#GraciasFerru — o adeus a um dos melhores entre os comuns mortais

6240 dias depois de ter somado a primeira vitória em quadros principais de singulares ao mais alto nível, na terra batida do Clube de Ténis do Jamor, David Ferrer colocou um ponto final na carreira. É o adeus a um guerreiro, a uma figura incontornável do ténis espanhol e a um dos melhores de sempre, mesmo se num palmarés com um revestimento de bronze ficou a faltar algum ouro.

tour de despedida já tinha sido anunciada há muito e por isso sabia-se que seria em Madrid que o tenista espanhol colocaria um ponto final na carreira. Restava saber em que ronda e se ainda superou o compatriota Roberto Bautista Agut no encontro de estreia, já não resistiu a Alexander Zverev.

Foi o 1.111.º encontro de singulares de uma carreira recheada de garra, triunfos e alegrias, mas também desilusões e acima de tudo o constatar de uma realidade incontornável: David Ferrer foi um gigante entre os comuns mortais porque fez parte de uma geração de ouro que viu Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray explodirem e fazerem história atrás de história.

Mas David Ferrer nunca se queixou — muito pelo contrário. “Se não fossem os Big Four eu não teria sido número três do mundo porque não teria evoluído tanto. Vi o Roger, o Rafa e depois surgiram o Novak e o Andy e tentei sempre fazer o que eles faziam bem de acordo com o meu estilo. Isso ajudou-me muito.” E é por isso que é uma das grandes figuras da modalidade e a sua despedida causou um impacto tão grande em tantos jogadores.

Mais do que pelo ténis, David Ferrer marcou os que o acompanharam pela sua personalidade. Pela crença. Pelo espírito de sacrifício. Pela bola por que lutava quando já todos o davam por vencido. Porque levantou a cabeça e nunca deixou de ir à luta.

Os números falam por si:

David Ferrer chegou ao terceiro lugar do ranking ATP em 2013, conquistou 27 títulos em 52 finais no circuito ATP (um dos quais no ATP Masters 1000 de Paris) e 734 vitórias (termina como o 12.º jogador com maior número de triunfos) e fez parte da equipa espanhola que ganhou a Taça Davis em três ocasiões (2008, 2009, 2011).

Nunca uma só vitória fará justiça ao historial de David Ferrer com a camisola da seleção espanhola, mas na impossibilidade de recordar todas deixamos aqui os instantes finais da última delas — obtida com os parciais de 7-6(1), 3-6, 7-6(4), 4-6 e 7-5 ao fim de 4h51, e perante uma praça de touros de Sevilha totalmente cheia —, que valeu à Espanha a passagem às meias-finais em 2018.

David Ferrer foi, também, um dos jogadores mais consistentes numa geração de ouro: terminou sete temporadas como jogador do top 10 mundial (2007, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015), passou mais de 13 anos sem sair do top 50 mundial (de 7 de fevereiro de 2005 a 22 de julho de 2018) e disputou 50 quadros principais de singulares consecutivos em torneios do Grand Slam — ao todo, participou em 63.

Mas como o próprio disse no final do último encontro como tenista profissional, perante um Court Manolo Santana completamente lotado, “tenho os meus troféus em casa mas não passam disso, são uma coisa material. O que realmente levo comigo é o carinho que demonstraram ter por mim. Isso ficará sempre no meu coração.”

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