C’est Fini

Lille final da Taça Davis
Fotografia: Paul Zimmer

Há um par de horas, esta mesma bancada de onde agora escrevo estava cheia. Completamente cheia. Era uma das várias de onde 25.000 adeptos assistiam ao último ato de uma tragédia americana com sotaque espanhol: a morte da Taça Davis consumou-se este domingo.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Lille

Foi lenta, dolorosa e ao mesmo tempo previsível. Se faz sentido? Talvez não, mas no fundo nada neste processo faz.

Ironicamente, a dita morte foi sendo preparada pelos escolhas e acontecimentos verificados ao longo da semana. A dividir o relvado amovível do Stade Pierre Mauroy da terra batida instalada esteve, sempre, uma longa e pesada cortina negra que com os seus mais de 80 metros de largura e 30 de altura ganhou a minha atenção logo nos primeiros instantes.

Sou suspeito, confesso, e talvez até um pouco masoquista. Eu, que num pequeno ato de loucura viajei até Lille para ver a morte porque queria ter em mim as imagens da última festa da Taça Davis.  

No fundo, o romântico que há em mim passou a semana a imaginar que aquela enorme cortina cairia, assumindo tratar-se do fim. Não aconteceu, claro, mas a metáfora é mais do que suficiente. Quando o último ponto terminou a cortina lá ficou, reiterando que dali a Taça Davis não passava e que tudo o que estivesse do outro lado seria novo.

Para que não restem dúvidas, 120 minutos depois da final se ter concluído já pouco resta do lado de cá. Painéis publicitários, ecrãs gigantes, camarotes – até as linhas do court! –, nada. Já foi quase tudo retirado, porque há vida para além da morte e daqui a um par de dias o estádio volta à sua função natural.

Quanto à Taça Davis, com o tempo virão as mudanças e, sejamos sinceros, experimentar é sempre bom – até porque era inegável que a atual competição estava a precisar de um abanão, sendo as discussões mais em torno do dito cujo do que se se devia ou não reagir. Tradições novas podem surgir, hábitos e razões de alegria serem criados, mas para já não me atrevo a espreitar o que há do outro lado.

Não, ainda é cedo. Tenho os cânticos de adeptos franceses e croatas na cabeça, os arrepios na pele e a história nas palavras. Ainda é cedo.

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