Roger Federer foi o trunfo secreto da épica vitória sobre Dan Evans no sábado; hoje, a preparação foi feita com Fernando Verdasco. O duelo ibérico com Rafael Nadal no mais famoso court de ténis do mundo começa às 13 horas.
Miguel Seabra, em Wimbledon
Depois de um banho de gelo logo a seguir à maratona de cinco sets no sábado à noite, João Sousa passou ontem um dia relaxado em Londres – indo desde a zona de Chelsea, onde está hospedado, para o All England Club ao fim da manhã e treinando entre as 15 e as 16 horas com o esquerdino britânico Matthew Summers. Foi um treino ligeiro, tendo em conta o desgaste da véspera, mas já a pensar no duelo de hoje com Rafael Nadal – o facto de o sparring-partner ser canhoto foi fundamental. Nesse âmbito, Roger Federer foi ainda mais relevante na preparação para o duelo da terceira ronda com Dan Evans.
É verdade. Roger Federer foi uma espécie de trunfo secreto para esse tão relevante compromisso. E em mais do que um aspecto. Frederico Marques revelou-me que a escolha de tão prestigiado parceiro para o treino efetuado na parte da manhã de sábado foi duplamente importante, não só por “o jogo do Roger se assemelhar ao do Evans, mas também porque o facto de ser com o Federer fez com que a cabeça do João se focasse mais no treino, no parceiro de treino e no momento, não tanto no que poderia acontecer mais tarde no encontro”. Ou seja, o vimaranense esteve bem focado na sessão de preparação e não perdeu energias desnecessárias a pensar no duelo de mais tarde diante de um opositor que o próprio Roger Federer recentemente definiu como um “espelho” de si próprio: tal como o campeoníssimo suíço, também Dan Evans usa muito a combinação entre acelerações de direita topspinadas e desacelerações de esquerda em slice.
Após o treino de ontem com o esquerdino britânico em Aorangi Park, o “espelho” escolhido para a manhã de hoje foi Fernando Verdasco (que defronta esta tarde David Goffin no segundo encontro do Court 3). É espanhol e é canhoto – talvez o que mais próximo de Rafael Nadal que se pode encontrar no circuito, embora o maiorquino tenha especificidades únicas no seu estilo de jogo. Sem esquecer todas as valências físicas e psicológicas.
O FACTOR ROIG
Outra nuance técnica interessante a rodear o encontro tem a ver com a presença de Francis Roig no staff de Rafael Nadal. O antigo ‘campeão das ilhas portuguesas’ (é o que lhe digo quando o encontro, brincando com o facto de ter ganho um Challenger na Madeira em 1988 e um Challenger nos Açores em 1990) sempre foi uma espécie de treinador secundário do maiorquino – viajando antes quando Toni Nadal não acompanhava o sobrinho em determinados torneios e fazendo o mesmo agora quando não está presente Carlos Moya, coincidindo com o treinador principal nos eventos do Grand Slam. E no primeiro dia da edição deste ano em Wimbledon, quando o encontrei a fumar um cigarrito perto da zona de imprensa, lá recordámos os primeiros tempos de João Sousa na academia BTT em Barcelona da qual Francis Roig é responsável. Ou seja, Francis Roig conhece muito bem o número um português há praticamente 15 anos…
Claro que Rafael Nadal partirá como híper-favorito para o embate dos oitavos-de-final que hoje abre a programação do vetusto Centre Court. João Sousa vai ter de se transcender. De qualquer das formas, será um duelo ibérico que ficará para a história do ténis português.