Frances Tiafoe: “Há 10 anos disse aos meus pais que ia mudar a vida deles”

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Fotografia: Tennis Australia

Frances Tiafoe não podia estar a viver uma semana mais feliz. No dia em que celebra o 21.º aniversário, o norte-americano somou a quarta vitória consecutiva para se apurar pela primeira vez para os quartos de final de um torneio do Grand Slam — o Australian Open — e marcar encontro com um dos melhores jogadores de sempre.

Por todas estas razões, os jornalistas encontraram na sala de imprensa um “Big Foe” radiante mas também emocionado, sobretudo quando se tratou de recordar onde tudo começou. Porque se depois de vitórias como a deste domingo dorme em quartos de hotéis de cinco estrelas, nem sempre foi assim. Muito pelo contrário — e é isso que lhe permite manter os pés bem assentes na terra.

Os pais, Alphina e Frances Sr., nasceram na Serra Leoa e mudaram-se para os Estados Unidos da América em 1996 depois de ganharem a “lotaria dos vistos verdes” daquele ano. E foi aí que tudo começou, mesmo se na altura nada o dava a entender.

Com a família a atravessar dificuldades financeiras, Frances Sr. juntou-se a uma equipa de construção que em 1999 trabalhava no Junior Tennis Champions Centre, nos arredores de Washington DC, e a dedicação que colocou no trabalho do dia a dia levou-o a ser promovido a responsável pela manutenção do complexo. Frances e Franklin Tiafoe — irmãos gémeos — tinham apenas um ano mas depressa se habituaram a acompanhar o pai. E porque a mãe, enfermeira, vivia num apartamento de família e trabalhava várias vezes à noite, as longas tardes passadas no complexo de ténis transformaram-se em noites, madrugadas, enfim, em dormidas durante três, quatro, cinco dias consecutivos.

Frances Tiafoe
Fotografia: Tennis Australia

E o resto é história. Ao passearem entre os campos, verem e ouvirem a ação própria de um clube de ténis, os dois irmãos começaram a “ganhar-lhe o gosto” e a quererem experimentar. A cada abertura na programação lá iam eles dar as primeiras ‘raquetadas’. “A minha primeira memória é de quando o meu pai segurou na minha mão e na do meu irmão enquanto batíamos bolas contra um quadro preto”, recordou à BBC no verão de 2018. “Depois fomos ficando mais velhos, fazíamos o mesmo na escola e sempre que havia um court livre saltávamos lá para dentro.”

Mas Frances Tiafoe só se transformou no jogador e na pessoa que é hoje depois de visitar o país que viu os seus pais nascerem. “Houve uma altura em que refilei com os meus pais porque estava a ser gozado pelas roupas que vestia e então perguntei-lhes porque é que usávamos sempre roupas sem marca e ténis com buracos. Então o meu pai decidiu que a minha mãe nos ia levar a um casamento na Serra Leoa e isso fez-me ter uma perspetiva completamente diferente — havia muita pobreza e percebi que não éramos ricos nem vivíamos a melhor vida mas ainda assim tínhamos sido abençoados. Tínhamos comida na mesa todas as noites, pais que nos amavam, uma televisão e todos os acessórios de que precisávamos. Tornei-me na criança mais feliz do mundo.”

E foi por isso que entretanto fez uma promessa. “Há 10 anos disse aos meus pais que ia tornar-me tenista profissional e mudar a vida delesNo início da minha carreira joguei por eles e tentei fazer tudo pela minha família. Em março de 2017 comprei uma casa para a minha mãe em Maryland e o meu pai vive num apartamento em Orlando. Foi muito importante conseguir colocar-nos em situações melhores.”

Agora, está nos quartos de final de um torneio do Grand Slam e já chamou a atenção do seu grande ídolo, LeBron James. “Não foi como se ele tivesse feito uma publicação sobre mim ou assim, mas a ESPN publicou um vídeo com a minha celebração lado a lado com a dele e ele deixou um pequeno comentário com alguns emojis. Isso quer dizer que agora sabe quem eu sou, é de loucos.”

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Antes de passar por Grigor Dimitrov, Frances Tiafoe já tinha derrotado Prajnesh Gunneswaran, Kevin Anderson (6.º ATP) e Andreas Seppi | Fotografia: Mark Peterson/Corleve

Os olhos de Frances Tiafoe brilham quando fala do seu ídolo e o lado de “miúdo” que ainda é vem ao de cima, mas dentro do court já se comporta como um verdadeiro adulto — algo que deu a conhecer ao público português na última edição do Millennium Estoril Open, que terminou como finalista. Um dos segredos é a confiança, o outro o trabalho árduo. “No início do ano disse ao meu treinador e ao meu agente que este ano ia rebentar. Não há razão para não conseguir fazer estas coisas mas não pensei que fosse acontecer no imediato, isto é inacreditável.”

E agora? Agora vem aí Rafael Nadal, um adversário que deixa Frances Tiafoe super entusiasmado. “Vou divertir-me e vai ser uma honra jogar na Rod Laver Arena, sobretudo depois de o ter ficado a conhecer um pouco melhor na Laver Cup e ao saber que ele vai estar a ver o jogo. Vou jogar contra um dos melhores jogadores de sempre por isso tenho de me divertir.”

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