Quando forem coroados os novos campeões do mundo, a maior competição anual e internacional por equipas fechará o seu terceiro capítulo. Para uns, é a morte de um formato recheado de transição e momentos dourados que ao longo do fim de semana tem sido reforçado — ainda que não de forma intencional — pelo enorme pano preto que divide o Stade Pierre-Mauroy ao meio. Para outros, a tão aguardada oportunidade de reformular uma Taça Davis que, de uma forma ou de outra, gritava por mudanças. David Haggerty, o Presidente da Federação Internacional de Ténis, é um deles e diz que a crença no novo formato o ajuda a fintar as críticas e dormir descansado todas as noites.
Por Gaspar Ribeiro Lança, em Lille
A uma hora do arranque daquele que poderia ter sido o dia decisivo, o responsável máximo pela entidade que rege o ténis mundial reuniu-se com um pequeno grupo de jornalistas — no qual Portugal até esteve em maioria — para debater as mudanças que vão ganhar forma no futuro (mais tarde foi apupado como nunca ao subir ao court para entregar o Prémio de Excelência a François Jauffret, o francês com mais eliminatórias disputadas na Taça Davis).
Não apenas em 2019, ano de estreia das Davis Cup Finals no calendário, como nos seguintes, porque esse foi um dos aspetos mais abordados por David Haggerty: “Tivemos uma reunião muito produtiva em Londres [durante o Nitto ATP Finals] em que abordámos vários desafios ao detalhe e também tivemos discussões muito produtivas sobre a possibilidade de colaborarmos de forma a chegarmos a um único evento em detrimento de dois. Não se trata de uma coisa que vá aconteça no imediato mas sim no futuro porque a ITF, a ATP e os restantes interessados vão precisar de tempo para desenvolver ideias e planos, mas é nesse sentido que estamos a trabalhar e vamos voltar a reunir-nos em janeiro.”
“Há o sentimento comum de que queremos fazer o que é melhor para o ténis e se o fizermos todos teremos de ceder um pouco e pensar no bem maior. Foi sobre isso que assentaram as nossas conversas e como otimista por natureza que sou estou muito otimista de que os órgãos do ténis vão conseguir trabalhar em conjunto para chegar a um único evento”, completou o norte-americano de 61 anos.
Até porque com o surgimento da ATP Cup o agora desejado casamento entre ITF e ATP pode muito bem ser a única salvação da Taça Davis. Verificando-se compromissos de parte a parte, a Federação Internacional de Ténis pode sonhar com a correção daquela que, para já, é uma das maiores causas de insatisfação em torno do seu evento: a data em que acontece.
Uma união entre a ITF e a ATP poderá significar a cedência das semanas até aqui a cargo da primeira entidade (isto é, aquelas em que até 2018 se disputaram oitavos, quartos e meias-finais do Grupo Mundial) para que ajustes no calendário possam ser feitos “de forma a que as Davis Cup Finals passem a poder estar integradas no calendário, o que seria muito melhor para os jogadores. Esse foi o principal aspeto que eles abordaram na nossa reunião e é importante que não tomemos uma decisão apenas por nossa iniciativa mas sim em conjunto.”
Se quanto à união daquelas que são duas das principais entidades do ténis ainda não há certezas, o desaparecimento de um formato que ao longo de várias décadas criou tradição no desporto é garantido. O mundo do ténis está, por isso, dividido e não faltam críticas à tomada de decisão da Federação Internacional de Ténis — em muitos casos apontadas diretamente a David Haggerty. Mas a “enorme crença nas reformas que eram necessárias” faz com que não tenha problemas em adormecer. “Esta era uma das promessas da minha candidatura e não estava sozinho, os outros candidatos também afirmavam que a Taça Davis estava a precisar de mudanças.”
“O facto da nossa Assembleia Geral ter apoiado a proposta com mais de 71% dos votos foi uma tomada de posição muito forte, por isso e porque acreditamos verdadeiramente que o que estamos a fazer é o passo certo seguimos em frente e acordamos com mais vontade de trabalhar”. De tal forma que a Taça Davis não será a única competição a ser alterada. Apesar de ainda não estar totalmente definida, é ideia da ITF transformar a Fed Cup numa competição similar a partir de 2020. “Estamos a pensar fazer a primeira ronda no sistema com o sistema dentro e fora de casa e depois organizar as finais ao longo de uma semana, o que significaria expandirmos o grupo para um mínimo de 16 equipas e depois 8 ou 12 numa final.
– Falar de jogadores ainda o faz hesitar: questionado sobre se jogadores de topo como Roger Federer e Novak Djokovic lhe deram, entretanto, garantias, David Haggerty começou por fintar a questão prometendo que “já houve um grupo de jogadores de topo a dizer que vão competir na ronda de qualificação e que se se qualificarem e voltarem a ser selecionados estarão disponíveis. Também sabemos, através dos capitães, que alguns dos jogadores das equipas que já estão nas finais já se comprometeram. As pessoas parecem querer saber se este jogador vai jogar isto ou aquilo mas não é uma discussão para a qual eles queiram ser arrastados. Ainda não tive a oportunidade de falar com o Roger pessoalmente mas já falámos com a equipa dele. Não tenho a certeza de que ele estará disponível mas espero que sim porque seria ótimo para o torneio. O Novak esteve na nossa reunião, tivemos discussões sobre isso mas ainda não tomou uma decisão.”
– O desejo americanizado de querer ter “all eyes on us“: a ideia de David Haggerty & companhia é simples. As Davis Cup Finals têm de ser “o verdadeiro campeonato do mundo do ténis” a que milhões e milhões de pessoas assistem. Ao reunirmos 18 equipas numa só localização e semana vamos ter fãs de todos esses países em Madrid. Por muito boa que esta final entre França e Croácia seja, esses são os países que a estão a seguir mais e sabem que está a ser jogada, enquanto muitas outras nações não estão tão por dentro. Esta é a oportunidade de elevarmos a competição ao verdadeiro termo de campeonato do mundo que o mundo todo está a acompanhar, seja ao vivo, através da televisão, streaming ou outros formatos.