Duas sensações e duas favoritas nas primeiras finais do novo Circuito Sénior FPT

Beatriz Ruivo/FPT

LOULÉ — Uma viagem de carro esteve na origem da grande história do dia na Vale do Lobo Tennis Academy, a que Pedro Araújo regressou de improviso para selar um inesperado apuramento para a final do primeiro torneio do Circuito Sénior da Federação Portuguesa de Ténis.

O jovem lisboeta de 18 anos já tinha sido um dos tenistas em maior destaque nos primeiros dias do torneio, mas a eliminação na fase de grupos fê-lo regressar à capital do país para preparar a segunda etapa. No entanto, na manhã deste sábado Pedro Araújo recebeu, por telefone, a notícia de que Pedro Sousa (ressentido da rutura que sofreu no gémeo esquerdo há cerca de um mês) tinha deixado vago um lugar na meia-final, que lhe pertencia se conseguisse fazer, a tempo e horas, os cerca de 300km que separavam o Lisboa Racket Centre — onde se joga a segunda etapa — da Vale do Lobo Tennis Academy, em Loulé.

E assim foi: acompanhado pelo treinador Julian Contzen, o jovem prodígio do ténis português aqueceu, almoçou e depois fez-se à estrada para uma viagem que valeu o esforço extra: para além da experiência, conseguiu também um resultado (6-4 e 6-4 a Tiago Cação) que o colocou na grande final de domingo.

Destemido, Pedro Araújo respondeu bem a uma entrada determinada do adversário, que passou de “underdog” a favorito num curto espaço de tempo, e transformou uma desvantagem de 4-1 na vitória na primeira partida. À vontade quer na linha de fundo, quer nas várias investidas à rede que foi fazendo ao longo da tarde, o tenista da Escola de Ténis Jaime Caldeira também reagiu bem ao “contra-break” que sofreu quando já estava bem encaminhado para selar o triunfo e foi uma questão de minutos até carimbar a celebrada vitória.

“Foi um dia um bocadinho estranho. Eu estava a ir para o treino quando recebi uma chamada do juíz-árbitro, que me disse que o Pedro [Sousa] não ia poder jogar e que como eu tinha ficado em segundo lugar no grupo entrava para o lugar dele. Só tive tempo de aquecer, almoçar e vir para aqui a correr, mas correu tudo bem”, revelou na entrevista-rápida com a Sport TV.

Sobre o duelo propriamente dito, o jovem de 18 anos admitiu ter ficado surpreendido com a entrada do adversário, de 22: “Foi um início difícil. O Tiago começou muito bem taticamente e apanhou-me um bocado de surpresa, mas depois consegui encontrar o meu jogo, tentei ser agressivo e acabei por conseguir ganhar o primeiro ‘set’. No segundo estive em vantagem, com 4-2, fiz um mau jogo de serviço para levar o ‘contra-break’, mas nos momentos mais importantes consegui ser mais forte do que ele. Estou muito feliz por ter ganho.”

Na final de domingo, Pedro Araújo terá pela frente o único jogador que brilhou ainda mais do que ele ao longo dos últimos dias: Nuno Borges, que um dia depois de derrotar o grande favorito, João Sousa, deu mais um passo em frente ao superar, com igual categoria, Gastão Elias.

Tal como na véspera, também este sábado o jogador maiato deixou claras as razões que nos últimos anos fizeram dele um dos atletas mais temidos do prestigiado circuito universitário norte-americano — do qual se despediu como número 1 do “ranking” e vice-campeão do campeonato nacional. E no caso da meia-final esses argumentos resultaram num triunfo por 6-4 e 6-3 contra o compatriota, que não jogava três encontros numa semana desde julho de 2019.

“Tem sido um sonho tornado realidade. No início do torneio não achei que era capaz de ganhar a estes grandes jogadores, que são exemplos para toda a gente no ténis português. Desde pequeno que os vejo a serem bem sucedidos no court, sempre os vi num patamar muito acima e agora é incrível poder estar a competir com eles ‘taco a taco’ e as coisas correrem bem para mim”, revelou na flash interview a Sport TV.

Sobre o encontro deste sábado, Nuno Borges voltou a dizer que “tal como ontem, não sentia pressão nenhuma e vim para aproveitar e aprender. Correu muito bem, consegui servir e responder muito bem e com estas condições rapidíssimas esse acaba por ser o segredo do encontro. Senti que fui um bocadinho melhor do que ele nisso e depois foi jogar bem os pontos duros, e mais importantes, e correu muito bem. Estou muito feliz.”

A final entre Pedro Araújo e Nuno Borges acontece este domingo, precedida da decisão feminina (com início às 14h) que colocará frente a frente as principais candidatas ao título: Francisca Jorge (579.ª do “ranking” mundial feminino) e Inês Murta (645.ª).

Para a vimaranense, tricampeã nacional absoluta de singulares, a exibição deste sábado foi sinónimo da melhor prestação entre todas as que alinhou esta semana. E o resultado foi uma vitória por 6-2 e 6-3 contra Inês Oliveira, a jovem “qualifier” que surpreendeu várias favoritas — entre as quais Ana Filipa Santos e Matilde Jorge — nas rondas anteriores.

“Foi um bom jogo, principalmente de se ver. A Inês está a jogar muito bem, tem vindo a melhorar e aqui em piso rápido conseguiu dificultar-me mais a tarefa. Num momento ou outro acusei um bocadinho a pressão de querer finalizar os pontos, encolhi-me mais e nessas alturas ela tomou a iniciativa, mas nos momentos importantes acabei por conseguir lidar melhor com a pressão e no final fui superior”, referiu a jogadora portuguesa de 20 anos.

Questionada sobre se esta terá sido a melhor exibição que alinhou na Vale do Lobo Tennis Academy, Francisca Jorge não hesitou: “Houve momentos em que não me senti tão ‘fina’, mas ao longo deste torneio tenho vindo a subir o nível, a soltar-me mais em campo e a querer mostrar aquilo de que sou capaz e tenho de ficar contente por isso.”

Na outra meia-final, prevaleceu a algarvia Inês Murta, que a jogar perto da localidade de que é natural (Vila Real de Santo António) voltou a não dar margens a uma adversária e colocou um travão no percurso de Maria Inês Fonte (912.ª), com os parciais de 6-3 e 6-2.

“Joguei com uma melhor mentalidade, sobretudo porque não gostei da maneira como joguei ontem e o meu grande foco, independentemente do resultado, era jogar da forma que acentua melhor o meu jogo”, revelou a algarvia instantes depois de carimbar o terceiro triunfo da semana. “Houve certos momentos em que podia ter sido mais agressiva, mas no geral estou muito feliz com a maneira como joguei, sobretudo quando comparado com o encontro de ontem.”

Na véspera, Inês Murta tinha apontado a movimentação como uma das grandes qualidades da adversária e mesmo estando por cima durante todo o encontro confirmou esse ponto forte: “Sinto que a minha bola anda bastante, por isso se eu conseguir ser agressiva e determinada consigo criar danos mesmo que ela se movimente bem. Mas senti rapidamente que sempre que eu queria fazer uma variação, por exemplo com um ‘amortie’, ela era rápida a chegar às bolas e por vezes conseguiu surpreender-me.”

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