Não numa carpete feia mas na Vogue, ao seu estilo: Sharapova anuncia o fim da carreira

Depois de 28 anos dedicados ao ténis e de cinco vitórias em torneios do Grand Slam, Maria Sharapova anunciou esta quarta-feira o fim da carreira de tenista profissional. Quatro anos após garantir que nunca escolheria um “hotel com carpetes feias” para dizer o adeus definitivo, a russa foi fiel à promessa — e paixões — e escolheu a revista Vogue para fazer o anúncio.

“Como é que deixas para trás a única vida que conheces?” Foi com esta pergunta que a ex-número um do mundo lançou o exclusivo em que anuncia a despedida dos palcos que fizeram dela uma das desportistas (e personalidades) mais populares e ricas das últimas duas décadas e a viram protagonizar feitos históricos — como quando conseguiu, em Wimbledon e com apenas 17 anos, a primeira de muitas conquistas dentro do court — mas também o episódio negro que em 2016 lhe mudou a vidadepois de acusar positivo num controlo anti-doping devido à substância Meldonium.

Apelidada de “Musa da Sibéria”, tornou-se rapidamente num ícone do ténis mas também da indústria da moda. E assim ganhou seguidores por todo o mundo e construiu uma carreira única não só ao nível do ténis feminino mas de todo o desporto, assinando contratos publicitários e protagonizando campanhas que a tornaram numa verdadeira estrela muito para lá do mundo do ténis.

Tudo começou com uma das mais famosas travessias do Atlântico, quando em 1993 o pai, Yuri Sharapov, pegou na filha de seis anos e, sem falar a língua, partiu rumo à Academia da IMG na Flórida com menos de mil dólares no bolso para realizar o sonho. E tudo termina com Maria Sharapova bem estabelecida entre os maiores nomes da história da modalidade.

O anúncio surgiu de forma repentina mas foi tudo menos inesperado. Desde que regressou de uma suspensão de 15 meses que Sharapova não conseguiu apresentar nem os resultados nem a regularidade que fizeram dela uma das adversárias mais temidas do circuito. Ainda conquistou mais um título (o 36.º da carreira, em Tianjin), mas o início do fim estava à vista.

Com emoções, revelações inéditas e sem taboos. “Os primeiros courts em que joguei eram feitos de cimento e mal se viam as linhas. Com o tempo, tornaram-se em terra lamacenta e a relva mais bonita e melhor cuidada que os meus pés alguma vez pisaram. Mas nunca nos maiores sonhos achei que acabaria por vencer nos maiores palcos do desporto — e em todas as superfícies”, escreveu.

“O US Open ensinou-me a superar distrações e expetativas. Se não aguentas Nova Iorque, bem, o aeroporto fica quase ao lado. O Australian Open fez-me sentir o que nunca tinha sentido — a uma confiança que algumas pessoas descrevem como estar “in the zone“. Não o consigo explicar mas era uma sensação boa. E a terra batida de Roland Garros expôs todas as minhas fraquezas — começando pela minha incapacidade de deslizar nela — e obrigou-me a superá-las. Por duas vezes. E isso soube bem.”

“Estes courts revelam a minha verdadeira essência. Por trás das sessões fotográficas e dos vestidos bonitos, expuseram as minhas imperfeições. Testaram o meu carácter, a minha vontade, a a minha capacidade de canalizar as emoções cruas para que resultassem a meu favor e não contra. Entre as linhas dos courts senti-me segura com as minhas vulnerabilidades. Quão sortuda sou por ter encontrado algo em que me senti tão exposta e ao mesmo tempo confortável?”

Depois chegaram as vozes, os segundos pensamentos e os sinais de que o fim estava próximo. “Um desses momentos aconteceu em agosto, no último US Open. 30 minutos antes de entrar no court estava a preparar o meu ombro e entrar em campo pareceu uma pequena vitória, quando devia ser apenas o primeiro passo em direção a uma vitória. Revelo isto não para receber pena mas para explicar a minha nova realidade: o meu corpo tinha-se tornado numa distração.”

E depois de 28 anos dedicada ao desporto que tanto lhe deu Maria Sharapova diz-se “pronta para escalar outra montanha e ter sucesso noutras áreas. Mas entretanto há algumas coisas simples pelas quais estou mesmo ansiosa: uma sensação de calma junto da minha família, aproveitar uma chávena de café de manhã e escapadelas inesperadas ao fim de semana e exercício ao meu gosto.”

Última atualização às 14h58.

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