Billie Jean King foca-se na desigualdade e diz que “Carlos Ramos passou os limites”

Billie Jean King
Billie Jean King posa com Naomi Osaka e Serena Williams antes do início da final feminina do US Open.

Billie Jean King é uma das maiores campeãs da história do ténis e uma pioneira na defesa pela igualdade e justiça social. É, também, a fundadora da Women’s Tennis Association — a WTA, que existe desde 1973.

E foi um dos grandes nomes da modalidade a reagir ao episódio entre Serena Williams e Carlos Ramos. King fê-lo primeiro no Twitter e depois no Washington Post, num artigo de opinião em que defende a tenista norte-americana, a sua luta contra a desigualdade e o sexismo e critica o árbitro português.

Aquele que era suposto ser um momento memorável para o ténis transformou-se noutro exemplo de pessoas em posições de poder a abusarem desse mesmo poder. A causa e o efeito desta insatisfatória sequência de eventos são bastante claras”, começa por dizer a detentora de 39 Majors (12 em singulares, 16 em pares e 11 em pares mistos), que foi e continua a ser uma das maiores vozes do mundo do desporto a favor dos direitos das mulheres e da comunidade LGBT — “missão” que, em 2009, lhe valeu a atribuição da Medalha Presidencial da Liberdade pelo então Presidente Barack Obama.

Diz Billie Jean King que “a causa foi a aplicação inconsistente de uma regra que levou o árbitro de cadeira Carlos Ramos a dar um warning a Williams por indicações (coaching) vindas do seu camarote. Se o ténis se encontrasse com o século XXI e permitisse o coaching em todos os pontos, a situação nunca teria escalado para o nível absurdo para que escalou.

O efeito foi um abuso de poder: Carlos Ramos passou os limites. Fez de si parte do encontro, envolveu-se no resultado final. O trabalho de um árbitro é manter o controlo de um encontro e ele deixou que isso se perdesse. As regras são o que são, mas o árbitro pode ter discrição e Carlos Ramos escolheu dar a Serena Williams muito pouca margem de manobra num encontro em que havia muito em jogo. É verdade que Serena Williams também poderia ter assumido alguma responsabilidade e seguido em frente depois do primeiro aviso, antes de surgirem as penalizações de um ponto e de um jogo. Mas, para ela, e para muitas outras mulheres que já experienciaram abuso de poder nos seus locais de trabalho, havia mais em jogo.”

King continua: “Carlos Ramos tratou Serena Williams de uma forma diferente daquela que os homens têm sido tratados? Acho que sim. As mulheres são tratadas de forma diferente na maior parte da vida e isto é especialmente verdade se se tratarem de mulheres de cor. E o que aconteceu no court durante a final acontece demasiadas vezes. No desporto, nos escritórios e no serviço público. Em última análise, uma mulher foi penalizada por se defender a si própria e enfrentar o sexismo.”

No artigo de opinião, Billie Jean King diz ainda compreender os motivos pelos quais Serena Williams fez o que fez e esperar “que cada rapariga e mulher que estavam a ver a final percebam que devem sempre ‘levantar-se’ e defender aquilo que acreditam estar certo. Nada vai mudar se não o fizerem.”

E conclui dizendo que “o carácter verdadeiro [de Serena Williams] revelou-se depois do encontro, na cerimónia de entrega de troféus, quando ela mudou o foco para a Naomi Osaka. Não tinha de o fazer, mas fê-lo. Conheço-a — sei quem ela realmente é e ela sabia que era a coisa certa a fazer. A Serena é uma campeã. Já fez e continua a fazer o trabalho difícil. Esteve certa ao dizer o que pensava, ao dar uma voz à injustiça e em saber quando parar a controvérsia.”

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