diferente, aquele foco que lhe deu grandes resultados. Está outra vez a jogar a um bom nível e estou muito contente por vê-lo sair daqui com bons resultados e referências, porque vão dar-lhe confiança para o futuro e o que queremos é que o ténis português tenha bons resultados”, frisou.

Palavras de apreço mereceu, também, o trabalho realizado por Tiago Cação, que culminou na chegada aos primeiros quartos de final da carreira em torneios Challenger e, uma semana mais tarde, no igualar desse resultado. “Foram duas grandes semanas. Ele trabalhou bem antes dos torneios, tem vindo a fazer uma espécie de upgrade naquilo que é a entrega dele em todo o processo e acho que essa é a grande conquista. Fez aqui muito bons jogos e teve uma excelente atitude, a atitude certa e na maioria dos casos a lucidez certa, e se conseguir ser consistente isso vai traduzir-se em resultados. O grande desafio é mesmo esse, que ele seja consistente neste nível. E isso é o treino que torna possível e faz com que seja mais fácil jogar e não se desgastar tanto para ter este nível de atitude, entrega e consistência mental”, referiu sobre o jogador com que trabalha diariamente no CAR.

Visivelmente satisfeito com os resultados obtidos nas duas semanas de Oeiras Open, Rui Machado não esqueceu os jovens que aproveitaram as primeiras oportunidades para atingir marcos importantes, desde Tiago Torres — que conquistou o primeiro ponto ATP da carreira — a Henrique Rocha, que também inscreveu pela primeira vez o nome no ranking do circuito mundial masculino e ficou, aliás, muito perto de carimbar o apuramento para o quadro principal.

“Os wild cards servem para darmos uma oportunidade a alguns portugueses de competirem em torneios melhores e a decisão tem muito a ver com uma combinação entre o nível e o potencial do atleta, que também está relacionado com a idade. Apesar de ser muito jovem [fez 17 anos já durante o segundo torneio], o Henrique demonstrou que tem claramente nível para competir. Jogou contra três jogadores do top 400, ganhou a um e perdeu duas vezes em três sets, um deles ganhou o torneio e o outro fez quartos de final”, começou por explicar.

“O objetivo é dar-lhes uma experiência diferente, a um nível diferente, e a oportunidade de estarem inseridos num torneio destes e poderem treinar com estes jogadores e testarem o nível durante duas semanas, para perceberem o muito que têm de trabalhar, mas também que na verdade não estão assim tão longe. E isso foi claramente conseguido. Estamos muito contentes com as oportunidades que demos e penso que foi excelente para o percurso dos mais novos terem a oportunidade de treinar e competir aqui. São estes momentos que marcam a carreira dos atletas”, concluiu Rui Machado.

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