Enquanto dormia #1: um semifinalista caiu, australianas brilharam e celebrou-se demasiado cedo

Não se pode dizer que tenha sido uma primeira madrugada propriamente agitada em Melbourne, mas na jornada inaugural de um torneio do Grand Slam encontram-se sempre vencedores curiosos, momentos peculiares e até alguma poesia. Se acabou de acordar, não tinha café suficiente ou está a caminho do trabalho ou da escola, este resumo é para si.

A primeira grande surpresa do dia aconteceu pelas mãos da jovem britânica Katie Boulter, que surpreendeu a ex-semifinalista e top 10 mundial Ekaterina Makarova: 6-0, 4-6 e 10-6 foram os parciais da vitória, a primeira da história com um super tie-break a resolver os sets decisivos no Australian Open.

Ora, essa foi precisamente a razão pela qual o que aconteceu no encontro entre Boulter e Makarova se tornou rapidamente viral: habituada ao tie-break tradicional, a jogadora britânica festejou a vitória ao fazer o 7-4 quando na verdade ainda lhe faltavam três pontos. Um momento insólito, que a deixou até algo embaraçada, para ver ou rever aqui.

De resto, as quatro grandes favoritas a entrarem em ação nas primeiras horas da jornada não estiveram nem sequer perto de escorregar: Maria Sharapova não cedeu um único jogoAngelique Kerber (campeã em 2016) derrotou Polona Hercog por 6-2 e 6-2, Sloane Stephens somou a sua primeira vitória em cinco anos em Melbourne Park (6-4 e 6-2 perante a compatriota Taylor Townsend) e Aryna Sabalenka derrotou facilmente Anna Kalinskaya por 6-1 e 6-4.

A grande surpresa da primeira metade da jornada foi a eliminação de Julia Goerges. Vinda do título em Auckland, a 14.ª cabeça de série serviu para fechar o encontro frente a Danielle Collins a 6-2 e 6-5, mas a vantagem não foi suficiente e ao fim de 2h25 a norte-americana conseguiu mesmo dar a volta, fechando a vitória com os parciais de 2-6, 7-6(5) e 6-4. Jelena Ostapenko (22.ª favorita e campeã de Roland Garros em 2017) também ficou para trás, mas tendo em conta o momento da letã e a adversária não se pode dizer que tenha sido uma enorme surpresa: a muito talentosa Maria Sakkari venceu por 6-1, 3-6 e 6-2.

No quadro masculino os maiores nomes sofreram um pouco mais para seguirem em frente — e houve até quem ficasse pelo caminho. Rafael Nadal venceu em três sets, sim, mas não foram fáceis e no final ainda houve tempo para deixar um “recado” à Associação dos Tenistas Profissionais por falta de apoio.

O número cinco mundial e recém finalista de dois torneios do Grand Slam, Kevin Anderson, precisou de quatro parciais para superar o francês Adrian Mannarino (6-3, 5-7, 6-2 e 6-1), situação semelhante àquela que Grigor Dimitrov viveu contra Janko Tipsarevic (4-6, 6-3, 6-1 e 6-4).

O grande derrotado do dia foi John Isner, que perdeu um duelo de gigantes para o compatriota Reilly Opelka, número 97 mundial, depois de quatro tie-breaks: 7-6(4), 7-6(6), 6-7(4) e 7-6(5) foram os parciais favoráveis ao menos cotado dos dois, que assim assinou a primeira eliminação de um jogador do top 10 mundial nesta edição do Australian Open.

Para trás ficou, também, Kyle Edmund. O britânico tinha surpreendido ao chegar às meias-finais em 2018 mas a forma e o quadro de 2019 fizeram antever desde o início muitas dificuldades que na prática se confirmaram — e de que maneira: o regressado Tomas Berdych (que esteve seis meses ausente dos courts) venceu por claros 6-3, 6-0 e 7-5 e, mais do que isso, alinhou uma exibição que deixa muito bons sinais.

Houve também, claro, a já reportada derrota de Pedro Sousa naquela que foi a sua estreia em quadros principais de torneios do Grand Slam. O lisboeta exibiu-se a um bom nível, sobretudo tendo em conta que esta está longe de ser a sua superfície preferida, mas mesmo cansado Alex de Minaur foi superior e deu uma alegria muito grande aos adeptos da casa.

Alegria essa partilhada por Astra Sharma, Kimberly Birrell e Zoe Hives, jovens jogadoras da casa que somaram as primeiras vitórias da carreira em quadros principais de torneios do Grand Slam: vinda da fase de qualificação, Sharma (que aos 23 anos é a 230.ª do ranking) aproveitou o bom sorteio para passar pela compatriota Priscilla Hon (uma das wild cards) por 7-5, 4-6 e 6-1. Já Birrel (249.ª) e Hives (211.ª) aproveitaram da melhor forma os convites que lhes foram entregues pela organização, ao derrotarem, respetivamente, Paula Badosa Gibert (do qualifying, por 6-4 e 6-2) e Betthanie Mattek-Sands (6-1 e 6-2).

Entretanto…

– À hora a que este artigo foi publicado (8h00), Andy Murray fazia o primeiro serviço daquele que pode ser o último encontro da carreira (defronta Roberto Bautista Agut, recém campeão em Doha). A Melbourne Arena aplaudiu-o de pé à entrada em campo, o público espalhado pelo recinto e um pouco por todo o mundo está a torcer por ele. Na verdade, o mundo do ténis assim está — pelo menos, a desejar que as dores não o atormentem como até aqui e que possa cumprir o seu novo objetivo: aguentar até Wimbledon para lá colocar um ponto final a uma bonita e histórica carreira.

– As sessões noturnas também estarão a começar. Esta segunda-feira, a Rod Laver Arena é preenchida pelos campeões em título Caroline Wozniacki e Roger Federer. A dinamarquesa defronta Alison van Uytvanck, o suíço mede forças com Denis Istomin. A ordem de jogos completa pode ser consultada aqui.

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