Depois de muitos rumores, o momento finalmente chegou: a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) deu esta quinta-feira a conhecer, em Londres, a ATP Cup, a competição anual por equipas que se apresenta como a grande ameaça às novas Davis Cup Finals. É o confirmar de tempos de indecisão e conflitos de interesse num desporto feito de tradição que num piscar de olhos passa a contar com três competições por equipa separadas por apenas três meses.
O anúncio de hoje confirma o que já vinha a ser adiantado, a espaços, pelos responsáveis pelo circuito masculino: a World Team Cup — competição que nasceu na Jamaica em 1975 e se disputou em Dusseldorf, na Alemanha, entre 1978 e 2012 — está de volta. Agora com outro nome, outro formato, outra data e, acima de tudo, outra vontade.
Em parceria com a Tennis Australia, a ATP quer atrair os melhores jogadores do planeta e garantir espetáculo ao mais alto nível logo na primeira semana do ano.
O objetivo é claro: “dominar o mundo”, um possível eufemismo ao combate ao novo e tão criticado formato do Grupo Mundial da Taça Davis, que a Federação Internacional de Ténis (ITF) vai estrear entre 18 e 24 de novembro de 2019, em Madrid — sensivelmente um mês e meio antes de arrancar a nova ATP Cup, que acontecerá entre 3 (sexta-feira) e 12 (domingo) de janeiro de 2020 em três cidades australianas ainda por anunciar.
O formato
- 24 equipas
- 6 grupos de 4 equipas (máximo de 5 jogadores por equipa)
- Fase de grupos seguida de quartos de final, meias-finais e final
- Cada encontro será constituído por dois singulares e 1 par
- 750 pontos ATP para os vencedores
- 15 milhões de dólares em prémios monetários
As equipas qualificam-se com base no ranking do melhor jogador de singulares de cada país e, apesar de ser desejo da ATP contar com a presença dos melhores jogadores do mundo, este não será um evento obrigatório para os jogadores que cumpram os critérios de qualificação.
No fundo, são muito poucas as diferenças entre as Davis Cup Finals e a ATP Cup. O maior destaque recai na atribuição de pontos para o ranking, que, a par do posicionamento no calendário (a competição acontecerá numa altura em que todos os jogadores já estão naquela zona do globo, ao contrário da nova Taça Davis, que está marcada para uma semana que se estende para lá do fim da temporada), será o grande trunfo para atrair jogadores.
Numa altura em que o calendário do circuito masculino tem sido criticado e discutido devido à sua extensão (são quase 11 meses de competição, um cenário incomparável com a grande maioria dos desportos), o ténis masculino passa a contar com duas competições muito similares num período de tempo inferior a dois meses, sinal de uma época de indefinição, confusão e conflitos de interesse.
E a estas acrescenta-se ainda a Laver Cup, que tem reunido muito mais elogios do que críticas e parece ter como único problema a vontade do trio Gerard Piqué/Kosmos/David Haggerty fazer recuar as Davis Cup Finals até setembro, mês em que se realiza a competição-não-oficial de Roger Federer & companhia (um grupo do qual também faz parte Craig Tiley, diretor do Australian Open e CEO da Tennis Australia).
É difícil olhar para o calendário, o discurso de vários protagonistas (no fundo, os mais cobiçados pelas novas competições) e novas ideias e conceber a sobrevivência conjunta dos três eventos nos modos atuais — mas sobretudo das Davis Cup Finals e da ATP Cup, os torneios “oficiais” e que realmente se aproximam em termos de formato.
Nesse sentido, a “luta” parece estar a ser ganha pela recém-nascida ATP Cup: porque como explicou Chris Kermode, CEO e Presidente da ATP, “vai acontecer na primeira semana da época, que é quando os jogadores querem jogar e é por isso que tem o apoio deles”, atribui pontos ATP e foi pensada em parceria com a Tennis Australia, o que levará à “substituição de alguns torneios” que acontecem no início do ano.
Não terá, também, sido por acaso que presente na apresentação da ATP Cup esteve Novak Djokovic. Horas depois de ter afirmado em conferência de imprensa que “não vai ser bom para o ténis ter dois eventos muito semelhantes separados por apenas seis semanas porque vamos acabar com dois eventos medíocres”, o sérvio (que já se tinha distanciado das Davis Cup Finals pela “data muito má” e porque “entre as duas darei prioridade à competição ATP) deu a cara pelo novo torneio, seguido de Roger Federer.
Apesar de não ter estado presente (joga hoje um encontro decisivo para o seu futuro no Nitto ATP Finals), o suíço pronunciou-se a favor da ATP Cup num vídeo partilhado quase imediatamente pela ATP no Twitter, afirmando que “jogar numa equipa é muito divertido e acho que vai ser uma competição muito bem sucedida.”
Será preciso esperar para ver e analisar a forma como o mundo do ténis masculino reagirá e se adaptará aos próximos dois anos.