Para Federer, longevidade e recordes misturam-se como uma viagem no tempo

Fotografia: ATP Tour

PARIS, França — Quando, em maio de 1999, Roger Federer disputou o primeiro quadro principal da carreira em torneios do Grand Slam, também fazia parte do torneio o melhor tenista norueguês de sempre, Christian Ruud.

Mas os dois nunca se defrontaram — nem em 2001, quando estavam em rota de colisão na segunda ronda e o norueguês desistiu no duelo de estreia, lesionado — e o tempo passou. Terminou carreiras, deu outras a florescer e o leque de protagonistas alterou-se por completo. Ou quase.

Vinte anos depois, Roger Federer é o único desses 128 jogadores que ainda participa em Roland Garros — um torneio que já não disputava desde 2015. E esta sexta-feira quis o destino, ou a sorte, que se encontrasse finalmente com um membro da família Ruud: Casper, o filho, que aos 20 anos parece mais do que encaminhado para não só igualar como superar os feitos do pai (que chegou a número 39 do mundo e aos oitavos de final do Australian Open em 1997).

Não sendo, naturalmente, imortal, o tenista suíço é, aos 37 anos, uma referência de longevidade não só no ténis como em todo o mundo do desporto e um encontro como este, frente a um tenista que nasceu no ano em que esteve no quadro pela primeira vez, só o reforça.

Mas a longevidade por si só não faria de Roger Federer o maior nome da história da modalidade. A forma como continua a apresentar-se, porém, sim, e tal como nas duas rondas anteriores também nesta espalhou pela terra batida um ténis variado, afinado e melhorado — porque os tempos passam e para se manter a par precisa de lhe adicionar novas ferramentas de quando a quando, como a esquerda chapada com uma ligeira rotação do pulso que neste encontro lhe permitiu antecipar-se ainda mais na resposta ao serviço.

Casper Ruud é um dos tenistas mais promissores da nova geração (este ano até já foi vice-campeão do ATP 250 de Houston) e o jogo que apresentou não o deixou ficar mal na fotografia — muito pelo contrário. Teve, simplesmente, o azar de encontrar um Roger Federer empenhado em continuar a evoluir para uma melhor versão de si próprio a cada encontro que realiza.

O resultado é uma viagem no tempo com dois extremos, porque se por um lado continua a estabelecer novos recordes — esta sexta-feira tornou-se no primeiro tenista da história, homem ou mulher, a disputar 400 encontros de singulares em torneios do Grand Slam —, por outro desafia-se a cada dia a entrar no court com uma nova solução, como se de um adolescente na escola se tratasse.

Talvez o segredo seja mesmo esse: o desejo permanente de se aproximar da inalcançável perfeição.

E assim nem o nome do adversário, nem as memórias da última exibição no Court Suzanne-Lenglen (onde em 2015, na última aparição no torneio, cedeu perante o compatriota Stan Wawrinka nos quartos de final) se revelaram fantasmas. Em duas horas e 13 minutos, e com os parciais de 6-3, 6-1 e 7-6(8), Roger Federer carimbou o regresso aos oitavos de final.

Segue-se Nicolas Mahut ou Leonardo Mayer.

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