Um tira-teimas e um choque entre universitários no dia das decisões

Beatriz Ruivo/FPT

A chuva ameaçou os planos, mas passou a tempo de se conhecerem os quatro protagonistas do derradeiro dia do Circuito Sénior da Federação Portuguesa de Ténis, que coroa os últimos campeões este domingo, no Tennis Club da Figueira da Foz.

No quadro feminino, as duas melhores tenistas portuguesas da atualidade vão medir forças pela terceira semana consecutiva — e novamente numa final. Francisca Jorge (vencedora da etapa da Vale do Lobo Tennis Academy) confirmou o estatuto de primeira cabeça de série, fruto do 579.º posto no “ranking” mundial, e derrotou Ana Filipa Santos, por 6-3 e 6-1.

Foi a 14.ª vitória em 15 encontros para a tenista vimaranense de 20 anos, que vai tentar adicionar o título na Figueira da Foz aos de campeã no Open de Oeiras e na primeira etapa do Circuito Sénior FPT.

“O resultado não diz o que foi o encontro, porque só mostra quatro jogos para o lado dela quando houve muitos que foram a vantagens e em que ela podia ter fechado, mas acho que joguei para ganhar e mereci a vitória. Houve momentos mais sofridos, mas consegui ultrapassá-los. Um dos meus objetivos para hoje era estar mais positiva durante o encontro, porque ontem [no último encontro da fase de grupos] tive momentos em que me critiquei muito e isso apoderou-se da minha cabeça. Hoje estive melhor, tive mais discernimento”, reconheceu a tenista do Centro de Alto Rendimento.

À vitória de Francisca Jorge seguiu-se a de Inês Murta e também de forma autoritária: embalada pela vitória no Lisboa Racket Centre, a jogadora algarvia de 23 anos não foi tão agressiva quanto nas exibições anteriores, mas ainda assim conseguiu dominar do início ao fim o reencontro com Maria Inês Fonte (18 anos e 912.ª WTA) para vencer pelos parciais de 6-2 e 6-1.

“Hoje tinha um plano de jogo mais determinado, mas senti-me bastante presa, especialmente na fase final do encontro. Senti que a minha bola não estava a andar como gosto. Consegui solucionar mais ou menos bem o jogo, mas achei que devia ter sido mais agressiva, que devia ter subido mais à rede e libertado mais o pulso para meter a bola a andar mais”, disse a atual número dois nacional na análise ao encontro que lhe deu o sétimo triunfo consecutivo (e o 10.º desde o regresso aos torneios).

Na antevisão à terceira decisão em três semanas, as duas jogadoras reforçaram que o objetivo principal é conseguirem recuperar as sensações que lhes permitam estar preparadas para o regresso à competição internacional — que está previsto para meio do mês de agosto.

Francisca Jorge quer “desfrutar do jogo e jogar de forma mais solta, sem pensar tanto no resultado, mas sim no processo e na evolução. É muito fácil dizer isto quando se está cá fora, depois de uma vitória, mas é aquilo em que me vou tentar focar. Hoje já fui mais positiva nesse aspeto e pode ser que amanhã consiga tomar ainda mais a iniciativa.”

Inês Murta salientou que “com ou sem segredos entre nós, o que interessa é o que conseguimos pôr em prática naquele dia e isso pode variar por diferentes razões, portanto espero conseguir fazer o meu jogo independentemente da forma como as coisas estiverem a decorrer e estar com uma boa atitude.”

A final feminina está marcada para as 15h de domingo. Depois, Nuno Borges e Duarte Vale vão discutir o título masculino numa final entre dois “universitários”.

Aos 23 anos, e depois de ter concluído os estudos na Mississippi State, Nuno Borges preparava-se para realizar a primeira temporada a “full time” no circuito profissional quando uma lesão no pulso e a pandemia lhe alteraram os planos. Mas o tenista natural da cidade da Maia está a reagir bem à situação e, depois de ter eliminado os dois melhores portugueses de sempre no “ranking” ATP — João Sousa e Gastão Elias — para conquistar o título na Vale do Lobo Tennis Academy, está novamente apurado para uma final do Circuito Sénior FPT.

Ex-número 1 do circuito universitário norte-americano, Borges tinha acabado de igualar o encontro com Frederico Silva (que o derrotou na semana passada, rumo à vitória final em Lisboa) quando o caldense, segundo cabeça de série e 193 ATP, desistiu, com uma lesão na anca esquerda.

“Tenho andado com uma dor na zona da anca esquerda desde o jogo da semana passada, com o João Sousa. Precisava de mais uns dias para recuperar entre esse jogo e este torneio, mas não os tive. Fui fazendo fisioterapia e tentando recuperar ao máximo jogo após jogo, mas hoje senti a perna cada vez mais presa e a limitar-me bastante os movimentos e já praticamente não estava a conseguir jogar. Decidi não forçar mais para ver se consigo estar bem na próxima semana, para o Campeonato Nacional Absoluto”, explicou.

Nuno Borges, por sua vez, considerou ter sido “um jogo complicado enquanto durou” e abordou as dificuldades que enfrentou: “Senti muitas emoções diferentes, senti-me bem e senti-me mal. Senti-me ‘on edge’, a cair para o lado negro, um bocadinho sarcástico e negativo. Tentar manter-me positivo e confiante foi a chave para conseguir ganhar o segundo set. Vai ser algo que com que eu vou ter de lutar durante a minha carreira, tenho muita tendência a expressar-me muito e às vezes não me ajuda, mas manter-me lá mentalmente foi a chave para conseguir continuar a competir.”

Do outro lado da rede na final estará outro jovem com “influências” norte-americanas. Com 21 anos, Duarte Vale está a meio da licenciatura na University of Florida e já se tornou num dos melhores jogadores do circuito, mas com a pandemia regressou a Portugal e é por cá que continua a somar vitórias: depois das oito que lhe valeram o título no Open de Oeiras (começou na fase de qualificação e só parou com o troféu de campeão nas mãos) e das duas que lhe deram um lugar nas meias-finais em Lisboa, selou o terceiro triunfo no Tennis Club da Figueira da Foz.

Num encontro que começou de dia e foi interrompido pela chuva, foi já de noite, sob os holofotes, que conseguiu derrotar novamente Luís Faria (contra quem salvou dois “match points” em Oeiras) para seguir em frente. Desta vez, com os parciais de 7-5, 3-6 e 6-3.

“É um alívio. A pausa deixou-me nervoso, porque quando entro no jogo os nervos vão-se. Para além de contente, estou aliviado. Voltei a jogar muito melhor do que antes e beneficiei mais com a paragem do que ele”, confessou logo após o encontro.

Na entrevista pós-vitória, Duarte Vale admitiu que a boa atitude — que é seu apanágio — foi essencial para selar a vitória:  “Ajudou bastante. Fui muito positivo e disse a mim mesmo que tudo aquilo que saía da minha boca ia ser positivo. Quer para o adversário, quer para mim. Isso cria boa energia. No início não estava a jogar bem e há coisas que não conseguimos controlar, todos temos maus dias, mas a minha atitude é algo que posso sempre controlar. Não há razão nenhuma para me queixar ou deixar-me ir abaixo. Essas são coisas que podemos controlar.”

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