Frederico Silva foi a grande figura da semana no Lisboa Racket Centre, onde completou uma semana de vitórias para conquistar o título de campeão da segunda de três etapas do novo Circuito Sénior FPT. Após a final, o treinador Pedro Felner fez uma análise ao percurso, ao encontro com João Sousa e ao que está para vir.
“O Frederico conseguiu jogar com as suas armas e impor as coisas que faz bem para anular o jogo do João. Esteve mais focado e mais tranquilo. O contexto do jogo também o favorecia e tudo isso acabou por dar-lhe uma vitória quase natural pela forma como o jogo estava a decorrer. Teve mérito em anular taticamente o jogo do João, que não conseguiu estar suficientemente tranquilo para poder lutar pelo jogo”, referiu o diretor da Felner Academy. “Mas acho que o João Sousa é um exemplo de humildade, de perseverança e de trabalho e ainda nos falta alguma coisa para estar ao nível dele.”
“Para ser mais específico, a diferença entre jogadores como o João e o Frederico para os outros passa muito pela agressividade e a velocidade que eles impõem no jogo, mas quando não têm ritmo e confiança coloca-se a questão de as tentarem impor correndo o risco, ou não ter essa confiança e baixar a intensidade, procurando controlar mais o que estão a fazer. Só que ao fazerem isso permitem que os outros joguem mais. E o João Sousa modificou a sua forma de jogar. O João que jogou em Vale do Lobo não foi o mesmo que jogou aqui em termos de abordagem ao jogo: contra o Nuno Borges ele tentou fazer o jogo dele, a bater muito forte na bola e tentar ser logo muito mais agressivo nas primeiras bolas do ponto, mas em Lisboa vi-o a procurar trocar mais a bola”, desenvolveu.
“Achava que o João Sousa hoje não ia ser muito ofensivo, porque ainda não está com confiança para isso, e quando ele sentiu que tinha de o ser para ganhar o jogo não teve a capacidade de o fazer, porque o Frederico foi muito sólido e taticamente jogou de uma forma que lhe dificultou a vida. O grande mérito do Frederico foi conseguir impor os aspetos em que é mais forte, nomeadamente a resposta ao segundo serviço, e ao serviço em geral, e usar a esquerda paralela que é muito forte e que não sobe o suficiente para o João conseguir atacar. O facto dele ser esquerdino e cruzar a direita também dificulta que o João fuja à esquerda para apanhar a bola como ele mais gosta, com a direita a três quartos”, acrescentou.
Para Pedro Felner, houve um outro fator fundamental para o resultado final sorrir ao seu pupilo: “Ter entrado muito forte foi fundamental, porque isso deixou o João ansioso e acabou por influenciar todo o encontro. Sabíamos que se ele entrasse a ganhar a nossa tarefa seria dificultava, porque se o João fica break acima relaxa, mas se entrássemos por cima, e com mérito como o Frederico fez, a responder muito agressivo ao serviço e com direitas cruzadas e winners paralelos na esquerda dele isso podia criar dúvidas ao João.”
Depois de referir que “estes torneios servem essencialmente para ganharmos ritmo competitivo e pormos em competição algumas das coisas que temos tentado melhorar”, Pedro Felner reconheceu que “não é fácil para os melhores jogadores jogarem neste contexto, porque vêm de muitos meses parados e sem sensações de competição, sem estarem sem pressão, e depois é difícil lidar com essas situações. Isso hoje de certeza que teve peso no João, como teve no Frederico há uma semana.”
Em jeito de conclusão, o treinador português fez questão de valorizar João Sousa: “Acho que é muito mal tratado, e de forma injusta, quando tem dias menos bons, nomeadamente nas redes sociais. São pessoas que não têm nenhuma cultura desportiva e que não fazem ideia das dificuldades que os jogadores passam, ou do que está em jogo, e fazem críticas atrás de críticas, mas o que é certo é que ele é o melhor jogador português de sempre e há que respeitar isso.”
“Por isso é que eu digo que apesar do Frederico ter tido muito mérito em ganhar este jogo, é preciso ver que ainda nos faltam coisas para fazer o que o João já fez. Hoje não foi mais do que um jogo que o Frederico ganhou. É preciso ver que ainda temos de trabalhar muito e melhorar muita coisa, essa é que é a verdade. Eu não fico devastado com derrotas como a da semana passada, mas também não fico deslumbrado com vitórias como a de hoje. É preciso ter os pés assentes na terra e saber o que é que temos de fazer para ir melhorando e conseguirmos ser cada vez mais competitivos. Não é por termos ganho ao João que eu não sinto que ainda nos falta muito para servir ao nível do João, por exemplo”, concluiu.