Tinha tudo para ser o prato forte da jornada e não desiludiu: Nick Kyrgios deu espetáculo e esteve encaminhado para uma vitória inesquecível, mas Dominic Thiem recuperou a tempo de destroçar os corações da casa para regressar à quarta ronda do Australian Open, vencendo o que pode ter sido um dos últimos encontros a contar com a presença de público nas bancadas.
Muito pragmático, o austríaco deixou para trás uma entrada muito apática no duelo e soube construir, com tempo e paciência, uma reviravolta apoiada numa pancada de serviço cada vez mais sólida, na mudança de temperatura que tornou as condições de jogo mais lentas (mais ao seu gosto e prejudiciais sobretudo para o serviço do adversário) e o já habitual modo de autodestruição de Kyrgios, que entre palpites na direção da equipa técnica, descontentamento em relação ao público e várias discussões com o árbitro de cadeira deixou escapar o que teve nas mãos.
Depois de vencer os dois primeiros sets, o australiano desperdiçou importantes oportunidades de break no começo da terceira partida, numa altura em que Thiem ainda estava longe de atravessar uma boa fase no encontro. A partir daí, Kyrgios mostrou-se incapaz de ser tão dominante quanto nos parciais anteriores e mesmo continuando a apresentar algum do seu melhor ténis a espaços já não conseguiu segurar o ascendente, abrindo caminho a que Thiem começasse a construir a reviravolta que culminou no triunfo pelos pelos parciais de 4-6, 4-6, 6-3, 6-4 e 6-4 após 3h20.
Houve excelente ténis de parte a parte e um ambiente arrepiante e inesquecível a poucas horas do estado de Victoria entrar num mini-confinamento que voltará a afastar o público das bancadas de Melbourne Park.
Vice-campeão de 2020, Dominic Thiem tem a seu favor a certeza de não perder os pontos alcançados há um ano — devido ao congelamento dos rankings, os que estão em causa são os de 2019, em que se ficou pela segunda ronda. Mas o austríaco quer mais do que apenas “defender” e nesse sentido o próximo adversário na procura pelo segundo título em torneios do Grand Slam (estreou-se em conquistas desta dimensão no último US Open) será o fresco Grigor Dimitrov, que liderava por tranquilos 6-0 e 1-0 quando Pablo Carreño Busta desistiu, lesionado.