Miguel Gomes. A nova aposta do CAR divide o tempo entre os estudos e as raquetes

Ano novo, vida nova. Ou, neste caso, ano letivo novo, vida nova. Aos 15 anos, Miguel Gomes está a dar um passo de gigante: é a nova aposta do cada vez mais solidificado Centro de Alto Rendimento, o que significa mudanças de 180 graus numa carreira que ainda está a ser construída e, por isso, tem de ser gerida “com muito cuidado”.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Vale do Lobo

Lá fora, o Sol dá os primeiros sinais de se querer aventurar entre as núvens que ameaçam o torneio. Um tímido raio de calor é suficiente para agitar a maioria dos protagonistas, que desejosos de fazerem aquilo de que mais gostam enfrentam o dia — mesmo se as previsões indicam que daqui a uns minutos estarão de volta…

A esplanada outrora cheia está agora praticamente vazia. Mas há uma mesa onde nada se alterou.

Com 15 anos celebrados em abril, Miguel Gomes está a dar os primeiros passos na nova fase da sua vida. Continuará assim, calmo, concentrado, praticamente imperturbável, até que o relógio marque as 12 horas.

Enquanto alguns dos seus novos colegas estão a poucos metros, dentro do court, os outros “estão” logo ali, no computador. Está a estudar — ou melhor, a assistir a uma das aulas.

Miguel Gomes
Fotografia: Cirilo Vale

Com a entrada no Centro de Alto Rendimento que coincidiu com o arranque do novo ano letivo, Miguel Gomes começou a frequentar um novo sistema de ensino. “É exatamente como a escola. Tenho o meu horário, vou às aulas que posso e quando não posso acompanho estando online”, começou por revelar ao Raquetc numa das pausas durante o SBA Tennis Open.

Como é o caso. Competir em dois torneios internacionais no Algarve faz com que seja humanamente impossível marcar presença nas aulas destas duas semanas. “É um projeto bastante recente que amigos meus já tinham começado e como estavam a gostar eu decidi experimentar.”

As vantagens são evidentes. “Treino todos os dias com esta nova equipa. Ainda me estou a adaptar à escola e por isso só treino uma vez por dia e depois físico, mas quando a pré-época começar já vamos aumentar a carga.”

Hugo Anão, um dos treinadores que o acompanha na equipa do Centro de Alto Rendimento, concorda. “É uma boa opção, pode estar aqui numa semana de treinos e ficar para a semana seguinte mesmo se perde, como aqui perdeu. Na maior parte do dia está a ter as aulas e no resto do dia ou joga ou treina.”

O objetivo passa por, aos poucos e com cuidado porque Miguel Gomes ainda é novo, introduzir o muito jovem lisboeta num grupo de trabalho composto por colegas de treino significativamente mais velhos (Tiago Cação tem 20 anos, Francisco Cabral 21 anos e Pedro Sousa 30). “Aos poucos queremos integrá-lo. A base do nosso calendário são estes torneios, os Futures, portanto ele como todos os jogadores que integram o nosso projeto vai jogar estes torneios. Há de ir jogar pela seleção os torneios juniores sempre que for convocado, mas tudo mais doseado porque ele tem 15 anos e a escola para fazer. É o mais novo de todo o grupo de trabalho.”

A aposta do CAR acontece agora para ir de encontro aos regulamentos, mas Miguel Gomes já estava referenciado por todo o potencial que apresenta. “É muito novo mas já parece mais velho”, começa por analisar Hugo Anão. “Considero-o um jogador agressivo, que tem um jogo bonito, tecnicamente com poucos aspetos para corrigir. Pelo que vi neste mês acho sinceramente que é um jogador que sabe fazer um bocadinho de tudo — ser agressivo, sólido do fundo do campo e jogar os vários momentos do jogo. Claro que ainda tem muito para aprender e não se pode pedir as mesmas coisas que a um Tiago Cação, por exemplo, que tem mais cinco anos de experiência, mas para os 15 anos que tem o Miguel já tem coisas muito interessantes que obviamente vão evoluir muito com a experiência que vai ter a partir de agora.”

Para já, o foco é mesmo esse, ganhar experiência. “Quero tentar jogar bem, não tanto pelos resultados mas para evoluir pequenas coisas que estou a trabalhar.” Por isso, revela, gosta de ver “todos os jogadores para tentar tirar coisas boas do que façam e que possam encaixar em mim, quer em termos de atitude, técnica ou tática e também para aprender com os erros deles e não os cometer no meu jogo”.

A terminar, e porque daqui a pouco é hora de ir para o court, Miguel Gomes não hesita eleger Roger Federer como o jogador favorito e “ganhar um torneio do Grand Slam” como o maior sonho, mas “chegar ao top 100 já significaria uma boa carreira e um sonho alcançado”.

Total
0
Shares
Total
0
Share