Foi por muito pouco que o quinto dia do Australian Open não terminou com uma enorme surpresa: Novak Djokovic deixou escapar uma vantagem de dois sets a zero e, lesionado, esteve muito perto da eliminação, mas recuperou a tempo de impedir a maior vitória da carreira do jovem norte-americano Taylor Fritz e vencer, por 7-6(1), 6-4, 3-6, 4-6 e 6-2, para chegar aos oitavos de final do torneio em que é recordista de títulos.
Depois de dois parciais bem disputados e equilibrados, ao longo dos quais teve de lidar com alguns assobios do público, o campeão em título começou a dar sinais de muitas dores na zona abdominal do lado direito do corpo e o nível tenístico desceu consideravelmente. Do outro lado, Fritz, que já tinha dado muito boa réplica nos dois primeiros sets, aproveitou as circunstâncias e transformou as dificuldades de Djokovic no começo de uma recuperação, que já ia bem encaminhada quando se deu um episódio caricato — bem à imagem da situação que o globo enfrenta.
Quando se preparava para servir a 3-2 do quarto set, Fritz teve de recolher ao túnel de acesso ao court (tal como Djokovic) para que a organização pudesse evacuar o público da Rod Laver Arena a tempo do confinamento obrigatório de cinco dias imposto pelo governo de Victoria a partir da meia-noite local.
De um momento para o outro, o bom ambiente transformou-se em silêncio absoluto, mas o ascendente do norte-americano de 23 anos não foi perturbado: tão sereno como quando abandonou a ação, Fritz regressou determinado em aproveitar a situação e conseguiu vencer tranquilamente o quarto set para encurtar o caminho da reviravolta.
Contudo, a paragem teve melhor efeito em Djokovic, que aproveitou a interrupção para recuperar o folgo e tomar um analgésico que lhe permitiu entrar no quinto set com outra disponibilidade física e aparentemente menos perturbado pelas dores. Os efeitos foram visíveis logo nos primeiros pontos e intensificaram-se à medida que os dois jogadores seguraram os respetivos serviços, até que ao sexto jogo o tenista natural de Belgrado aproveitou o primeiro ponto de break de que dispôs desde a segunda partida.
Era o golpe fatal de que precisava para colocar um ponto final na recuperação de Taylor Fritz, que só poderá colocar sobre si a culpa deste resultado, uma vez que assumiu uma postura demasiado passiva quando tomar a iniciativa e forçar Djokovic a lutar por todos os pontos era a solução evidente.
Testado por dois norte-americanos nas últimas rondas, Djokovic terá uma barreira ainda maior pela frente nos oitavos de final: o canadiano Milos Raonic, que entre um jogo completo tem um primeiro serviço capaz de lhe criar dificuldades sem precedentes num court que está 20% mais rápido em relação ao último ano.