Ténis no seu melhor: um encontro que parecia resolvido transformou-se numa batalha titânica e terminou com Stefanos Tsitsipas a consumar a reviravolta sobre Rafael Nadal para chegar pela terceira vez na carreira às meias-finais de um torneio do Grand Slam, segunda no Australian Open.
Depois de dois sets de sentido único em que viu expostas todas as suas fragilidades no frente-a-frente com o espanhol, Tsitsipas misturou na perfeição a paciência com o sentido de oportunidade para construir a reviravolta, que assinou com os parciais de 3-6, 2-6, 7-6(4), 6-4 e 7-5 ao fim de 4h05.
Com quatro vitórias em sets diretos e os problemas nas costas deixados para trás, foi Nadal quem dominou por completo a fase inicial do encontro: o número dois mundial nem entrou a um ritmo fulminante, mas não abriu a porta a Tsitsipas, que por sua vez esteve vários furos abaixo do seu melhor ténis e, à imagem das meias-finais de 2019, não teve soluções para causar dificuldades ao maiorquino nem com a pancada de serviço.
À procura de um segundo título em Melbourne, Nadal expôs as fragilidades da esquerda a uma mão de Tsitsipas (falta-lhe profundidade e potência para ser uma verdadeira arma neste frente-a-frente) e aproveitou de forma exímia a direita ao longo da linha pouco decisiva para contra-atacar com a direita de esquerdino numa situação que, em teoria, seria de maior pressão para o seu jogo.
De facto, o domínio do maiorquino de 34 anos estava a ser tal que, mesmo com a subida de nível do grego na terceira partida, o encontro parecia aproximar-se a alta velocidade da conclusão. Só que a paciência demonstrada por Tsitsipas durante os 12 primeiros jogos (em que subiu consideravelmente o nível do serviço para se manter a par do marcador apesar de só ao cabo de 23 pontos, ou seja, ao 40-0 do 5-6, ter ganho um ponto no “saque” de Nadal) deu finalmente frutos.
No tie-break, Nadal falhou um smash e desperdiçou de imediato o mini-break conseguido no primeiro ponto, um erro não forçado que ditou uma alteração no rumo dos acontecimentos: a partir desse momento, o nível médio do espanhol baixou consideravelmente (seguindo-se inclusive mais um smash falhado) e o ascendente passou para o lado de Tsitsipas, que apresentou nervos de aço para vencer o tira-teimas e reentrar na discussão do encontro.
E se a entrada no encontro foi desastrosa e ficou marcada pela falta de soluções, a partir daí Tsitsipas revelou-se outro jogador: muito mais esclarecido, o grego soube prolongar a duração média das trocas de bolas, aumentando o desgaste físico de Nadal e obrigando o espanhol a falhar mais pancadas perante condições de jogo cada vez mais lentas e húmidas, que exigem outra disponibilidade física (favorável ao grego não só pelos 12 anos de diferença, mas também pela “folga” ganha com a desistência de Matteo Berrettini na ronda anterior).
Demasiado passivo nos primeiros sets, o campeão em título do Millennium Estoril Open encontrou a melhor versão de si próprio para carimbar a segunda reviravolta da carreira depois de perder os dois primeiros sets — curiosamente a segunda frente a um maiorquino (já o tinha feito contra Jaume Munar, na primeira ronda de Roland-Garros) — e impor apenas a segunda derrota de Rafael Nadal em 223 encontros em torneios do Grand Slam depois do espanhol vencer as duas primeiras partidas, repetindo o feito conseguido por Fabio Fognini no US Open de 2015.
Derrotado por Nadal nas meias-finais do Australian Open de 2019 (quatro dias antes surpreendeu tudo e todos ao afastar o bicampeão em título Roger Fedrer na quarta ronda), desta vez Stefanos Tsitsipas vai discutir com Daniil Medvedev o apuramento para a grande final, depois do russo ter levado a melhor sobre o compatriota Andrey Rublev por 7-5, 6-3 e 6-2.