Sofia Kenin já tinha brilhado em Paris mas foi rapidamente ofuscada pelo brilhantismo jovial de Coco Gauff em Londres e Nova Iorque. Só que as capacidades e os resultados nunca desapareceram e agora, meros meses depois, não há um holofote que lhe escape: foi a primeira jogadora a chegar à grande final feminina do Australian Open e já tem garantida a estreia no top 10 do ranking WTA.
A campanha da jovem norte-americana de 21 anos já estava a ser brilhante e conheceu um novo patamar na madrugada desta quinta-feira, quando salvou dois set points em cada parcial para derrotar a grande favorita Ashleigh Barty por 7-6(6) e 7-5.
Nascida em Moscovo filha de pais russos, Kenin (que gosta de ser tratada por “Sonya”) é a primeira jogadora dos EUA que não as irmãs Williams a chegar à final do Australian Open desde Lindsay Davenport, em 2005.
No dia mais importante da ainda curta mas cada vez mais promissora carreira, a 14.ª cabeça de série revelou nervos de aço para fazer a festa numa Rod Laver Arena que torcia pela adversária — afinal, Barty é a maior esperança dos últimos anos para o ténis australiano e estava a apenas um passo de se tornar na primeira jogadora do país a chegar à grande decisão de singulares.
Tal como em Toronto, quando conseguiu finalmente colocar um travão na série de quatro desaires consecutivos para a atual número um do mundo, também esta quinta-feira Kenin convenceu. A norte-americana sobreviveu ao calor — foi o dia em que se registaram temperaturas mais altas (perto dos 40 graus) desde o arranque do torneio — e às primeiras investidas de Barty, que teve três pontos de break ao sexto jogo, para se manter no encontro e depois de começar o tie-break com o pé esquerdo alinhou quatro pontos consecutivos para se adiantar no marcador.
Também no segundo set foi a menos cotada das duas jogadoras a começar por sofrer dificuldades no serviço. Barty não se deu por vencida e logo ao terceiro jogo ganhou vantagem, mas quando já tudo parecia encaminhado para um terceiro parcial o impensável aconteceu: a jogadora da casa desperdiçou dois set points a 40-15, foi quebrada para 5-5 e não mais voltou ao encontro: Kenin segurou o serviço em branco e no jogo seguinte voltou à carga para, com um segundo break consecutivo, selar a vitória mais importante da carreira.
Se para Sofia Kenin tudo o que aí vem é terreno desconhecido o mesmo não se pode dizer da adversária que vai ter pela frente no encontro de atribuição do título.
Contra todas as expetativas, no primeiro torneio do Grand Slam desde 2014 em que não é cabeça de série Garbiñe Muguruza está novamente a praticar o ténis que fez dela número 1 do mundo e nas meias-finais levou a melhor no duelo entre campeãs de “Majors” com Simona Halep, graças aos parciais de 7-6(8) e 7-5 — curiosamente tão idênticos aos da meia-final que acabou horas antes.
Depois de uma pré-época em que voltou a unir esforços com a compatriota Conchita Martínez, Muguruza tinha os números do seu lado (liderava o frente a frente por 4-2 e por 3-0 em piso rápido) mas a romena era quem vinha a apresentar a forma mais impressionante entre todo o elenco do torneio.
Campeã de Roland Garros em 2016 e de Wimbledon em 2017, a tenista espanhola de 26 anos conseguiu superar a romena, de 28 e campeã de Roland Garros em 2018 e de Wimbledon em 2019, com um ténis ofensivo que a viu subir por 30 vezes à rede, e a ajudou a salvar 10 dos 13 pontos de break que enfrentou. Halep, por sua vez, livrou-se de 10 dos 14 que teve pela frente e ficou mais recuada, mas também criou dificuldades à número 32 mundial e só caiu num duelo que foi mesmo decidido nos mais ínfimos dos detalhes.
A final de sábado será a quarta de Garbiñe Muguruza em torneios do Grand Slam, ela que para além dos dois troféus de campeã conquistados tem ainda um outro de vice-campeã — foi em Wimbledon, no ano de 2015.
Marcada para as 19h30 de Melbourne, 08h30 em Portugal Continental, a final de sábado será o segundo encontro da história entre Sofia Kenin e Garbiñe Muguruza (a norte-americana venceu por 6-0, 2-6 e 6-2 na reta final de 2019, em Pequim).
E para além do título do óbvio troféu há mais em jogo: um cheque de cerca de 2,5 milhões de euros para a campeã (a jogadora derrotada “só” leva para casa 1,25 milhões de euros), no caso de vitória de Kenin a ultrapassagem a Serena Williams para se tornar número um dos Estados Unidos da América no ranking ou, caso seja Muguruza a triunfar, a subida ao 12.º lugar (se perder ficará no 16.º).