GUIMARÃES – Há uma rampa em particular que Francisca Jorge está habituada a subir desde sempre: a do Clube de Ténis de Guimarães. Há 11 anos que é esta a sua casa, aquela em que aprendeu a jogar e se apaixonou pelo ténis. No entanto, durante estes nove dias há nessa curta e já monótona subida algo diferente: à direita e no alto, logo à entrada, uma fotografia de grandes dimensões é o ponto central do cartaz do Hendo Guimarães Ladies Open.
Porque aos 18 anos já é a grande figura do torneio internacional feminino de 15.000 dólares que ainda agora começou e já deixou jogadoras e treinadores impressionados.
No acolhedor Clube de Ténis de Guimarães, que à imagem da cidade se apresenta com um cuidado especial, todos sabem o nome dela. É a “estrela”, que ali cresceu e entretanto começou a dar que falar pelo país fora — e cada vez mais, e cada vez mais, como comprovam os títulos de campeã nacional em sub 12, sub 14, sub 16, sub 18 e, no último ano, de campeã nacional absoluta.
Não é, por isso, de estranhar que a sua figura tenha sido escolhida para imagem da segunda edição do Hendo Guimarães Ladies Open, mas para a sempre humilde Francisca o que há a salientar é “o que sinto ao pensar que eles realmente acreditam que mereço estar no cartaz e representar o torneio. Isso faz-me sentir muito bem, é uma sensação espetacular.”
No meio de tanto sucesso e expetativas, pode ser fácil esquecê-lo, mas Francisca Jorge ainda só tem 18 anos. E por isso só agora se prepara para ser tenista profissional a tempo inteiro — até esta semana, completava os longos dias de treino (faz parte da equipa do Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis) e competição com os estudos, que culminaram na realização dos exames nacionais de Português, na terça-feira da semana passada, e Matemática, já esta segunda-feira. Foram eles que a trouxeram a Guimarães com mais de uma semana de antecedência para o início do torneio, foram eles que neste fim de semana de preparação a fizeram sentar-se à mesa, de livros abertos e lápis na mão, sempre que as raquetes não chamavam por si.
Terminar o 12.º ano — com excelência, diga-se — sempre fez parte do plano e por isso nunca foi sequer equacionada outra opção; tal como o que a isso se segue: “Agora vou congelar uma matrícula, porque se quero mesmo investir no ténis, e quero, não posso estar na escola ao mesmo tempo. Ainda não sei o que é que quero escolher, estou indecisa porque tem de ser um curso que em caso de frustração, de uma carreira que não corra tão bem ou mesmo de uma que corra, me dê prazer de fazer e seguir.”
Francisca Jorge é calculista na boa medida e ao mesmo tempo ambiciosa, e por isso pensa nas várias opções. Afinal, um Plano B só pode ser bom — veja-se o caso de Mihaela Buzarnescu, que durante um período de ausência dos courts devido a uma longa lesão completou um Doutoramento em Ciências do Desporto e agora está a brilhar como nunca.
Mas porque esta é a semana do Hendo Guimarães Ladies Open, foi do torneio que a número 707 do mundo mais falou com o Raquetc. E sobre a estreia, que está marcada para quarta-feira frente à compatriota Daniella Silva (na segunda-feira entrou com o pé direito em pares, ao eliminar as primeiras cabeças de série), diz querer “fazer melhor do que no ano passado e ir o mais longe possível”. Sabe que “vai estar tudo do meu lado” e que nenhum encontro é fácil, mas tem um brilho nos olhos enquanto fala daquele que é, verdadeiramente, o seu torneio.
Aos oito anos, jogou e ganhou uma medalha num torneio contra rapazes, história que conta com um sorriso de orelha a orelha enquanto revela que “esse prazer enorme que me deu ganhar aos rapazes e sentir que eles não gostavam de perder com as raparigas foi uma boa motivação para apostar em mais torneios”; agora, aos 18, joga no circuito profissional e quer ser uma das melhores. O Hendo Guimarães Ladies Open é “só” um de muitos passos a dar, mas é sem dúvida um muito especial.
