A quarta edição do Lisboa Belém Open aquece a todo o gás para começar no fim de semana com o elenco mais equilibrado de sempre: nunca a lista de inscritos no quadro principal do mais importante torneio de ténis do concelho de Lisboa teve um “cut-off” tão elevado (209.º) nem uma adesão tão acentuada de jogadores que sabem o que é celebrar no ATP Challenger Tour.
Com um total de 44.820 euros em prémios monetários, o torneio, organizado pela Unisports, MP Ténis e Federação Portuguesa de Ténis e com os apoios da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Belém, foi adiado de 4-10 de maio para 10-18 de outubro devido à pandemia de covid-19 e será o primeiro evento tenístico internacional de grande dimensão a acontecer no país em 2020. Devido à situação atual, o torneio acontecerá sem a presença de público nas bancadas.
O mais cotado entre os inscritos quase dispensa apresentações: atualmente com 23 anos, Jaume Munar (109.º ATP) partilha não só o local de nascimento como o de treinos com o compatriota Rafael Nadal, que desde cedo lhe reconheceu talento e ajudou a dar os primeiros passos rumo à profissionalização. E a verdade é que o percurso tem corrido bem ao mais novo dos tenistas de Maiorca: depois de chegar à final do torneio júnior de Roland-Garros, em 2014 (que perdeu para Andrey Rublev), conseguiu ser rápido a construir um currículo interessante no circuito profissional e para além do 53.º lugar alcançado em maio de 2019 já disputou seis finais Challenger, das quais venceu quatro — duas delas no verão de 2018, depois de participar no Lisboa Belém Open (foi travado pelo futuro campeão Cristian Garín) e de derrotar David Ferrer em Roland-Garros.
Logo a seguir surge Pedro Sousa. A jogar em casa, o lisboeta de 32 anos é o líder da armada lusa que irá desembarcar no Club Internacional de Foot-ball (CIF). Número dois nacional e 113 ATP, disputou no último domingo a 14.ª final Challenger da carreira (tem 7 títulos) ao sagrar-se vice-campeão em Split, na Croácia, meses depois de ter discutido pela primeira vez um título em torneios ATP — foi vice-campeão do Argentina Open, em Buenos Aires, onde se tornou no terceiro português da história a jogar uma final ao mais alto nível na variante de singulares.
Como ele, também João Domingues (161.º ATP) sabe o que é conquistar um título Challenger em Portugal (foram os dois primeiros vencedores do Braga Open, em 2018 e 2019, respetivamente). Depois de seis meses de paragem, a contas com uma lesão no pulso e a pandemia, o oliveirense regressou ao circuito na terra batida de Roland-Garros e estará no CIF à procura do regresso à forma que antes da interrupção do circuito o levou a brilhar na Golden Swing da América Latina, onde chegou ao quadro principal do ATP 250 de Buenos Aires e à segunda ronda do ATP 500 do Rio, resultados que o catapultaram para o melhor “ranking” da carreira (150.º).
O terceiro português a ter entrada direta no quadro principal do Lisboa Belém Open é Frederico Silva. A atravessar uma das melhores fases da carreira (é o 196.º do “ranking” ATP), o jogador natural das Caldas da Rainha foi o único português a chegar à última ronda do “qualifying” em Roland-Garros e ficou muito perto do primeiro quadro principal da carreira em torneios do Grand Slam. No circuito Challenger ainda procura a primeira presença em finais, mas ao longo dos últimos meses reuniu vitórias sonantes que o ajudaram a tornar-se no 13.º português a chegar ao top 200 ATP de singulares.
Apesar dos resultados recentes e subidas consideráveis no “ranking”, salvo desistências de última hora apenas Pedro Sousa fará parte da lista de oito cabeças de série, reflexo de duas características desta edição: a recuperação dos quadros principais de 32 jogadores (em vez de 48, que tinham 16 cabeças de série com “bye” na primeira ronda) e “qualifyings” de 16, em detrimento de quatro; e a forte afluência de tenistas entre os 200 primeiros do “ranking” mundial, que faz deste (209.º) o melhor “cut-off” de sempre do Lisboa Belém Open — em 2019 o último jogador a entrar diretamente no quadro principal foi Viktor Troicki, 237.º; em 2018 foi Lukas Rosol, 258.º; e em 2017 o “estatuto” coube a Prajnesh Gunneswaran, o 274.º classificado.
Mais impressionante ainda é a elevada presença de tenistas que sabem o que é vencer no ATP Challenger Tour: entre os 23 confirmados no quadro principal, só dois (Frederico Silva e Dmitry Popko) ainda procuram os primeiros títulos — e o cazaque até já disputou uma final.
Dos 21 campeões, o mais galardoado é Paolo Lorenzi. Com 21 títulos, o italiano não só é o terceiro jogador da história com mais troféus de campeão conquistados no ATP Challenger Tour (só superado por Dudi Sela, com 23, e Yen-Hsun Lu, com 29), como o segundo com mais vitórias: são já 415 triunfos, registo apenas aquém do de Ruben Ramirez Hidalgo (423), atual treinador… De Pedro Sousa. Lorenzi já conta 38 primaveras celebradas e tem como melhor classificação no circuito ATP o 33.º lugar alcançado em maio de 2017, a época em que disputou as duas últimas de quatro finais a esse nível (1 título, 3 vice-campeonatos).
Não muito atrás do registo do romano está o de Blaz Kavcic, esloveno de 33 anos que já venceu 17 torneios Challenger em singulares (é a sexta melhor marca de sempre) e vai jogar o Lisboa Belém Open com “ranking” protegido.
Incontornável é, também, a inscrição de Hyeon Chung. Campeão da primeira edição do ATP NextGen Finals, em 2017, o sul-coreano nascido em Suwon foi número 19 do mundo meses depois de chegar às meias-finais do Australian Open (onde derrotou Daniil Medvedev, Alexander Zverev e Novak Djokovic) e aos quartos de final dos Masters 1000 de Indian Wells e Miami. Nos últimos anos, o ex-top 20 tem sido assolado por várias lesões e desceu no “ranking” (150.º), mas será um dos jogadores a observar na terra batida do CIF.
Cabeças de série de acordo com a lista de inscritos:
1. Jaume Munar (Espanha), 109.º ATP
2. Pedro Sousa (Portugal), 113.º
3. Paolo Lorenzi (Itália), 130.º
4. Federico Gaio (Itália), 132.º
5. Cedrik-Marcel Stebe (Alemanha), 133.º
6. Tallon Grikspoor (Holanda), 138.º
7. Blaz Rola (Eslovénia), 147.º
8. Hyeon Chung (Coreia do Sul), 149.º
O quadro principal ficará completo com a atribuição dos três “wild cards” à disposição da organização (que poderão alterar a lista de cabeças de série), o desenrolar do “qualifying” (no qual são apurados quatro jogadores) e dois lugares destinados a “special exempts” — tenistas que alcancem pelo menos as meias-finais na semana anterior. Se não forem utilizadas, as duas vagas darão lugar a tenistas que estão na aliciante a lista de “alternates”. O francês Mathias Bourgue (211.º) é quem está em melhor posição, mas os nomes mais sonantes são os de Sebastian Korda (em segundo lugar) e Hugo Gaston (16.º alternate). O norte-americano e o francês foram as duas grandes figuras da primeira semana de Roland-Garros, onde quebraram vários recordes e só foram travados por Rafael Nadal e Dominic Thiem, respetivamente.