Há mar e mar, há ir e voltar: os regressos e as despedidas para 2020

Seis semanas depois tudo começa outra vez: a temporada de 2020 está aí à porta e promete ser animada, mas o novo ano vai começar com várias mudanças quer num, quer noutro circuito. Entre regressos emblemáticos de figuras de outrora e de tenistas que estão em fase final de recuperação de lesões a muitas despedidas, serão meses de celebração marcados por uma inevitável nostalgia.

Como disse Alexandre O’Neill, há mar e mar, há ir e voltar…

OS QUE FORAM/VÃO:

  • DAVID FERRER

Falar em ténis implica obrigatoriamente falar em David Ferrer. Ao fim de 19 anos no circuito profissional, o lendário tenista espanhol pendurou a raquete em casa, em Madrid, com uma derrota frente a Alexander Zverev na segunda ronda do Mutua Madrid Open.

Ao longo dos 19 anos em que competiu no circuito ATP, Ferrer realizou mais de 1000 encontros em singulares, detendo um recorde de 734 vitórias e 377 derrotas. No auge de uma carreira que o levou ao terceiro lugar do ranking em julho de 2013 estão as finais de Roland Garros em 2013 e do ATP Finals em 2007. Para além disso, foi por duas vezes semifinalista quer no Australian Open, quer no US Open.

Para a história ficaram 27 títulos de singulares e outras 25 finais perdidas, entre elas uma em Oeiras, na edição de 2013 do Portugal Open, às mãos de Stan Wawrinka.

  • TOMAS BERDYCH

Outrora número quatro do Mundo, em maio de 2015, o gigante checo de 1,96m retirou-se no final da temporada com uma cerimónia no Nitto ATP Finals. Aos 34 anos, os problemas físicos levaram a melhor sobre o atleta nascido em Valasske Mezirici. Na última temporada da carreira Berdych realizou apenas 22 encontros, tendo vencido 13 deles. Abandonou o circuito no 104.º lugar do ranking, com um registo de 640 vitórias e 342 derrotas em singulares ao longo da carreira.

Para a história ficam 13 títulos ATP conquistados, com destaque para o Masters 1000 de Paris em 2005, e 19 finais perdidas. De entre os desaires destacam-se três decisões de Masters 1000 (Miami’2010, Madrid’2012 e Monte Carlo’2015), uma final de Wimbledon (2010) e ainda um desaire para o argentino Carlos Berlocq na última edição do Portugal Open, em Oeiras, no ano de 2014.

  • CAROLINE WOZNIACKI

É um dos grandes nomes a abandonar a modalidade, mas tenhamos calma — ainda vai ser possível vê-la em ação no arranque da nova época. Caroline Wozniacki anunciou na reta final de 2019 a decisão de pousar as raquetes e dedicar-se a outras causas, bem como iniciar uma família com David Lee, ex-basquetebolista da NBA e marido da antiga número 1 mundial.

Numa espécie de “Farewell Tour“, Wozniacki ainda vai alinhar nos primeiros eventos da temporada (inclusive em pares ao lado de Serena Williams, em Auckland), estando a despedida marcada para o Australian Open, o palco onde conquistou o seu primeiro e único título do Grand Slam em 2018. Com 29 anos, a tenista natural de Odense conta para já com 30 títulos WTA num total de 55 finais disputadas na variante de singulares. Até à despedida, ainda há tempo para aumentar o palmarés…

  • DOMINIKA CIBULKOVA

Também no circuito feminino os problemas físicos levaram à retirada de uma das suas estrelas. Vítima de um problema recorrente no tendão de Aquiles, a eslovaca Dominika Cibulkova decidiu colocar um ponto final na carreira no passado mês de novembro.

A última aparição daquela que foi a primeira tenista da Eslováquia a chegar à final de um Grand Slam – em 2014, no Australian Open – foi em maio, na primeira ronda de Roland Garros, onde perdeu para Aryna Sabalenka. Retirada aos 30 anos, Cibulkova deixa um legado no qual se inclui o quarto lugar do ranking mundial em março de 2017, oito títulos WTA – nos quais se destaca a conquista das WTA Finals em 2016 – e 13 finais perdidas em singulares.

Entretanto, a vida fora dos courts parece estar a correr pelo melhor para a agora ex-tenista, que anunciou recentemente estar à espera do seu primeiro filho.

  • LEANDER PAES, BOB BRYAN E MIKE BRYAN

Também o circuito de pares vai ficar mais pobre esta temporada. 2020 será o último ano do indiano Leander Paes, de 46 anos, mas também dos lendários Bryan Brothers no circuito profissional.

Paes, que se tornou profissional em 1991, vai terminar a carreira com 47 anos de idade e com números bem recheados. O tenista nascido em Calcutá ocupou o primeiro lugar do ranking de pares e conta com 54 títulos da variante, num total de 97 finais disputadas. Venceu todos os torneios do Grand Slam, passou por todos os lugares e por todos os lugares conquistou — e com vários parceiros diferentes. No próximo dezembro tudo chega ao fim.

Os gémeos Bryan, atualmente com 41 anos de idade, vão também dizer adeus ao circuito após o US Open. Os norte-americanos ficam para a história como os dois melhores jogadores de sempre na vertente de pares, na qual conquistaram tudo o que havia para conquistar. Em carreiras com mais de 1000 vitórias, os dois combinam entre si 243 títulos (118 de Bob e 123 de Mike) e 362 finais (177 para Bob e 185 para Mike). Não são muitos aqueles que se podem gabar de ter ganho a esta dupla lendária.

  • NICOLÁS ALMAGRO, CARLOS BERLOCQ e CARLA SUÁREZ NAVARRO

Todos eles têm uma coisa em comum: passaram e encantaram em Portugal. Este naipe de campeões em solo português vai muito em breve deixar de estar presente no circuito. Nicolás Almagro e Carlos Berlocq já não voltam a pegar na raquete enquanto profissionais, enquanto Carla Suárez Navarro reservou o final da nova temporada para a despedida.

Almagro, cujo máximo de carreira em termos de ranking foi o 9.º lugar em 2011, não conseguiu ultrapassar os problemas físicos que o assombraram nos últimos anos e decidiu colocar um ponto final na carreira aos 34 anos. Ao fim de 16 anos no circuito, o espanhol despediu-se com 13 títulos ATP em 23 finais disputadas. A última conquista foi precisamente na terra batida do Clube de Ténis do Estoril, em 2016.

Carlos Berlocq, que em 2012 chegou a ser 37.º do Mundo, despediu-se do circuito aos 36 anos de idade. Especialista na terra batida, foi nessa superfície que o argentino conquistou os únicos dois troféus ATP da carreira, em Bastad (2013) e em Oeiras (2014) — a última edição do Portugal Open —, em que bateu o checo Tomas Berdych, que também se retirou em 2019.

Última, mas não menos importante: Carla Suárez Navarro vai abandonar a competição no final de 2020. Atualmente com 31 anos, aquela que é uma das melhores tenistas espanholas da última década decidiu perseguir novas áreas na vida e colocar as raquetes de lado. No entanto, falta ainda toda uma temporada para que o público se possa despedir devidamente da antiga número seis mundial, vencedora de dois títulos WTA em Doha (2016) e Oeiras (2014).

STEVE DARCIS
Idade: 35 (13 de março de 1984)
País: Bélgica
Máximo de carreira: 38.º (22 de maio de 2017)
Títulos de Singulares: 2 ATP, 10 Challengers, 9 Futures
Títulos de Pares: 3 Challengers, 3 Futures

MARCOS BAGHDATIS
Idade: 34 (17 de junho de 1985)
País: Chipre
Máximo de carreira: 8.º (21 de agosto de 2006)
Títulos de Singulares: 4 ATP, 11 Challengers, 4 Futures
Títulos de Pares: 1 ATP

DANIEL BRANDS
Idade: 32 (17 de julho de 1987)
País: Alemanha
Máximo de carreira: 51.º (19 de agosto de 2013)
Títulos de Singulares: 7 Challengers, 6 Futures
Títulos de Pares: 3 Challengers

VICTOR ESTRELLA BURGOS
Idade: 39 (2 de agosto de 1980)
País: República Dominicana
Máximo de carreira: 43.º (13 de julho de 2015)
Títulos de Singulares: 3 ATP, 7 Challengers, 14 Futures
Títulos de Pares: 4 Challengers, 5 Futures

ANDREAS HAIDER-MAURER
Idade: 32 (22 de março de 1987)
País: Áustria
Máximo de carreira: 47.º (20 de abril de 2015)
Títulos de Singulares: 9 Challengers, 9 Futures
Títulos de Pares: 4 Futures

MARCIN MATKOWSKI
Idade: 38 (15 de janeiro de 1981)
País: Polónia
Máximo de carreira: 7.º em pares (9 de julho de 2012)
Títulos de Singulares: 0
Títulos de Pares: 18 ATP, 12 Challengers, 3 Futures

HANS PODLIPNIK CASTILLO
Idade: 31 (9 de janeiro de 1988)
País: Chile
Máximo de carreira: 43.º em pares (12 de fevereiro de 2018)
Títulos de Singulares: 23 Futures
Títulos de Pares: 1 ATP, 20 Challengers, 29 Futures

MICHAL PRZYSIEZNY
Idade: 35 (16 de fevereiro de 1984)
País: Polónia
Máximo de carreira: 57.º (27 de janeiro de 2014)
Títulos de Singulares: 8 Challengers, 10 Futures
Títulos de Pares: 1 ATP, 1 Challenger, 2 Futures

DANIEL MUÑOZ DE LA NAVA
Idade: 37 (29 de janeiro de 1982)
País: Espanha
Máximo de carreira: 68.º (29 de fevereiro de 2016)
Títulos de Singulares: 0
Títulos de Pares: 0

TIM SMYCZEK
Idade: 31 (30 de dezembro de 1987)
País: Estados Unidos
Máximo de carreira: 68.º (6 de abril de 2015)
Títulos de Singulares: 7 Challengers, 1 Future
Títulos de Pares: 2 Challengers, 2 Futures

JANKO TIPSAREVIC
Idade: 35 (22 de junho de 1984)
País: Sérvia
Máximo de carreira: 8.º (2 de abril de 2012)
Títulos de Singulares: 4 ATP 250, 15 Challengers, 3 Futures
Títulos de Pares: 1 ATP 250, 4 Challengers

MANDY MINELLA
Idade: 34 (22 de novembro de 1985)
País: Luxemburgo
Máximo de carreira: 66.ª (17 de setembro de 2012)
Títulos de Singulares: 1 WTA 125, 16 ITF
Títulos de Pares: 2 WTA, 3 WTA 125, 10 ITF

RAQUEL ATAWO
Idade: 37 (8 de dezembro de 1982)
País: Estados Unidos
Máximo de carreira: 10.ª em pares (2 de março de 2015)
Títulos de Singulares: 2 ITF
Títulos de Pares: 18 WTA, 18 ITF

JULIA BOSERUP
Idade: 28 (9 de setembro de 1991)
País: Estados Unidos
Máximo de carreira: 80.ª (26 de junho de 2017)
Títulos de Singulares: 3 ITF
Títulos de Pares: 1 ITF

ANNA-LENA GRÖNEFELD
Idade: 34 (4 de junho de 1985)
País: Alemanha
Máximo de carreira: 14.ª em singulares (17 de abril de 2006) e 7.ª em pares (6 de março de 2006)
Títulos de Singulares: 1 WTA, 12 ITF
Títulos de Pares: 17 WTA, 1 WTA 125, 6 ITF, 2 Grand Slams [pares mistos]

MARIANA DUQUE MARIÑO
Idade: 30 (12 de agosto de 1989)
País: Colômbia
Máximo de carreira: 66.ª (12 de outubro de 2015)
Títulos de Singulares: 1 WTA, 19 ITF
Títulos de Pares: 1 WTA, 1 WTA 125, 14 ITF

JULIA GLUSHKO
Idade: 29 (1 de janeiro de 1990)
País: Israel
Máximo de carreira: 79.ª (23 de junho de 2014)
Títulos de Singulares: 11 ITF
Títulos de Pares: 14 ITF

MARÍA IRIGOYEN
Idade: 32 (24 de junho de 1987)
País: Argentina
Máximo de carreira: 47.ª em pares (13 de junho de 2016)
Títulos de Singulares: 17 ITF
Títulos de Pares: 2 WTA, 60 ITF

EMMA LAINE
Idade: 33 (26 de março de 1986)
País: Finlândia
Máximo de carreira: 50.ª (7 de agosto de 2006)
Títulos de Singulares: 11 ITF
Títulos de Pares: 44 ITF

MARÍA JOSÉ MARTÍNEZ SÁNCHEZ
Idade: 37 (12 de agosto de 1982)
País: Espanha
Máximo de carreira: 19.ª em singulares (10 de maio de 2010) e 4.ª em pares (5 de julho de 2010)
Títulos de Singulares: 5 WTA, 12 ITF
Títulos de Pares: 21 WTA, 22 ITF

AN-SOPHIE MESTACH
Idade: 25 (7 de março de 1994)
País: Bélgica
Máximo de carreira: 98.ª (14 de setembro de 2015)
Títulos de Singulares: 6 ITF
Títulos de Pares: 2 WTA, 8 ITF

ARANTXA PARRA SANTONJA
Idade: 37 (9 de novembro de 1982)
País: Espanha
Máximo de carreira: 22.ª em pares (2 de abril de 2012)
Títulos de Singulares: 11 ITF
Títulos de Pares: 11 WTA, 9 ITF

LUCIE SAFAROVA
Idade: 32 (4 de fevereiro de 1987)
País: República Checa
Máximo de carreira: 5.ª em singulares (14 de setembro de 2015) e 1.ª em pares (21 de agosto de 2017)
Títulos de Singulares: 7 WTA, 7 ITF
Títulos de Pares: 15 WTA [5 Grand Slams], 1 ITF

BARBORA STEFKOVA
Idade: 24 (4 de abril de 1995)
País: República Checa
Máximo de carreira: 100.ª em pares (14 de janeiro de 2019)
Títulos de Singulares: 9 ITF
Títulos de Pares: 12 ITF

OS QUE VOLTAM:

  • KIM CLIJSTERS

Talvez nunca passasse pela ideia de um adepto voltar a ver Kim Clijsters pisar um court mas… Vai acontecer.

Depois de uma primeira retirada em 2007, aos 23 anos, Clijsters regressou ao circuito em 2009, já depois de ter dado à luz a sua primeira filha. Voltou a retirar-se em 2012, com mais dois títulos do US Open — tem três no total — e um do Australian Open no bolso.

Sete anos depois, no passado mês de setembro, a belga lançou a “bomba” de que estaria a preparar-se para uma terceira carreira no circuito profissional. O Australian Open estava nos planos, mas uma lesão na preparação vai atrasar o regresso da antiga número um do Mundo. Reservem o mês de março para o regresso da tenista de 36 anos, no Monterrey Open.

  • JUAN MARTÍN DEL POTRO

Se a batalha entre Juan Martín Del Potro e as lesões fosse colocada dentro de um court, provavelmente nesta altura estaríamos dentro de um longo quinto set debaixo do calor do verão australiano. Entre pulso, joelho e sabe Deus mais o quê, o argentino vai subsistindo. A paixão pelo jogo é maior do que a dor e Delpo continua a não desistir.

Em 2020, a Torre de Tandil está de volta depois de ter fraturado a rótula pela segunda vez.

  • SANIA MIRZA

A indiana Sania Mirza foi ausência do circuito durante as temporadas de 2018 e 2019. Depois de problemas físicos no joelho que foram adiando o início da temporada de 2018 e da gravidez que surgiu em abril do mesmo ano, aquela que é uma das melhores jogadoras de pares da última década está agora pronta para regressar.

Em 2018, Mirza afirmou que esperava regressar ao ténis profissional muito a tempo de disputar os Jogos Olímpicos de 2020. Agora, ao fim de dois anos longe dos holofotes, a vencedora de três títulos do Grand Slam anunciou o regresso no ASB Classic, em Auckland, na preparação para o primeiro Major do ano, em Melbourne.

Total
0
Shares
Total
0
Share