Apoio proposto pelos “Big Three” agrada aos portugueses — mas há arestas por limar

As medidas sugeridas por Novak DjokovicRoger FedererRafael Nadal aos jogadores do circuito internacional masculino foi bem recebida pelos tenistas portugueses que o Raquetc contactou, mas todos concordam com o que, aliás, o próprio sérvio já tinha dito: é preciso limar algumas arestas antes de fechar o plano de apoio aos que enfrentam maiores dificuldades financeiras devido à interrupção total causada pela pandemia do novo coronavírus.

Gastão Elias é um dos cinco portugueses entre o 250.º e o 700.º lugar do ranking — o grupo de jogadores apontado pelos “Big Three” como “prioritário” nesta operação de apoio — e aplaude a iniciativa. “É uma ótima ideia da parte dos jogadores e da ATP. Infelizmente só uma percentagem muito pequena dos tenistas do circuito é que ganha dinheiro com o ténis, o resto ganha o suficiente para se manter. Com tudo o que está a acontecer muitos não vão ter possibilidades de se sustentarem e torna-se um grande risco para as suas carreiras. Espero que a iniciativa vá para a frente e que consigam ajudar quem puderem.”

Atualmente no 532.º lugar do ranking, o jogador português de 29 anos está no Brasil a cumprir as restrições de isolamento social, mas “queria muito voltar para Portugal para passar algum tempo com a família”. E até referiu que se esse regresso coincidir com um conjunto de torneios criados para combater a ausência do ténis internacional teria interesse em jogá-los.

Tiago Cação (547.º) ainda não estava a par da sugestão feita pelos três maiores nomes do desporto mas ficou entusiasmado e à espera de mais novidades. Nuno Borges (599.º), que depois de uma entrada de rompante na nova época teve de parar devido a uma lesão no pulso, destacou que “[as dificuldades] dos jogadores entre os 200 e 700 já era um tópico bastante abordado antes desta fase e ainda bem que agora parecem mesmo querer fazer algo muito em breve.”

O jogador maiato de 23 anos considera “importantíssimo ajudar esses jogadores, não só porque me incluo nesse grupo mas porque sei o quão bom é preciso ser para se chegar aos 200-250 do mundo e mal ter recursos para continuar. Com o que se está a passar seria devastador se perdêssemos esses jogadores e sem dúvida que quem está no topo é que consegue fazer a diferença.” E deixa um alerta: “Sinto que as ajudas deviam ser a longo prazo e não só para esta fase mais complicada. Complicado já era para muitos, agora é impossível.”

Frederico Silva (193.º) quer esperar pelo anúncio oficial e alerta: “Ainda não foi dito de forma oficial quem são os jogadores que fazem as doações para o fundo e os que vão receber esse apoio e até isso se saber ao certo é precipitado tirar conclusões”, deixando para o futuro um comentário mais extenso.

Do grupo de jogadores que deverão ser apoiados na primeira fase também fazem parte Gonçalo Oliveira e Frederico Gil.

Número 278 de singulares e 78 de pares (está no melhor ranking da carreira e esta época já disputou três finais Challenger), o portuense destaca que “a iniciativa do Nole [alcunha deDjokovic) vai facilitar que os torneios do Grand Slam se juntem para ajudar o ténis de um ponto de vista global e não apenas pensando nas respetivas federações, que é o que se tem passado nos últimos anos”. E reconhece que “esta ajuda financeira pode ser um sinal antecipado de que não vamos ter mais ténis em 2020, o que é muito provável.”

De volta ao Algarve, o número cinco nacional em singulares e dois em pares conta que tem “boas condições para treinar e ao mesmo tempo estar isolado”, mas reconhece que sem competição à vista “a motivação não é igual”.

Gil também não hesita em elogiar as medidas propostas. O sintrense não compete desde outubro devido a uma lesão e, atualmente no 478.º posto do ranking, afirma que “os cerca de 10.000 dólares de que se fala parecem-me ser uma quantia bastante boa para um jogador suportar alguns gastos e a falta de rendimentos que tenham, mas também não sei porque é que só estão a considerar até ao 700.º. Entre os 700 e os 1000 também há muitos jogadores a investir que também deviam receber uma certa quantia, mas esta não é uma fase fácil para ninguém e se esta iniciativa for para a frente é de louvar e uma grande ajuda.”

Depois, há os que ficam de fora por estarem abaixo do grupo, os que ficam de fora por estarem numa posição superior, e até os que são chamados a ajudar.

João Monteiro também não estava a par da proposta quando foi contactado pelo Raquetc, mas depois de se informar descreveu-a, de uma forma geral, como uma “ótima medida”. Fez, no entanto, alguns apontamentos: para além de dizer que custará “muito mais” a um jogador como Alejandro Davidovich Fokina (97.º) doar cerca de 5.000 dólares ao fundo do que a Roger Federer contribuir com 30 mil, até porque os tenistas de topo “são os que têm patrocínios”, João Monteiro deixa o alerta em relação àqueles que, não estando atualmente entre os 250 e os 700 primeiros do ranking, já estiveram e precisam de apoio.

É o caso… Do próprio: “Eu, que há dois anos estava a 237.º, lesionei-me e agora estou a 937.º, sinal de que ainda preciso de mais ajuda porque não joguei no ano anterior”. Esta época já somava 16 vitórias e tinha escalado quase 1.000 lugares na tabela quando se lesionou no pé direito, mas já estava praticamente pronto para regressar ao court quando o circuito foi suspenso.

Quem também estava a viver um começo de ano extremamente positivo era Pedro Sousa, que em Buenos Aires chegou à primeira final da carreira no circuito ATP. A boa prestação nas últimas semanas do que se jogou em 2020 faz com que o atual número dois nacional e 110.º ATP consiga estar “mais ou menos tranquilo durante um par de meses, mas se isto se alargar por muito mais claro que vai ser muito mais complicado.”

O jogador que faz parte do Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis acrescentou que vão ser pensadas “soluções para todos”, mas reconhece que neste momento é preciso “dar prioridade a quem mais precisa e sem dúvida que quem está nesses rankings precisa mais do que os que estão entre 100 e 200, por isso temos de esperar”.

Depois há o caso de João Sousa, que pelos bons resultados dos últimos anos faz parte do grupo de jogadores que Djokovic, Federer e Nadal consideram que podem ajudar os restantes colegas de profissão. Ao jornal Record, o tenista vimaranense (66.º da tabela) disse estar disposto a ajudar.

“O Djokovic contactou-nos através do WhatsApp. É uma boa ideia. Da minha parte estou disponível para ajudar. Existem alguns critérios que têm de ser bem analisados. Há jogadores que estão dentro do lote de tenistas que eles querem ajudar que têm mais prize-money do que eu, mas é um passo numa boa direção”, contou o melhor tenista português de todos os tempos.

Atualizado às 11h05 de dia 20 de abril.

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