Um ano depois, a história repete-se: Rafael Nadal, o mestre, e Dominic Thiem, o aprendiz, vão medir forças na final masculina de Roland Garros, o segundo torneio do Grand Slam da temporada.
Mais de 24 horas depois do espanhol ter voltado aos triunfos frente ao arquirrival Roger Federer, o austríaco concluiu uma meia-final deixada em suspenso por uma decisão muito polémica: 6-2, 3-6, 7-5, 5-7 e 7-5 foram os parciais de uma segunda vitória sobre Novak Djokovic na terra batida de Paris, cada vez mais vista como uma terra que lhe está prometida.
Depois de uma “primeira parte” que o deixou com uma curta mas preciosa vantagem, o número quatro do mundo precisou de lutar, sofrer e voltar a lutar para sobreviver ao encontro contra um dos que ele próprio considerou “três melhores tenistas da história da modalidade”.
Surpreendido pela suspensão na jornada anterior — estava prestes a servir depois de ter feito o break para o 3-1 no terceiro set quando Djokovic se apressou a pegar no saco e abandonar o court ainda antes do árbitro de cadeira anunciar a interrupção do duelo —, Dominic Thiem sabia que a mínima distração lhe podia custar caro e apesar de não ter sofrido de imediato o contra-break não demorou até que o tenista sérvio fizesse a pressão necessária para recuperar terreno.
Muito mais focado do que no dia anterior, em que revelou demasiadas dificuldades em lidar com as condições ventosas (tal como já tinha acontecido com Roger Federer na primeira meia-final), Novak Djokovic soube forçar o adversário a lutar por todos os pontos e, mais do que isso, a ter de procurar o winner para conseguir passar por ele.
A estratégia revelou-se adequada para o número um do mundo, mas uma nova falha de concentração custou-lhe a derrota na terceira partida quando parecia encaminhado para mais uma das suas reviravoltas. Thiem voltou a ter tempo para bater as pancadas no fundo do campo e continuou a explorar as variações de profundidade para chamar o sérvio à rede, zona do campo onde se mostrou menos à vontade do que o habitual (terminou com apenas 35 de 71 pontos ganhos, equivalente a 49%).
Frustrado, novamente sem conseguir conter as emoções, Djokovic descarregou no árbitro de cadeira — “Sabes o que é ser um jogador de ténis? Muito bem, meu, muito bem, conseguiste tornar-te famoso”, apontou-lhe no final do terceiro set, insatisfeito com a violação de tempo que levou segundos antes. Mas entrou bem e foi o primeiro a quebrar o serviço no quarto set. Seguira-se outras duas quebras de serviço e mais à frente Djokovic voltaria a deixar-se ultrapassar, precisando de aplicar pressão extra ao 11.º jogo para aí sim, ganhar a vantagem que logo a seguir lhe permitiria igualar o marcador.
Como se o drama até aí verificado não bastasse, a chuva regressou logo após Thiem fazer o break (para o 3-1) que parecia ditar o fim do encontro e levou a uma interrupção superior a uma hora — interrupção essa que, tal como a anterior, deu oportunidade a Djokovic de se “reagrupar”, realinhar a estratégia e ter uma nova possibilidade de lutar pela vitória. Assim foi, e o sérvio não só alinhou essa desvantagem como a que enfrentou ao 5-3, quando o austríaco dispôs dos dois primeiros match points do encontro.
Mas os esforços não foram suficientes e uma vez superados os primeiros nervos Dominic Thiem voltou a concentrar-se, a respirar fundo e a forçar o serviço do sérvio para, mesmo respondendo três metros atrás da linha de fundo, aplicar a pressão necessária para chegar ao terceiro match point e, aí sim, consumar a vitória. A terceira do frente a frente (agora 6-3 a favor de Novak Djokovic), a segunda em Roland Garros e a primeira de um jogador frente ao sérvio em meias-finais de torneios do Grand Slam desde o US Open de 2014, quando Kei Nishikori o fez.
O reafirmar do Rei ou a passagem de testemunho?
E assim, pelo segundo ano consecutivo, a final de Roland Garros vai opor Rafael Nadal, considerado por todos como o melhor jogador da história sobre o pó de tijolo, e Dominic Thiem, o tenista da nova geração que mais atributos reúne na mesma superfície logo a seguir ao espanhol.
Se se vai tratar do reafirmar do “rei da terra batida” — por 11 vezes campeão neste mesmo torneio — ou da passagem de testemunho que a dada altura se tornará inevitável, só o tempo o dirá. Eis o que se sabe: Nadal nunca perdeu uma final em Roland Garros e lidera o frente a frente com Thiem por 8-4 — em terra batida o registo é ligeiramente mais curto (7-4) —, enquanto o austríaco ganhou o último encontro disputado na superfície, por 6-4 e 6-4 nas meias-finais de Barcelona já este ano.
A estes junta-se um outro número: 25, o número de horas extra que Rafael Nadal terá para descansar antes da final.
Última atualização às 15h27.