Os estudos, o circuito profissional, a conciliação entre ambos e as decisões a tomar. Não esquecendo, claro, o regresso a Portugal e uma repetição (melhorada) do sucesso do ano anterior. Nuno Borges é um dos tenistas portugueses em maior destaque e numa longa conversa com o Raquetc falou de vários aspetos relacionados com a sua carreira.
Um ano depois do Open de São Domingos ter sido palco de uma relaxada entrevista, em 2018 foi a vez do Porto Open servir de ocasião. E, nem de propósito, é precisamente neste palco que o tenista da Maia marca presença nas meias-finais de um Future de 25.000 dólares pela primeira vez desde que se estreou a fazê-lo nesse torneio.
O “intervalo” entre os dois resultados é traiçoeiro para quem não estiver a par da carreira de Nuno Borges, que em 2016 começou a estudar na Mississippi State University, nos Estados Unidos da América, e por lá passa grande parte dos meses do ano. É, por isso, sobretudo no verão que tem oportunidade de jogar o circuito profissional – e quando o faz passa por quase toda a concorrência: nos quatro torneios que já jogou este verão, foi finalista de singulares e campeão de pares na Póvoa de Varzim, semifinalista de singulares e finalista de pares em Setúbal, finalista de singulares e campeão de pares em Castelo Branco e, para já, semifinalista de singulares e pares no Porto.
E mais de 12 meses depois Nuno Borges continua a ter a mesma opinião: os Estados Unidos da América continuam a ser o local ideal para conciliar o estudo com o ténis. E considera que “estando lá, continuo a evoluir e a crescer tanto física, como mentalmente e também em termos de maturidade. A cada ano que passa sinto-me melhor a jogar estes torneios e capaz de passar rondas e ganhar jogos.”
O dia a dia do tenista português nos EUA tem duas fases distintas: “O semestre de agosto a dezembro é mais focado nos torneios individuais e permite-me investir mais tempo a jogar torneios profissionais. Depois, de janeiro a maio, é tudo em equipa, a representar a universidade e quase todos os fins de semana, portanto não dá para conciliar com o circuito profissional.” Isso significa que a época tem focos distintos, mas Nuno Borges vê vantagens no sistema. “O facto de no segundo semestre termos jogos em todos os fins de semana, quer ganhe, quer perca, ajuda-me a construir muito a minha confiança para depois poder aplicar no verão tudo aquilo que trabalhei durante o ano. É uma preparação muito boa para chegar cá e saber exatamente o que estou e o que tenho de fazer.”
Até porque, como o próprio destaca, “não jogar torneios profissionais ou individuais não significa que não jogue encontros durante esse período. Estamos constantemente a representar e a jogar pela universidade – os encontros acontecem à sexta-feira e ao domingo e, às vezes, ao sábado – e a preparação é diária. “Normalmente estudo de manhã, treino à tarde e no final do dia tento ter tempo para mim.” Está tudo pensado e trabalhado para que os jogadores possam lutar pelo profissionalismo pelo que até a coordenação com as aulas é natural. Afinal, muitas vezes os jogos são “fora de casa” e isso obriga os jogadores a deslocações antecipadas.
Se em solo norte-americano já é um dos melhores do circuito (chegou pelo segundo ano consecutivo às meias-finais do Campeonato Nacional Universitário, tendo disposto de três match points para chegar à final), o objetivo principal continua a ser jogar o circuito profissional a tempo inteiro.
Por isso, e porque sempre que regressa aos torneios Future tem bons resultados, Nuno Borges tem decisões a tomar e muito em que pensar. “No próximo semestre estou a pensar jogar Futures e até tentar ter a oportunidade de jogar Challengers e continuar a ‘usar’ a confiança que ganhei aqui. Não quero relaxar, mas sim aproveitar este momento. É claro que há fases e não sabemos se agora jogo bem e se o vou continuar a fazer em setembro, ou se em outubro não me vou um pouco mais abaixo, mas há que aceitar isso e manter-me sempre a um nível alto e com boa confiança é o que estou a tentar fazer.”
Para já sem certezas de qual é a estratégia adequada – “há muitas pessoas que me dizem que já devia ter saído da universidade para começar a jogar a tempo inteiro” – o garantido é que “há muito trabalho a fazer no campo e no treino. Não é tudo no jogo e ao estar nos Estados Unidos consigo trabalhar as coisas que preciso e sei que tenho de trabalhar. Tenho pessoas que também sabem isso e que me apoiam e essa é uma das razões pelas quais estou a pensar voltar neste semestre e regressar para o ano ainda mais forte. Estar lá não significa que estou a perder o meu tempo, sei que estou a evoluir.”
Como “ingrediente” extra da equação há, ainda, todas as alterações já anunciadas pela Federação Internacional de Ténis (ITF) e a Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) para os próximos anos. “Ainda estou a assimilar tudo, há muita coisa que vai mudar e isto vai cortar muita gente. É um pouco chocante e acho que ainda ninguém tem bem a noção do que vai acontecer, mas é o sistema deles e acredito na pesquisa que fizeram e no que estão a planear, tenho de confiar.”
Nuno Borges diz que o novo sistema “ajuda muito é aqueles que vêm do circuito júnior e que estão no top 100, porque vão dar-lhes já umas entradas nos Futures e nos Challengers. Quem me dera a mim quando estava nessa fase que fosse assim. Se calhar com isto o meu plano muda, obviamente que jogar torneios de 25.000 dólares e Challengers interessa mais, porque neste momento, por exemplo, tenho 0 pontos, só tenho pontos de transição. Mas para já há que continuar a fazer o que estou a fazer e jogar estes torneios em Portugal.”
Que é como quem diz, concluir a prestação no Porto Open – este sábado joga as meias-finais de singulares – e, depois, despedir-se da terra batida e da competição nas Caldas da Rainha, o último torneio que vai disputar antes de “tirar uns dias para relaxar um bocadinho antes de voltar à universidade, porque também é preciso descansar um bocadinho.”