Martina Navratilova, a ex-número 1 mundial e detentora de 59 títulos do Grand Slam (18 em singulares, 31 em pares e 10 em pares mistos), escolheu o prestigiado The New York Times para dar voz aos seus pensamentos sobre o assunto do momento: a polémica entre Serena Williams e Carlos Ramos.
Num extenso artigo de opinião, a ex-tenista naturalizada norte-americana (nasceu e começou por jogar pela República Checa) que muito sofreu com a aceitação da sua orientação sexual durante a carreira diz que Serena Williams tem razão numa parte — “existem padrões diferentes para as mulheres no que diz respeito às punições por mau comportamento, e não apenas no ténis” — mas que “nos protestos com um árbitro durante a final do US Open também esteve errada.”
E explica porquê: “Não acho que seja uma boa ideia aplicar o pensamento de que “se os homens se podem escapar com isto, as mulheres também o devem poder fazer. Em vez disso, acho que a questão que devemos colocar é se esta é a forma certa de honrar o nosso desporto e respeitar os nossos adversários.”
À primeira reflexão, segue-se uma revisão apurada dos acontecimentos para contextualizar a sua opinião, dando razão ao árbitro português Carlos Ramos e criticando a atitude de Serena Williams; e ainda um sucinto recordar dos vários episódios por que a tenista norte-americana já passou em Flushing Meadows, desde as ameaças feitas a uma juíza de linha (em 2009) ou o abuso verbal a uma árbitra de cadeira (2011).
E Martina Navratilova prossegue: “Foi quando levou um ponto de penalização — e o árbitro não tinha, efetivamente, opção senão fazê-lo — que Serena Williams começou a perder o rumo. Toda a sua história no US Open, combinada, talvez, com o facto de se sentir sempre uma outsider no ténis (e eu sei exatamente como é sentir isso) explique de alguma forma porque é que a Serena reagiu como reagiu e, sobretudo, como ela simplesmente não o podia deixar passar. Mas o que ficou claro foi que ela claramente não pôde deixar passar.”
“Focarmo-nos na possibilidade da Serena Williams poder escapar ao chamar ao árbitro de ladrão se fosse um jogador masculino é passarmos ao lado da ideia. Se os rapazes são realmente tratados de forma diferente pelas mesmas transgressões, isto tem de ser rigorosamente examinado e corrigido, mas não nos podemos medir por aquilo a que achamos que também devíamos conseguir escapar. Este é o tipo de comportamento que ninguém devia ter dentro do court. Houve muitas vezes em que eu estava a jogar e quis partir a minha raquete em mil pedaços, mas depois pensei nas crianças que estavam a ver e agarrei-me relutantemente a ela.”